Mesmo sem incentivo fiscal, Netflix anuncia 11ª produção no Brasil
Ao anunciar a produção de “O Escolhido”, série que vem a ser sua 11ª produção original no Brasil, nesta sexta-feira, a Netflix vai colocando no chinelo boa parte da indústria de TV local, em especial a TV paga. É que boa parte das produções feitas no Brasil para os canais pagos dispõem de leis de incentivo fiscal, o que não se aplica ao caso da plataforma de streaming.
A Netflix também se adianta, desta forma, a um sistema de cotas que logo deve começar a ser cobrado das plataformas de streaming no Brasil, como acontece com os canais pagos. Essa é, aliás, uma velha reivindicação da indústria de TV paga – isonomia nos deveres e impostos. Por muito tempo, a Netflix não teve um QG no país, remetendo a cobrança de suas assinaturas diretamente a um escritório nos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, no entanto, a empresa acelera a contratação de pessoal e expande suas produções por aqui, em uma velocidade que canal estrangeiro nenhum fez até agora.
A Netflix poderia simplesmente incorporar ao seu catálogo produções nacionais que já estão prontas, e há vários títulos em seu menu que já não são originais. Para atender à cobrança de cotas que pode vir aí, a empresa poderia fazer como o Disney Channel, que no início da Lei da TV paga, cumpria cotas nacionais apenas com filmes do acervo de “Os Trapalhões” e similares. A empresa, no entanto, surpreende ao ir além de qualquer obrigação de cotas, sem direito de usar os mesmos fundos que abastecem incentivos para produções em canais como FOX, MTV, Discovery, Disney, Space, TNT e até os nacionais Multishow e GNT dispõem para produzir localmente.
A HBO, de todos os estrangeiros, é a que mais produz com dinheiro próprio, mas, ainda assim, em ritmo inferior à velocidade agora esbanjada pela Netflix.
Haja dinheiro.
Embora não divulgue números, a Netflix tem dado todos os sinais de que vem crescendo no Brasil, um mercado em profunda crise econômica, ao mesmo tempo em que a TV paga vai perdendo assinantes. O último balanço da Anatel ainda é de fevereiro e já coloca o patamar de clientes para baixo de 18 milhões, com 17,85 milhões. O saldo de assinantes vem despencando desde 2014, quando o montante chegou a quase 20 milhões de assinantes.
Com produção da Mixer, “O Escolhido”, título anunciado agora, é uma adaptação da série mexicana “Niño Santo”, pelo casal Raphael Draccon e Carolina Munhóz, autores brasileiros que moram em Los Angeles. A versão mexicana foi criada e escrita por Pedro Peirano e Mauricio Katz, baseada na ideia original de Pablo Cruz.
No enredo, três jovens médicos são enviados a um vilarejo remoto do Pantanal para vacinar seus moradores contra uma nova mutação do vírus da Zika. Quando seus esforços para tratar a população são recusados, o trio se vê subitamente preso em uma comunidade isolada e coberta de segredos. Os residentes são devotos de um líder enigmático que diz ter o poder de curar doenças sem fazer uso da medicina. Isso os levará a confrontar a força da fé sobre a ciência.
“O Escolhido” é um thriller sobrenatural, gênero ainda pouco explorado por aqui, como manda a premissa da Netflix, que busca ideias novas para o seu menu.
O elenco ainda está em escalação, com previsão para começar a gravar em setembro. O lançamento ficará para 2019.
“O Escolhido” vem se juntar a uma lista que já inclui “3%”, “O Mecanismo”, “Samantha!”, “Coisa Mais Linda”, “Sintonia”, “Ninguém Tá Olhando”, “Super Drags”, “Cidades Invisíveis”, “A Facção” e uma série biográfica com a cantora Anitta.