Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

SBT é denunciado ao Procon por publicidade no canal de Maísa Silva no YouTube, via novela infantil

Maísa Silva é Juju em 'Carinha de Anjo'

Publicidade dirigida a crianças é crime e o SBT bem sabe disso, mas a infração não vale só para a TV. Em função de anúncios dos refrigerantes Dolly veiculados no canal do YouTube mantido por Juju Almeida, personagem de Maísa Silva na novela infantil Carinha de Anjo, o Criança e Consumo, divisão do Alana, encaminhou ao Procon mais uma denúncia contra a emissora – a primeira por ação na internet.

Embora a personagem seja obra da ficção, o canal existe de fato e tem 1,2 milhão de seguidores.

Em duas ações, uma para celebrar o Dia das Mães, e outra, pelo Dia dos Pais, os cenários mostram elementos alusivos à Dolly, citada nominalmente pelas personagens, que cantam o jingle da marca. No entender do Alana, instituto que zela pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, “os roteiros e os enquadramentos mostram, de forma repetida e proposital, o Dollynho, mascote da marca, evidenciando a estratégia da empresa de falar diretamente com as crianças telespectadoras do canal da Juju”.

“Chama a atenção uma emissora de TV criar um canal fictício no YouTube como uma extensão de uma telenovela com o objetivo de direcionar publicidade a crianças por meio de uma ação de merchandising. Essa estratégia desrespeita a legislação brasileira que protege as crianças, inclusive nas relações de consumo, especialmente o artigo 227 da Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, os artigos 36, 37 e 39 do Código de Defesa do Consumidor e a Resolução 163 do Conanda”, afirma Ekaterine Karageorgiadis, coordenadora do programa Criança e Consumo.

O SBT já enfrentou acusações de inserir merchandisings no programa “Bom Dia & Cia.” e em 2015, foi multado em ação civil pública ajuizada pelo Procon-SP, em razão do desenvolvimento de merchandising infantil na novela Carrossel, tendo depois recorrido da decisão.

O Alana tem olhado com atenção para youtubers mirins que, assim como youtubers maiores de 18, desembrulham presentes que ganham de patrocinadores na frente das câmeras, elogiando esses produtos. “Isso gera uma confusão na cabeça da criança porque é uma publicidade muito disfarçada”, comenta Ekaterine. “Esse caso chamou muita atenção porque o SBT volta a fazer merchan, com uma estratégia diferente, que é criar um canal no Youtube para a personagem que existe na novela e levar as crianças à internet. A Maísa Silva é também uma youtuber, é conhecida. Esse merchan da Dolly é super abusivo porque é ainda mais camuflado: os vídeos são longos para um comercial, têm três minutos, os bonecos da Dolly aparecem em todo o cenário, atrás da cama, na prateleira”, ela conta. Um dos vídeos traz uma competição de conhecimentos entre mãe e filha, que cantam juntas o jingle do refrigerante.

 

As regras que vetam propaganda dirigida a crianças valem para todos os veículos. Ekaterine reconhece que a internet é um ambiente bem mais complexo de ser supervisionado do que a TV, mas várias ações no YouTube têm merecido do instituto um acompanhamento permanente.

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Cristina Padiglione

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