Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Vale Tudo’ estreia no Viva em plena Copa, contrariando estratégias básicas

O cafajeste César, grande sucesso de Carlos Alberto Ricelli, e a icônica Odete Roitman (Beatriz Segall). Foto: Divulgação

Depois de anunciar uma trinca de novelas que incluiria “Brega & Chique”, mas não “Vale Tudo”, já exibida em 2010, o canal Viva derrubou os planos anteriores e sacou a novela de Odete Roitman (Beatriz Segall) da gaveta, sob o pretexto da efeméride que marca seus 30 anos. A partir desta segunda, dia 18, às 15h30 e 0h30, o enredo de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères ganha sua segunda exibição no canal.

Mas hoje? Em plena temporada de Copa do Mundo? Pois é. Parece que o Viva já foi mais bem planejado.

Para honrar os 30 anos de “Vale Tudo”, o canal sufocou outra efeméride – “Bebê a Bordo”, de Carlos Lombardi, também havia recém-completado 30 anos. E, ainda que não represente para o universo da telenovela o marco que “Vale Tudo” representa, lá está um texto ousado, com reflexões que já não nos permitimos fazer em uma novela, e diálogos afiados, como muito raramente se vê nos folhetins. Mas, acima de tudo, mesmo que “Bebê a Bordo” tivesse valores nulos para a dramaturgia, mesmo assim, a inédita edição que o Viva fez da obra, picotando grosseiramente o produto final, representa um precedente grave na proposta original do canal, que prometia exibir na íntegra as produções selecionadas para sua grade.

Todo esse contexto denota uma falta de estratégias e planejamento de um canal que tem absoluta condição de se programar com solidez e antecedência. “Bebê a Bordo” traz discussões que podem incomodar a massa (o que deveria ser visto como qualidade, mas nem sempre o mundo comercial está disposto a bancar tal ousadia) e menções políticas nominais – José Dirceu e PT são mencionados em alguns diálogos. Mas, se não era para bancar seu conteúdo, por que colocá-la no ar?

E outra: se há 30 anos já se sabe que “Vale Tudo” completará três décadas em maio de 2018, por que lembrar aos 45 do segundo tempo que sua exibição, agora, seria interessante? Este blog mesmo questionou o Viva no início do ano sobre os rumores de que “Vale Tudo” seria reprisada novamente, em função da efeméride, e ouviu do outro lado a convicção de que todas as novelas para este ano já estavam definidas, e a trama de Maria de Fátima Acioli (Glória Pires) não estava entre elas.

Agora que a coisa está feita, o jeito é aproveitar.

Partindo da questão “Vale a pena ser honesto no Brasil?”, a novela se debruça sobre a discussão da ética em um país onde a malandragem costuma vencer. Ao conversar com Gilberto Braga, há dez dias, ouvi dele que “Vale Tudo” continua atual porque o país “não mudou nada em 30 anos”. Para o autor, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), o empresário corrupto que fugia do Brasil dando uma banana (gesto de xingamento com um cruzar de braços) do alto de seu jatinho, ainda escaparia ileso nos dias atuais.

Embora o autor não goste de alguns pontos da trilha sonora da novela, esse é um ponto altíssimo, muito compatível com a qualidade do enredo, dos diálogos e direção-geral de Dennis Carvalho.

Vale a pena, sempre, rever “Vale Tudo” e suportar o espelho cruel que ela nos exibe. Mas bem que o Viva poderia ter dado à produção um planejamento digno de sua importância.

Leia também: “O Brasil não mudou nada em 30 anos”: Gilberto Braga sobre “Vale Tudo

“Vale Tudo” completa 30 anos e refaz a pergunta: “Vale a pena ser honesto no Brasil?”

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