Para Celulari, novela questiona uso da tecnologia: ‘não pode perder o olho no olho’
Intérprete de Dom Sabino, patriarca de uma família que ficou congelada por 132 anos na nova novela das sete, Edson Celulari aposta no potencial da história de Mário Teixeira para fazer o público refletir sobre o uso da tecnologia. “A tecnologia trouxe bens inestimáveis, claro, mas você não pode perder o olho no olho”, diz o ator.
Conversamos durante o evento de lançamento de “O Tempo não Para”, no Museu do Amanhã, no Rio.
“Uso muito whatsapp para me comunicar com meus filhos, mas uma coisa não pode substituir a outra. Você tem hoje a possibilidade de ter um canal seu, onde você possa dar uma notícia como você quer, mas eu não abro mão do diálogo, da reflexão, aceito tudo, desde que não se perca a mágica com o humano.”
Para o ator, o mundo que a família encontra após descongelar de um bloco de gelo em plena praia do Guarujá, como contará a trama, “tem coisas boas e coisas ruins”. “A gente está falando sobre a tecnologia, que é bacana, mas pode atrapalhar. As pessoas estão se comunicando, mas estão também isoladas ao mesmo tempo. É uma discussão boa. A novela traz isso, por isso acho que a novela é contemporânea e atual.”
O autor da trama endossa: “O choque, para eles, é muito grande, não se amortece, eles vão ter que se adaptar”, diz Mario Teixeira ao TelePadi. “Imagine como é apertar um botão e ter um café pronto, quando eles tinham de colher o grão, deixar secar, moer e passar a água. O que eles vão ter que aprender é a forma de sentir, de se relacionar com o mundo, vai ser praticamente uma educação sentimental.”
“O grande material dessa história”, conclui Teixeira, “é o conteúdo humano”.
Assim que descongela, a família já vira vítima das redes sociais, ao ser notícia de um blogueiro de celebridades, Pedro Parede (Wagner Santisteban). “Esse início já vai ser bem traumático para eles”, antecipa o autor.
O choque sofrido pela família permitirá ainda que se discuta episódios e personagens históricos – Sabino combateu na Guerra do Paraguai, ao lado de Osório e Caxias, apertou a mão do Almirante Tamandaré. “Ele não é qualquer um, não”. É descendente do bandeirante Manuel Preto, fundador do bairro da Freguesia do Ó. “Ele era dono de metade de São Paulo”, conta Celulari.
Quando a família bateu num iceberg, em 1886, e foi dada como morta, não sobraram herdeiros nem terras, e agora os Sabinos se veem sem teto, indo morar na pensão de Coronela (Solange Couto) na Freguesia.
Tudo isso mereceu aulas de prosódia e história para os componentes do congelamento – além de Celulari, o time inclui Rosi Campos (Dona Agustina, sua mulher), Juliana Paiva (a filha Marocas), Raphaela Alvitos (Nico) e Nathalia Rodrigues (Kiki), além dos escravos da época, vividos por Aline Dias, Cris Vianna, Olívia Araújo, David Junior e Maicon Rodrigues. Kiko Mascarenhas faz o guarda-livros Teófilo. Maria Eduarda de Carvalho é a preceptora Miss Celina e Bruno Montaleone, o jovem Bento. O grupo levava também o fox terrier Pirata.
Nesse contexto, o linguajar da família será outro ponto forte de contraste com o mundo atual, em razão do uso de expressões arcaicas da Língua Portuguesa. “Até a equipe já usa os termos que a gente fala em cena, como ‘folgo em sabê-lo’, ‘ó, messa!’, ‘mas que boa chalaça’. Tem um uns termos muito divertidos”, conta Celulari.
“O Tempo Não Para” estreia no dia 31, terça-feira, às 19h35, na vaga de “Deus Salve o Rei”.