Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Após críticas à Bahia branca da Globo, ‘2º Sol’ tem um negro para cada nova participação

Pérsio (à esq.), o corretor de imóveis que venderá a casa de Severo: mais um afrodescendente na trama acusada de não contemplar os negros

Desde que estreou, sob protestos que acusavam uma desproporção racista em relação à Bahia real, a novela das nove da Globo, “Segundo Sol”, tem escalado negros para todas as participações esporádicas que vão surgindo pelo caminho.

No capítulo desta segunda-feira, 3, apareceu mais um quase figurante, com fala, para se apresentar como o corretor de imóveis que tenta vender a casa de Severo (Odilon Wagner). No mesmo episódio, outros dois afrodescendentes que surgiram quase despercebidos tiveram suas participações e importância ampliadas na história.

Um é Aldri Anunciação, que interpreta Artur, o assistente direto de Roberval na empresa e deixa escapar para Kátiandrea (Camila Lucciola), prostituta do bordel de Laureta, que o chefe na verdade lida com diamantes – e que construção civil é só uma fachada de seus negócios.

Artur, o subordinado de Roberval, aqui com a prostituta Kátiandréa

O outro caso é a Drª Guerra (Sarito Rodrigues), advogada contratada por Beto Falcão (Emílio Dantas) para livrar Luzia (Giovanna Antonelli) da cadeia. Mesmo após a liberdade de ambos, ela continua em cena, agora cuidando dos negócios dele – é um curioso caso de grande criminalista com vasta atuação em outras áreas do Direito.

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A doutora Guerra, advogada de Beto Falcão

Além desses, são negros ou descendentes de africanos: a médica que atendeu Maura (Nanda Costa) no processo de inseminação artificial, a secretária/recepcionista da empresa de Roberval (Fabrício Bolivera), interpretada por Nara Couto, e o gerente da conta de Beto Falcão (ambos também em cena no capítulo desta segunda-feira).

O gerente do banco que atende Beto Falcão e Valentim

A secretária de Roberval, aqui com Laureta

O Ministério Público do Trabalho chegou a notificar a Globo, pouco antes da estreia, sobre a necessidade de alguma representatividade de negros e afrodescendentes em cena, de acordo com o local do enredo e suas estatísticas na vida real: 53% se declaram negros ou descendentes de africanos na Bahia, onde a história se passa. Alegou que a distorção disso pode incentivar casos de preconceito.

Some a isso o protagonismo que Fabrício Bolivera, o Roberval, vem alcançando, ao lado da bela interpretação de Cláudia Di Moura, sua mãe, Zefa, em um núcleo onde racismo tem abordagem crucial: ali está a história da empregada que teve dois filhos com o patrão, mas o nascido branco é criado como filho legítimo da família, enquanto o nascido negro é criado como filho da empregada.

Pouco antes de a história de João Emanuel Carneiro estrear, a Globo justificou que não escala seus elencos com critérios semelhantes a cotas, mas sim pelo talento e adequação do ator ao personagem. De todo modo, houve uma tentativa de explicar que Camila Pitanga e Taís Araújo não aceitaram convites para a trama, o que evidenciou a escassez de opções da emissora para atores negros.

Apesar da história de Roberval (Fabrício Bolivera), o núcleo de Beto Falcão é todo branco, aliás, com predominância loira, com Emílio Dantas, Giovanna Antonelli, Adriana Esteves e Deborah Secco.

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