3ª temporada de ‘Psi’ aborda o suicídio assistido na estreia: na HBO
Agora com dois episódios para explorar cada caso, a série “Psi” entra em sua 3ª temporada a partir das 21h deste domingo, na HBO, tendo o suicídio assistido (prática distinta da eutanásia) como primeiro tema abordado. Isso significa que cada paciente terá dois episódios para se esparramar, com a tortuosa espera de uma semana entre o início e o fim de cada história. Assim, o desdobramento de cada caso tratado pelo doutor Carlo Antonini (Emílio de Mello), antes restrito ao olhar do médico, em razão da narrativa mais condensada, passa a contar também com o ponto de vista do paciente, o que enriquece um bocado o roteiro e todo o enredo criado pelo doutor Contardo Calligaris, showrunner de “Psi”.
Se há um produto de ficção feito a partir da experiência real de um consultório de psiquiatria/psicanálise, pode apostar todas as fichas em “Psi”. “Sou o criador, o diretor, o roteirista, e só não sou o ator porque não me deixaram”, costuma brincar o doutor Contardo.
A Carlo Antonini, psiquiatra que já rendeu a Emílio de Mello uma indicação ao Emmy International, como melhor ator de série dramática, Calligaris admite ter emprestado alguma coisa, como aquela tenacidade e a contenção de enxergar o mundo, sem arroubos de surpresa ou grande expectativa.
É claro que boa parte dos casos tratados pelo doutor da ficção já foram estudados, analisados e vividos no consultório do doutor da vida real, mas Calligaris não chega a tratar Carlo como alter ego.
Na história da estreia, uma jovem que sofre de grave doença nos pulmões, tosse sangue e só sai de casa acompanhada por seu botijão de oxigênio a lhe abastecer as narinas, sonha em transar com dois garotos. Desejos que seriam excêntricos ou imorais aos olhos da sociedade convencional ganham dimensão de “último pedido” para quem não tem perspectivas de vida. Entre as terríveis crises de falta de ar e sonhos “proibidos”, a paciente conhecerá representantes de uma prática considerada crime no Brasil, mas autorizada legalmente em vários países europeus, como Bélgica e Suíça: o suicídio assistido. A portuguesa Maria de Medeiros faz uma especialíssima participação nesses dois primeiros episódios, trazendo a discussão à tona, inclusive sob o contexto da ilegalidade com que o assunto é tratado aqui. O telespectador saberá a diferença entre suicídio assistido e eutanásia, sem precisar de aulas teóricas: tudo está dito entre ações e diálogos.
Raul Barreto continua caminhando com Emílio de Mello por entre túmulos do cemitério, alinhavando os pensamentos e perturbações do doutor Carmo.
No segundo caso, portanto referente aos episódios 3 e 4, veremos uma paciente acumuladora que precisa lidar com a iminente morte da mãe. Carmo acabará descobrindo um segredo familiar guardado há muito tempo, capaz de mudar a relação de sua paciente com o passado. Na terceira história, assunto de ordem mundial, Carlo não sabe como lidar com a conversão ao islamismo de uma adolescente que se trata com ele. O quarto caso apresenta um paciente que traz para o consultório a possibilidade de ter sido o autor de um crime do qual não é capaz de se lembrar com clareza. Essa dúvida faz com que Carlo se lance em uma investigação para descobrir se o seu paciente é ou não culpado. Na quinta e última história, episódios 9 e 10, o psiquiatra se interna em uma clínica de reabilitação junto a sua futura nora, após vê-la tendo um surto psicótico.
Assisti aos dois episódios do caso de estreia, sobre suicídio assistido, há um mês, durante a première da nova temporada, no RioContentMarket, no Rio, na presença do doutor Contardo e dos produtores da HBO Latin America no Brasil, Roberto Rios e Maria Angela de Jesus. Ao final, precisei abraçá-los e enxugar o rosto. Prepare o lenço e entregue-se: “Psi”, que também concorreu entre séries finalistas ao Emmy International em 2015, é programa para ver, absorver e guardar no disco rígido da memória.