‘Treze dias’ prima por roteiro e efeitos, mas tropeça na poeira do make up
Antes de mais nada, convém dizer que “Treze Dias Longe do Sol”, que estreia na próxima segunda, dia 8, na Globo, é uma boa minissérie, capaz de prender o espectador por todos os seus dez episódios. Prova de que o negócio funciona é ver o produto pela GloboPlay, onde todos os capítulos já estão disponíveis, e constatar que você pode perder o sono para emendar um episódio no outro, até saber como aquilo termina. Esse é sempre um bom termômetro para constatar se uma narrativa é bem-sucedida ou não na linguagem seriada.
De Elena Soarez e Luciano Moura, “Treze Dias Longe do Sol” me manteve acordada por uma noite inteira, até as 6h da manhã, e veja que eu sou do tipo que cai no sono mesmo diante das melhores histórias. Há tensão em tempo quase integral, e isso normalmente seria um problema – toda obra audiovisual, mesmo de suspense e drama, precisa de alguns pontos de respiro. O espectador deve baixar a guarda e relaxar por breves instantes, para voltar a se surpreender e saltar da poltrona dali a um minuto. Quando o “respiro” inexiste, o suspense ou drama logo podem anestesiar a plateia, que vai banalizando a capacidade de se chocar com o que vê.
Mas, numa história sobre o desabamento de um edifício recém-construído, com a morte de alguns e o soterramento de outros, não restam muitas chances de respiro, e mesmo assim o choque não se esgota. A produção, assinada pela O2 Filmes, em parceria com a Globo, tem grande êxito no roteiro, que deixa o espectador tremendo ao fim de cada episódio, desesperado para assistir ao próximo, e impressiona muito bem pela qualidade dos efeitos especiais que dão cabo do desabamento do prédio.
A série, no entanto, acerta nos pontos mais difíceis e erra nos básicos. Talvez a direção tenha se preocupado tanto em tornar verossímil o desabamento, que não se deu conta dos erros de maquiagem. A poeira presente nos rostos, cabelos e roupas dos soterrados é ridiculamente modesta. Os ferimentos de uns passam 13 dias intactos, com um fio de sangue que nem seca nem sai do lugar (Saulo/Selton Mello), enquanto outros estampam uma cicatrização recorde em ferida que volta a se abrir nos dias seguintes.
Ok, isso é muito pequeno perto da grandeza de todo o resto, mas é uma pena esbarrar em falhas justamente no trabalho que parecia mais simples.
O roteiro é, convém endossar, muito bom. Diante de uma situação de risco, testam-se os níveis de solidariedade de cada um e a certeza de que somos todos iguais, com indispensável colaboração coletiva para o bem individual. Operários, engenheiro e proprietária daquele edifício encontram o mesmo nível social debaixo dos escombros, mas, mesmo ali se pode mensurar o caráter de cada um.
Em cima da terra, executivos e herdeiro da construtora travam uma batalha de manobras para fugir da responsabilidade que lhes cabe. O caso remete muito ao Palace 2, edifício residencial da construtora de Sérgio Naya que sofreu dois desabamentos, na Barra da Tijuca, no Rio, sendo depois implodido, em 1998.
Na série, a construção é de um futuro centro médico, comprado por Rupp (Lima Duarte) para sua filha, Marion (Carolina Dieckmann), que teve um romance com o engenheiro Saulo.
Atenção às atuações viscerais de Débora Bloch (executiva da construtora), Enrique Diaz (o calculista da obra), Fabricio Boliveira (o capitão que coordena as buscas por sobreviventes nos escombros) e Camila Márdila (Yasmin, filha do chefe de obras, que vai ao edifício pouco antes do desabamento para exibir a barriga de grávida ao pai). Há boas performances de Carolina Dieckman e Paulo Vilhena (herdeiro da construtora, playboy muito crível, personagem que há de causar repulsa no espectador), sem falar nas sempre comoventes presenças de Lima Duarte e Emiliano Queiroz, que nos seduzem só pelo olhar.
Quanto ao protagonista, temos um sujeito que parece não se abalar com nada, nem diante do desabamento do edifício nem das confissões mais surpreendentes para a vida de alguém. É um trabalho difícil, bem honrado por Selton, e que deixa o espectador constantemente em dúvida sobre o caráter de Saulo: irresponsável ou apenas inconsequente, sem noção dos meios que podem justificar os fins?
Vale a pena ver. Vai lá.
Todos os dez episódios estão disponíveis só para assinantes na GloboPlay.
Na Globo, estreia dia 8, segunda-feira, com exibições de segunda a sexta, após a novela das nove.