Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Lembre alguns dos adoráveis tipos de Paulo José, que chega aos 80

80 anos completados hoje, Paulo José me habita a memória afetiva não só com seus adoráveis personagens e a voz de grandes locuções, mas com a entrevista que gentilmente me concedeu há dois anos, em sua casa, vizinha à Pedra da Gávea, no Rio, para o jornal "O Estado de S.Paulo". Na ocasião, ele me presenteou com um comovente texto seu sobre a luta contra o Parkinson, que enfrenta desde os 50 e poucos anos, assim encerrado: “O mais importante é que nunca deixei de ser bobo. Para citar nossa escritora (Clarice Lispector), ‘ser bobo é ter boa fé, não desconfiar e, portanto, estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem sabe que venceu. É quase impossível resistir ao excesso de amor que o bobo provoca… O bobo é capaz de excesso de amor e só o amor faz o bobo’.”
Em 'O Primeiro Amor, novela de 1972, de Walther Negrão, na Globo. Nascia ali o Shazan, personagem que daria origem ao seriado 'Shazan e Xerife', com Flávio Migliaccio. Juntos, os dois construíram a camicleta, mistura de caminhão com bicicleta.
Como Jarbas Martins, na terceira e última fase da bela novela "O Casarão", de Lauro César Muniz, exibida em 1976
Com Grande Otelo, protagonista do clássico 'Macunaíma', filme escrito e dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, baseado na obra homônima de Mário de Andrade: negro, Macunaíma verá sua pele clarear graças às águas de uma fonte, que transforma Otelo em Paulo José
Como Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, no filme brasileiro de 1998 dirigido por Paulo Thiago, baseado na obra 'Triste Fim de Policarpo Quaresma', de Lima Barreto, adaptado por Alcione Araújo. Sonhador, luta para transformar a língua oficial do Brasil no tupi-guarani, mas é visto como louco e acaba no hospício
Foi Gladstone em 'Tieta', novela de Aguinaldo Silva Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn , baseada na obra de Jorge Amado, exibida em 1989 e 90, que volta ao canal Viva em maio.
Na minissérie 'Madona de Cedro', que Walther Negrão adaptou da obra de Antonio Calado, foi o sacristão Pedro, rejeitado na cidade em função de sua deficiência física – uma corcunda. Obcecado por sexo, ele se relaciona com Lola Boba (Andrea Richa), uma espécie de mendiga que vaga pelas ruas da cidade com véu de noiva, atordoada por lembranças escondidas em sua mente e esperando um noivo imaginário
Aqui, na direção da bela minissérie 'Agosto', que Jorge Furtado e Giba Assis Brasil adaptaram do romance de Rubem Fonseca, em 1993. Paulo José assinou vários trabalhos como diretor, incluindo a primeira versão de 'O Tempo e o Vento' (minissérie de 1985), e as minisséries 'Incidente em Antares' (1994) e 'Memorial de Maria Moura' (1994). Quando adoeceu, ele vinha dirigindo o programa 'Você Decide'
Na minissérie 'Decadência', de Dias Gomes (1995), foi o Cego
Foi o Padre Simão na minissérie 'A Muralha', de Maria Adelaide Amaral, exibida no ano 2000
Na minissérie 'JK', também de Maria Adelaide Amaral, de 2006, na Globo, foi Augusto Elias, o adorável avô de Juscelino e Naná, e pai de Júlia. Homem simples e amante dos livros, era fã de Alexandre Dumas e foi, como leitor assíduo, uma grande inspiração para o neto, protagonista da história
Foi Jairo, cigano patriarca na novela 'Explode Coração', de 1996, de Glória Perez
Em 'Por Amor', de Manoel Carlos (1997), que o canal Viva reprisa novamente a partir de maio, era o alcoólatra Orestes. O papel, como disse, veio a calhar para os empecilhos físicos enfrentados pelo Parkinson, já que, como ele mesmo declarou, a falta de controle do movimento das mãos cabia bem a um bêbado.
Na novela 'Era Uma Vez...', de 1998, Walther Negrão trouxe de volta o lendário Shazan, sempre trajando sua bela jardineira
Foi Zaratustra na microssérie 'O Pequeno Alquimista' (2004), na Globo
Com Selton Mello no belo filme 'O Palhaço', de 2011, que lhe rendeu o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro
Com Marieta Severo no belo 'Quincas Berro d'Água' (2010), filme de Sérgio Machado, baseado na obra de Jorge Amado, em que Paulo José era o próprio Quincas
Na novela 'Em Família' (2014), de Manoel Carlos, deu voz a Benjamin, personagem que tinha como propósito abordar em cena as dificuldades e preconceitos sofridos pelos portadores de Parkinson
Com Dina Sfat (1939-1989), o grande amor, atriz que lhe deu três filhas (ele tem também um filho, da relação com Beth Caruso). Foi casado ainda com Zezé Polessa.
Cristina Padiglione

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