Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Milton Hatoum aprovou ‘Dois Irmãos’ na TV, mas não espera ficar rico

Autor de “Dois Irmãos”, livro que deu origem à bela minissérie encerrada pela Globo na semana passada, Milton Hatoum disse que gostou do que viu, mas não espera ganhar dinheiro graças à televisão. Ao TelePadi, contou que vendeu a obra à Globo por pouco (“que espécie de libanês sou eu? um péssimo comerciante”, brincou). Apesar do impulsionamento que a televisão deu à fama da história de Halim e Zana, pais dos gêmeos Yaqub e Omar, “Dois Irmãos”, de 2000, já vendeu mais de 170 mil exemplares, em razão de ser muito indicado para leitura nas escolas. E esse universo das listas escolares, aposta Hatoum, por se tratar de nicho de criação de leitores de fato, tem mais peso do que a massa diante da TV, uma plateia pouco afeita à leitura.

O escritor me fez esse diagnóstico depois de eu lhe narrar uma historinha: Contei-lhe que em 1994, durante a exibição de “Memorial de Maria Moura” pela Globo, em formato de minissérie, entrevistei Rachel de Queiroz por telefone e lhe perguntei se estava feliz com a adaptação de seu livro para a TV. Ela então me respondeu: “Não estou vendo. Jorge Amado me deu o seguinte conselho: ‘se tiver que vender algum livro para a TV, venda caro, peça uma fortuna, e não assista, para não se decepcionar’. Estou seguindo o conselho dele”, arrematou dona Rachel. Antes que eu emendasse minha pergunta a Hatoum, ele mesmo se adiantou: “Ih, mas eu fiz o contrário: vendi por pouco, assisti e gostei”, riu. “Rico eu já sei que não vou ficar mesmo.”

Convém lembrar que Jorge Amado, autor de “Gabriela”, “Capitães de Areia”, “Tereza Batista” e “Dona Flor e seus dois maridos”, entre outras obras adaptadas para a TV, entendia do assunto como nenhum outro escritor brasileiro.

O escritor Milton Hatoum, ao lado da atriz Eliane Giardini e do diretor Luiz Fernando Carvalho / Foto: Divulgação

O escritor Milton Hatoum, ao lado da atriz Eliane Giardini e do diretor Luiz Fernando Carvalho / Foto: Divulgação

Nossa conversa aconteceu na tarde desse domingo, 21, quase tão chuvoso quanto a Manaus de “Dois Irmãos”, nos bastidores da Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Na ocasião, ele autografou exemplares de uma longa fila de leitores, incluindo crianças, com edições diversas de “Dois Irmãos” e de outras obras suas. Na mesa ao lado, o fotógrafo Leandro Pagliaro, que assina os créditos de Fotografia da minissérie, autografou o livro “Fotografias” (ed. Bazar do Tempo), com imagens produzidas a partir do intenso processo de preparação do elenco para a série.

As sessões de autógrafos foram precedidas por uma boa conversa sobre todo o histórico de “Dois Irmãos”, desde a escrita do livro, com a presença de Hatoum e também do diretor da série, Luiz Fernando Carvalho, Maria Camargo, que transformou a história em script para a TV, e Eliane Giardini, a Zana da última fase, com mediação da jornalista Bianca Ramoneda. A ocasião serviu para o lançamento de mais um caderno Globo Universidade, projeto da divisão Globo Universidade, mantido pela emissora como forma de se aproximar do ensino acadêmico e com ele contribuir. O tema do caderno da vez foi o projeto “Assista a esse livro”, que enumera todas as adaptações da literatura feitas pela Globo e conta com entrevistas de Carvalho, Hatoum e Maria Camargo. Mas isso é tema para um outro post.

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Cristina Padiglione

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