Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Para Marcos Palmeira, breaks comerciais da Globo contradizem ‘Velho Chico’

Ao comemorar as benfeitorias que “Velho Chico” fez pela conscientização de agricultores e público sobre os cuidados a serem tomados com a terra e o alimento que se consome, Marcos Palmeira não deixa de fazer a devida ressalva sobre os intervalos comerciais da mesma Globo, que enaltecem a agricultura e o alimento industrial. A questão foi parte do painel apresentado pela Globo durante a Rio Content Market, na semana passada, sobre as ações sociais da emissora, em favor de causas diversas. “A novela foi muito importante, apesar do que a gente apresentava no intervalo comercial, que era o contrário do que a novela mostrava”, falou o ator. “Mas intervalo comercial é pra vender”, rebateu Sérgio Valente, diretor de Comunicação da casa e mediador do painel.

Além de Palmeira, participaram do painel, Flávio Canto, Mônica Waldvogel e Cao Hamburger. Houve até quem questionasse como a Globo se posiciona diante desses dilemas e qual caminho apontar, quando forças opostas se apresentam lado a lado, entre um intervalo e outro. Como agradar a todos? A ideia, concluiu Valente, é mostrar sempre os dois lados da moeda e permitir que o público tire suas conclusões.

Palmeira falou sobre a Sintropia, sistema de recuperação do solo, mostrado em “Velho Chico”, que ele preferiria tratar como “agrofloresta”, palavra de maior domínio do público. “Mas fui voto vencido”, disse, durante a apresentação no RioContent. Foi mostrado o depoimento de um morador das cercanias do Rio São Francisco, cenário da novela, agradecendo pelo fato de a região ter sido tão bem retratada na tela da Globo e pelas lições aprendidas por meio dos personagens. Palmeira, que na história de Benedito Ruy Barbosa representava o capataz Ciço, funcionava como um consultor informal no set, em razão de sua estreita relação com a terra e o cultivo de alimentos. “Essa novela, por mim, tinha que durar dois anos”, falou o pequeno agricultor da região do São Francisco, pelo vídeo registrado. Vimos também a reprise de uma cena emblemática, em que Maria Tereza (Camila Pitanga) aperta uma manga, cheia de agrotóxico, e a espreme diante dos olhos do coronel Afrânio (Antonio Fagundes), seu pai: “O senhor teria coragem de comer uma fruta dessas?”, ela questiona. “Meu negócio é plantar, não é comer”, ele responde.

“A experiência com ‘Velho Chico’ foi muito boa”, reforçou Palmeira. “Minha expectativa era que a novela  transformasse o assunto em algo interessante para o público e isso aconteceu. Falar de agrofloresta na novela das 21h é muito importante e o apoio da Conservação Internacional foi um diferencial. A novela conseguiu um contato direto com o público”, concluiu.

Além da questão ambiental, o painel expôs trabalhos e consequências nas áreas do Ensino, por meio do programa “Educação, Mitos & Fatos”, comandado por Mônica Waldvogel na GloboNews, e da criança carente, quando o ex-judoca Flávio Canto falou de sua atuação no Criança Esperança e do Reação, projeto encabeçado por ele, que ganhou dimensões muito maiores após a sua exposição na TV.  Cao Hamburger comentou sobre a próxima temporada de “Malhação: Viva a Diferença”, uma sugestão sua à Globo. O enredo é protagonizado por cinco garotas, sendo três estudantes de escola pública e duas, de escola particular. “As protagonistas vão viver uma utopia de convívio entre classes sociais diferentes e de culturas distintas. Eu mesmo sou fruto disso, valorizo essa diversidade, espero que essa história também passe a beleza das diferenças convivendo junto”, disse o diretor e roteirista.

Filmes contra preconceito e diferença de gêneros também foram revisitados durante o painel no Hotel Windsor, palco do RioContent, com comentários de cada um. Waldvogel expôs exemplos de como a inércia pode acometer questões paralisadas por mitos, em questões que não vão adiante pela simples falta de crença de quem deveria ter iniciativas.

No fim das contas, é bastante razoável concluir que a Globo, longe de se assemelhar a uma Ong, claro, e sem perder de vista sua meta por grandes lucros, faz pelo social muito mais do que qualquer outro veículo de comunicação de massa. Na conta do bem, a Globo contabiliza mais de 1.200 cenas com temática social em novelas, só em 2016, abordando questões socioeducativas e ambientais, como foi o caso de “Velho Chico”. Para cada cena de transplante de medula ou de coração (assuntos que motivaram doações em anos passados), para cada professor bacana inserido numa ficção (como Dira Paes em “Velho Chico”), para cada fruta podre atirada em um vilão, a Globo tem buscado trazer a discussão à tona, o que não é nada desprezível.

“Audiência é importante, mas audiência sem relevância não come ninguém”, resumiu Valente.

 

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Cristina Padiglione

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