Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Público acomodado com didatismo encontrará uma novela ‘quase infanto-juvenil’

O autor de "Segundo Sol", João Emanuel Carneiro

Conhecido por desafiar a audiência, no melhor sentido do exercício de fazer o público pensar um pouco, João Emanuel Carneiro ocupa o horário nobre a partir de hoje, na Globo, na vaga de uma novela que não só atendia a todas as expectativas da massa, como lhe entregava tudo mastigado e digerido, com muita redundância e didatismo.

E agora? Como fazer aquela audiência toda embarcar em uma narrativa completamente adversa da de Walcyr Carrasco?

O autor de “Segundo Sol” conta ao TelePadi quais são suas táticas para se fazer entender de uma maneira mais direta. Diz que a novela atual está mais para “Avenida Brasil” e “Da Cor do Pecado”, no contexto de contar uma história mais linear e menos desafiadora que  “A Favorita” e “A Regra do Jogo”, que jogavam deliciosamente (opinião minha) com a dualidade do ser humano. “Esta, agora, é quase uma história infanto juvenil”, promete.

Confira nossa breve entrevista durante a festa de lançamento da novela, semana passada, no Circo Voador, no Rio, uma conversa entrecortada por vários atores que se enfileiravam para o ritual do beija-mão do autor.

TelePadi Sei que já falamos bastante desse assunto, e até com a direção da Globo, há poucos minutos, mas só para saber da sua parte: essa questão de fazer uma novela na Bahia sem representatividade negra chegou a ser discutida antes que o assunto ganhasse a voz de militantes e outros setores?
João Emanuel Carneiro – Eu falei, a Maria também, mas as coisas foram se acelerando de um jeito que isso foi comentado lá atrás e lá ficou. De forma geral, pra mim, que veio do cinema, todo esse processo é muito corrido, e essa novela ainda foi adiantada, né? Era pra entrar no ar no fim deste ano.

TP – Você é um autor conhecido por desafiar o público, no sentido de fazê-lo pensar e não entregar tudo o que ele em tese acha que quer. É exatamente o contrário da novela que acaba de sair do ar, “O Outro Lado do Paraíso”. Como fazer o público embarcar nessa narrativa, logo após a hipnose da massa alcançada pelo Walcyr Carrasco, que entregou o horário com a maior audiência dos últimos cinco anos?
JEC – A minha saída pra isso foi fazer uma cosa mais lúdica, você vai entender quando vir a novela, essa história do Beto é quase infanto juvenil.

TP – E tem uma inspiração em Christiano Araújo, não?
JEC – É, mas também podia ser no Michael Jackson.

TP – Michael Jackson todo mundo conhecia e não estava exatamente no ostracismo. Pelo que entendi, Beto Falcão não era conhecido pelo país todo nem pela geração do carnaval de Salvador dos últimos dez anos, e a morte é justamente o que expande sua fama.
JEC – É, mas tem outros que ficaram famosos com a morte.

TP – De todo modo, agora você não vai jogar com a dualidade das personagens, o que eu, particularmente, considerava genial em “A Regra do Jogo”, mas temos de convir que aquilo era muito ousado para alcançar a massa.
JEC – É, essa novela tem essa brincadeira com o lúdico, ela não precisa ser mastigada para ser palatável, é uma história muito mais simples. “A Regra do Jogo” era muito mais difícil de fazer, tinha um ritmo de seriado (lembrando que cada capítulo tinha até um título, como se fosse de fato nome de episódio de série). Era a história de um bandido (Romero Rômulo/Alexandre Nero) que se apaixonou pela ideia de ser um homem bom, era dostoevskiano.
Acho que agora eu vou cair perto da “Avenida” e perto da “Cor do Pecado”, vou sair um pouco dessa região da “Favorita” e da “Regra”. Mas um pouco daquilo vai estar na história do Roberval, que é o Fabrício Bolivera. Essa história tem mais a minha tinta: Ele é um vilão, volta para se vingar de uma família que o tratou mal. Ele é negro, criado em uma casa como filho da empregada, mas não sabe que o filho do patrão, branco (Caco Ciocler) também é filho do patrão com a empregada, mãe dos dois, mas, como branco, o irmão foi criado como filho legítimo do patrão. Os dois irmãos se apaixonam pela Fabíula Nascimento, que acaba ficando com o branco. Isso se aproxima mais da “Regra” e da “Favorita”.

Fabrício Bolivera e Adriana Esteves: enredo que tem mais as tintas do autor

(um parêntese: na volta por vingança, Roberval se envolve com Laureta, a supervilã Adriana Esteves, que o ajudará no seu plano de vingança. Algumas imagens do trailer apresentado à imprensa exibem cenas calientes de Laureta e Roberval, todo trabalhado no abdome tipo tanquinho)

TP- Como fazer de novo uma personagem má para a Adriana Esteves sem que ela caia na Carminha outra vez? Imagino que você ainda escute no seu ouvido a voz da Carminha, não?
JEC – A Carminha era dissimulada. A Laureta afronta, ela é uma libertária, uma figura que você de cara já vê quem é.

Confira um resumão da trama no vídeo abaixo:

 

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