Gugu admite que Prova da Banheira hoje seria ‘impensável’ e lamenta ‘patrulha’
Houve uma época, e não faz tanto tempo assim, em que a TV aberta nas tardes de domingo se ocupava de uma gincana em que um homem de sunga e uma mulher exuberante, metida em duas peças minúsculas, punham-se a disputar sabonetes debaixo d’água em uma banheira exposta no palco de um programa de auditório. A plateia feminina presente urrava como se estivesse em uma arena de gladiadores da Roma Antiga, enquanto os homens diante da TV torciam pela desobediência dos fartos seios e nádegas da moça aos limites do biquíni. O comportamento do convidado e a agilidade de suas mãos para pegar os sabonetes ou resvalar nas partes íntimas da anfitriã da banheira também mereciam toda atenção.
“Eram outros tempos, outra televisão, isso seria impensável hoje”, admite Gugu Liberato, que comandava a atração no SBT, no caso, um “Domingo Legal” visto entre 1993 e 2009, bem diferente do formato paz-amor-família apresentado atualmente por Celso Portiolli. Quando fazia o “Viva a Noite”, nas noites de sábado do mesmo SBT, Gugu também chegou a apresentar o concurso Garota da Camiseta Molhada, quando as moças apareciam para desfilar no palco com a indumentária umedecida, sem nada por baixo e mamilos visíveis a olho nu.
“A patrulha hoje é muito maior”, continua. “Hoje, a patrulha está tão grande que você tem que pensar até no que você vai falar para não sofrer as consequências.” Pergunto-lhe então se isso é melhor ou pior. Gugu pensa um segundo: “Acho que é pior. Acho que tole a criatividade, a liberdade, em todos os sentidos, e não só para os apresentadores. Os humoristas sofrem demais com isso. Acho que a gente entrou numa mudança exagerada, não sei até onde vai”.
Em rara conversa com jornalistas, o apresentador falou à imprensa especializada em TV e celebridades na tarde desta sexta, 20, na nova sede do “Power Couple”, programa que ele apresentará na Record a partir desta terça-feira, após o “Jornal da Record”. O cenário agora fica em Itapecerica da Serra, onde foi gravada a última edição de “A Fazenda”.
Um reality show ainda mantido sob sigilo, cujo formato promete ser original – e não adquirido de produtoras internacionais – também aguarda por Gugu na Record, mas isso é para o segundo semestre. “Vai ser semanal e é um projeto grandiosíssimo”, disse ele.
O projeto de um novo reality faz parte da renovação de contrato acertada entre o apresentador e a emissora no início deste ano, após longa negociação.
Segundo Gugu, a demora pelo acerto com a Record aconteceu porque ele queria da emissora uma garantia de que poderia ir toda semana aos Estados Unidos, onde moram seus três filhos. “Esse foi um dos grandes problemas, a gente bateu muita cabeça por isso. Mas criaram uma forma para que eu possa ir para lá toda quinta à noite e voltar no domingo. Vai ficar mais apertado para eles aqui”, disse, referindo-se à equipe do “Power Couple”, “mas eu não abri mão disso”.
As instalações em Itapecerica foram totalmente repaginadas para receber o “Power Couple”, mas Gugu abriu mão de ter seu próprio quarto ali. Diz que vai e volta todos os dias para a casa e leva, para tanto, o mesmo tempo que consumia entre sua casa e a sede da Record na Barra Funda.
Os quartos do Power agora são batizados por nomes de países e cidades, como Japão, Índia, Tailândia, Suíça e Texas. Entre quartos com banheiro e sem banheiro, há a suíte Power, com banheira de hidromassagem, que abrigará o casal mais bem colocado nas provas em cada semana, e o quarto Perrengue, uma espécie de iglu, quase uma cabana de concreto, feita do lado de fora da casa, para quem estiver pior no jogo.
Antes apresentado por Roberto Justus (que está de mudança para a Band), o “Power Couple” coloca Gugu em um papel inédito em mais de 30 anos de TV. Será sua estreia no comando de um formato internacional, que tem como premissa uma espécie de bíblia com determinadas regras indispensáveis à receita do programa.
Pergunto como fazer para obedecer a “bíblia” sem perder a espontaneidade. “Não consigo te responder agora, vou aprender fazendo, quando a gente começar”. Gugu não se incomoda com o uso do ponto eletrônico. “Comecei a trabalhar com o ponto aqui na Record, não me atrapalha. O que me atrapalha é não poder me movimentar, ter de ficar parado, isso me atrapalha.”
Diretor responsável pelos realities da Record, Rodrigo Carelli faz questão de ressaltar que o ponto é apenas um elemento de apoio, assim como o telepromter (TP, onde se lê todo o texto dito diante da câmera). “A graça é saber o que pode ser feito fora da bíblia, e dentro disso, o que a gente pode fazer de novo sempre”, diz Carelli, que continua: “A gente tem liberdade, no nosso caso, do dono do formato, a produtora Cygnus, para fazer muita coisa. O que faz a apresentação funcionar é o apresentador e a função do diretor é dar subsídio ao apresentador. Um apresentador como o Gugu, que tem toda essa experiência, vai usar isso a favor dele. Tem coisas no TP que ele já entendeu o que é, e a gente pula o TP pra ele, o ponto é usado quando necessário. Se ele tiver tudo na cabeça dele, ele pode dispensar tudo isso, é como uma ficha, ajuda muito e é uma segurança, mas não é o cerne da questão.”
Diretor do programa no dia a dia, Fernando Viudez complementa: “A bíblia de produção serve para nortear regras do programa. O programa tem blocos que têm que ser contados em determinados momentos, nossa principal regra é cumprimento do ciclo das três provas, o resto é o jeito do Gugu, de conduzir o programa entre essas regras.”
‘Não aguento fazer a mesma coisa por muito tempo’
Gugu assegurou que foi ele mesmo quem manifestou à direção da Record a vontade de encerrar o programa que vinha comandando nas noites da emissora. “Eu não aguento ficar fazendo a mesma coisa por muito tempo”, disse ele, que apresentou o “Domingo Legal” no SBT, várias vezes batendo a Globo, por 16 anos (1993-2009). “Quando entra na rotina, eu começo a mudar, jogo quadro novo, não aguento ficar fazendo a mesma coisa. Quando chegou no ano passado, eu pedi à Record que eu não queria mais fazer aquilo porque eu tinha cansado. Eles então começaram a ver outra coisa para eu fazer”.
“Sempre fui, modéstia à parte, pioneiro em algumas coisas, nós colocamos pela primeira vez no ar, em 1992, mensagens da internet, o que hoje é tão comum. Sempre busco alguma coisa nova, quando eu vou às feiras (de TV) e tal”.
Sobre o eterno boato de que ele um dia voltará para o SBT, Gugu fala que não tem o hábito de conversar com Silvio Santos, de quem por muitos anos foi apontado como sucessor em sua rede de TV. “A última vez que conversamos foi em 2015, quando nos encontramos por acaso no Jassa” (cabeleireiro tornado famoso pela preferência de Silvio).
Power Couple, nova frequência
Na nova temporada do “Power Couple”, a Sala de apostas será um campo importante, avisa o diretor Rodrigo Carelli, papa dos realities na Record. Não vai haver transmissão ao vivo pela web, mas o R7, portal da casa, terá acesso a material exclusivo para abastecer a sede do público pelo reality. Juno, namorado de Xuxa, fará a cobertura dos bastidores para a TV e a internet.
O programa agora irá ao ar de segunda a sexta-feira. Às terças, dia de eliminação, a edição será ao vivo, com a presença de uma pequena plateia.
Ao todo, 11 casais disputarão um prêmio total que pode superar o valor de R$ 1 milhão. Para isso, assim como nas edições anteriores, marido e mulher precisarão confiar um no outro e realizar apostas de até R$ 40 mil. Caso cumpram a tarefa proposta, ficam com esse dinheiro, que será acumulado até a grande final do programa. Será justamente este valor arrecadado ao longo de toda a temporada por cada casal que renderá o prêmio da dupla vencedora.
Os casais têm um tempo livre das câmeras para sua privacidade, sete horas por noite. Na estreia, dia 24 de abril, a edição terá caráter especial e já começa ao vivo, com plateia.