Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Guilherme Fontes encarna genérico de Datena em nova série nacional

Guilherme Fontes é Silas Campelo, uma espécie de Datena, em nova série do Space / Divulgação

Silas Campello é um repórter carismático e pouco conhecido de uma emissora de TV nanica em Belém do Pará. De origem humilde, mas ambicioso o bastante para se infiltrar nos bastidores dos piores crimes, ele há de usar as informações conquistadas para galgar sua ascensão na TV ao posto de apresentador do programa policial onde começou como coadjuvante.

Assim como se viu em “Tropa de Elite”, “Um Contra Todos” e outras produções do audiovisual, a figura do apresentador de programa policial, quase sempre inspirada em José Luiz Datena, Marcelo Rezende ou Wagner Montes, ganha nova leitura na ficção, dessa vez tendo um loirinho de olhos claros, Guilherme Fontes como intérprete.

Ele é o protagonista de “Pacto de Sangue”, nova produção nacional do Canal Space, que conta com bons créditos não só nacionais. A criação é de Lucas Vivo, uruguaio que há anos vive na Argentina e tem ramificações de família no Brasil. E como os “gringos” em geral enxergam mais que os nativos, era preciso um olhar de fora para que alguém pudesse deslocar o foco criminal do eixo São Paulo-Rio e jogar holofotes sobre a pouco notada Belém do Pará, nicho de crimes quase sempre tratados como notas de rodapé nos grandes noticiários e jornais, aqui trazida ao primeiríssimo plano.

“Eu queria não cair no clichê das coisas feitas aqui”, disse Lucas ao TelePadi.  Conversamos sobre a série ainda em abril, durante o RioCreativeConference, a Rio2C, na Cidade das Artes, no Rio.

“A história tem tráfico de pessoas e mostra como isso acontece – como são capturadas e sequestradas, levadas a Belém, e um barco as leva para fora. Assim, era natural que a história se passasse onde houvesse saída ao mar. E para chegar a esse universo, não queríamos cair na mesma coisa de sempre. Nas favelas de Belém tem palafitas, é outro look. Tem um impacto de que gostamos muito. Quando fui pela primeira vez a Belém, eu me surpreendi, pra mim era um lugar muito pouco explorado.”

Lucas pondera ainda sobre o ritmo. “Belém tem uma cadência, uma calma que não tem em São Paulo ou Rio”, o que só faz crescer o contraste entre os assuntos explorados por Silas, na TV, e a falsa calmaria local.

“Então, gostamos da ideia de levar um detetive, que faz muita merda em São Paulo, castigado por seu chefe, a Belém do Pará, atrás de uma paulista que desapareceu e foi vista pela última vez em Belém. Ele vai atrás dessa pista e começa a ver que há uma rede de tráfico de pessoas. Em paralelo, esse jornalista, Silas, arruma uma matéria com traficante que sabe muita coisa e quer abrir a boca.”

Silas é irmão de Edinho (Adriano Garib), ex-policial corrupto que, como tal, circula livremente no mundo do crime e consegue para Silas acesso a informações e imagens. É com essa moeda que o repórter passa, em curto prazo, ao posto de apresentador com programa próprio.

As histórias focalizam desde tráfico de drogas até turismo sexual. A cidade apresenta uma série de crimes hediondos capazes de chocar toda a sociedade, e é essa fonte de notícias polêmicas e sensacionalistas que alimenta a busca por audiência, o reconhecimento do público e a fama de Silas Campello, que se torna então uma das figuras públicas mais influentes da cidade.

Enquanto isso, para desvendar os crimes e atrocidades que acontecem no submundo do Pará, os policiais Roberto Moreira (Ravel Cabral) e Lucas Soares (André Ramiro) são levados para o coração da Amazônia e se deparam com rituais espirituais e uma rede de tráfico organizados por Gringa (Mel Lisboa) e Trucco (Jonathan Haagensen).

Criação de Lucas Vivo, “Pacto de Sangue” tem direção do brasileiro Tomás Portella e do uruguaio Adrián Caetano, com roteiro do argentino Patrício Vega e colaboração de Ricardo Grynszpan. A série é uma coprodução do Space com a Intro Pictures, e conta com oito episódios de 45 minutos cada.

O elenco conta também com Fúlvio Stefanini, Gracindo Jr. e Paulo Miklos.

Nós, latinos

Lucas Vivo me conta que mora na Argentina, onde tem uma filha, mas vai muito ao Uruguai e Brasil, com trabalho plantado nos três países.

Quando lhe pergunto sobre as afinidades que unem essas nações e o que há delas em sua nova série, ele  conta que a história nasceu mais argentina que brasileira. Foi Rogério Gallo, quando ainda era vice-presidente de canais de filmes e séries no Brasil da Turner, que primeiro viu o projeto, quem lhe sugeriu que o adaptasse para o Brasil.

“Sempre penso que a dramaturgia foi inventada pelos gregos e algumas coisas são universais e atemporais. Trazendo a história para o Brasil, alguma coisa muda, como a fala, como se expressa, mas a ideia dos personagens é muito parecida.”

Neto de avós que foram embaixadores do Uruguai no Brasil, Lucas diz que se sente sempre “muito bem-vindo no Brasil”. “Tenho uma longa história com essa terra. Meu tio e minhas primas são todos casados com brasileiros, uns morando em São Paulo, outros, em Brasília, me sinto muito à vontade. Não  morei, mas me sinto em casa, é como uma extensão da minha família.”

Para todos os efeitos, Lucas já tem ideia para uma segunda temporada, mas isso vai depender da aceitação da audiência sobre esta primeira safra, que tem estreia agendada para 13 de agosto.

No momento, Lucas desenvolve um projeto de longa-metragem em parceria com os irmãos Walter e Marcelo Slavitch, roteiristas da série “Sr. Ávila”, produção da HBO na Argentina, vista aqui com êxito.

O filme, ainda mantido sob algum sigilo, vai se passar na Tríplice Fronteira, entre Argentina, Brasil e Paraguai, com direito a elenco misturado dos três países. “Paraguai, Brasil e Argentina estão separados por um rio, você atravessa nadando. Vamos mixar o elenco, trazer sotaque novo, uma cultura nova, nós latinos temos muito o que falar.”

PACTO DE SANGUE

Estreia: segunda-feira, dia 13 de agosto, às 22h30, com episódio duplo (#1 e #2), sem intervalos.

Episódio inédito: toda segunda-feira, às 22h30

Reprise: quarta-feira, às 21h.

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione