Hit entre mulheres, Investigação Discovery faz do crime um entretenimento
Sim, as mulheres adoram acompanhar toda a investigação referente à apuração de um crime, fazendo disso um grande entretenimento, e não se trata de fenômeno restrito ao Brasil.
Aqui, a audiência feminina representa uma fatia de 70% de toda a plateia do canal Investigação Discovery, emissora que cresceu 233% em seis anos no Brasil, onde é o segundo canal mais visto por mulheres acima de 18 anos – perde apenas para o Discovery Home & Health, feito sob medida para elas. Nos Estados Unidos, o Investigation Discovery é o canal mais visto pela plateia feminina acima de 25 anos.
Lançado no Brasil em 2012, o ID está presente em 19 países, alcançando 250 milhões de espectadores. Há uma constatação clara sobre tal interesse: a programação, que não tem seu foco no sangue, como os noticiários policialescos, mas sim em todo o processo investigativo, dá ao espectador – com ênfase para as mulheres – a sensação de vivenciar o papel do detetive de histórias 100% reais.
Outro dado relevante, nesses tempos de zapping desenfreado entre canais e telas diversas, está no tempo de permanência das espectadoras diante do canal: 1 hora e 17 minutos, em média. É a terceira maior média no universo da TV por assinatura no Brasil, competindo com canais de filmes de longa-metragem, por exemplo, e de futebol, que exibem alto nível de retenção.
O interesse se repete em outros cantos do mundo, o que se explica pelo senso de justiça presente no público feminino e por um interesse que, segundo o antropólogo Miguel Jost, convidado pelo grupo Discovery a estudar a questão, não deveria causar espanto. As mulheres, afinal, desde sempre, são consumidoras vorazes de obras clássicas do gênero, de Agatha Christie e Edgard Alan Poe, aos C.S.I.s que exploram o que há de mais moderno na ciência da criminologia.
Professor da PUC-Rio, Jost falou sobre o assunto em um encontro promovido pela Discovery justamente para levar essa reflexão ao mercado publicitário. A ocasião contou ainda com a vice-presidente de Conteúdo Nacional do grupo, Mônica Pimentel, e o jornalista Tony Harris, apresentador do aclamado “Na cena do Crime”, que veio ao Brasil especialmente para tanto. Ex-apresentador da CNN e da Al Jazeera nos Estados Unidos, Harris contou que nunca experimentou tamanha popularidade como em seu emprego atual.
Gerente de Planejamento estratégico e branded content da Discovery, Eduardo Teixeira tratou de colocar o assunto na pauta do campo de interesse do anunciante.
O encontro foi resultado de três meses de pesquisas que resultaram em uma abordagem interdisciplinar sobre o gênero nas frentes da produção audiovisual, da análise comportamental e da presença mercadológica.
Para Jost, com a crescente digitalização e automatização das funções e comunicações, há também aumento no interesse por experiências que sugiram alteridade e contato humano, o que justifica maior procura por conteúdos que tragam acesso a bastidores e detalhes não revelados no dia a dia das coberturas jornalísticas de noticiários.
Não se pode ignorar ainda a força dramática presente na narrativa da investigação criminal, da literatura às séries de investigação. Posicionar o leitor/espectador no papel de investigador que decifra mistérios é elemento-chave para o profundo envolvimento que esse tipo de conteúdo é capaz de gerar.
Por fim, o antropólogo destaca que o tratamento dado ao conteúdo baseado em crimes reais, tal como visto nas séries do Investigação Discovery, converte essa experiência de alteridade e o jogo investigativo em entretenimento. Nesse sentido, contam escolhas de produção, tais como as fontes selecionadas, apresentadores com notável experiência na área da cobertura e investigação criminal e a linguagem das reconstituições apresentadas nas séries, o que inclui pitadas de sarcasmo. Esse trio de tendências combinadas explica, para Jost, o fenômeno internacional do conteúdo true crime: o engajamento vem da condição de colocar telespectador no lugar de investigador.
Harris, que em setembro volta à tela do canal com a 2ª temporada de “Na Cena do Crime com Tony Harris”, diz que está “preocupado com o lado humano da notícia que fica de fora da cobertura tradicional”. “Olho nos olhos dos familiares das vítimas e procuro, com as entrevistas, exercer uma abordagem responsável e sensível ao drama dessas pessoas que passaram por uma dor inimaginável para a maioria de nós”.
Foi-se o tempo em que receitas culinárias e dicas de decoração bastavam para satisfazer o público feminino. Aliás, encontrar na tela do ID mulheres que fujam dos estereótipos – de profissionais de polícia científica a criminosas – é outro fator que explica o interesse por esse menu.