Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Disseram que eu era a imagem do canal. Quando me demitem, estão demitindo a imagem do canal?’

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Faz algum tempo que José Trajano, sempre transparente em suas posições políticas, esperava que “algo de ruim pudesse acontecer” na ESPN, canal do qual é cofundador no Brasil e que o demitiu hoje, alegando “contenção de despesas”,

“Na verdade, eu já esperava durante algum tempo que alguma coisa de ruim pudesse acontecer, mas não tinha certeza. Algumas vezes eu fui chamado pra conversar sobre manifestação política, teve lá aquele entrevero com o Danilo Gentili (Trajano protestou contra a presença do humorista em programas do canal) e agora estava na paz, tudo calmo, eu estava de férias em Portugal, voltei segunda-feira”, disse ele, por telefone, na tarde desta sexta, ao TelePadi. “O que me deixa pasmo, chocado, é a alegação de que foi contenção de despesas. É claro que na hora em que o Geman (Von Hartenstein, diretor geral da ESPN no Brasil) me comunicou, me tratou bem, disse que respeita tudo o que eu fiz, mas não deixa de ser uma desconsideração, isso poderia ter sido mais negociado, com algum prazo, sei lá, até o fim do ano. Todo mundo tem um momento de sair, mas poderia ser feito de outra forma. Sou fundador, criador do canal. O que tem me confortado muito é a solidariedade, o número de pessoas que liga, telefona, gente que não conheço, gente que diz que foi fazer Jornalismo por minha causa, o texto do Menon (no UOL) é brilhante, o texto do Juca (Kfouri, seu parceiro na mesa esportiva mais respeitada da TV paga, o ‘Linha de Passe’). Então, isso conforta. Já teve muita choradeira, as meninas todas que começaram comigo e hoje são mães… Eu também criei uma família lá dentro. É como se tivesse morrido alguém, e na verdade morreu mesmo, que é um tipo de estilo. Estamos aqui com um monte de gente, com essa coisa do ‘Trajano é isso’, o ‘Trajando é fundador’, ‘o Trajano é influenciador’, e só me dei conta agora, há uns dez minutos (por volta de 16h30), que eu não sou mais um comentarista, calaram a minha voz.”

Digo que ele pode ter seu próprio canal, que não se cale, que a pluralidade é bem-vinda, e ele concorda que logo há de ver um novo caminho a seguir.

No mês passado, Trajano conta que se recusou a assinar um ofício ditado da sede da Disney, grupo que engloba a ESPN, diretamente dos Estados Unidos, que pedia a isenção de comentários políticos aos seus contratados, e não só na TV. “Pedia para que os ‘talents’, agora tudo lá é em inglês, não se manifestassem, inclusive fora do canal, onde eu estivesse. Alegaram que eu era a imagem do canal. Aí eu te pergunto: na hora que me demitem, estão demitindo a imagem do canal?”

Procurada pelo TelePadi, a direção da ESPN não quis se manifestar.

Abaixo, um trecho do texto do Blog do Menon, no UOL, que tanto comoveu Trajano:

“(…) A ESPN, ao abrir mão do Trajano, abre mão de uma série de telespectadores que aprenderam a ver na emissora um bastião contra as irregularidades do futebol brasileiro. É lógico que continuam pessoas de alto nível e que praticam o mesmo bom jornalismo, mas Trajano, sem dúvida é o símbolo do que Juca, Mauro Cezar e outros fazem. Foi ele que apostou em um jornalismo de alto nível, com Histórias do Esporte e o Brasil da Copa do Brasil. O Brasil, via futebol, na nossa sala. Nunca entendi a saída destes programas, além do Lúcio de Castro e o Loucos por Futebol.

Não sei o motivo da dispensa do Trajano. Dizem que ele criticou, no ar, a produção de um programa da casa, que levou Danilo Gentile ao canal. Se foi por isso, temos a tática do tiro no pé. Vamos matar um pernilongo com um tiro de canhão.

A ESPN, cada vez mais, é um canal que tem um programa só, com muitos cenários diferentes. BBBBBBB. Gente falando de futebol e só futebol. Futebol no campo. Só isso. Vou sentir muita saudade de Ze Trajano. O mundo de hoje está mais para outro Ze, Joseph. McCarthy.”

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Cristina Padiglione

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