Série de Anitta na Netflix vira alvo de campanha de boicote de fãs de Bolsonaro
Seguidores do candidato Jair Bolsonaro deram início a uma campanha para reprovar a série “Vai, Anitta”, em realização para a Netflix. Como a produção ainda não está no ar nem tem data para estrear, o meio encontrado por eleitores do candidato para “punir” a cantora é dar “deslike” no teaser publicado pela plataforma em seu canal no YouTube.
Em duas horas, nesta tarde de sexta, o dedão para baixo que indica “deslike” (“não gostei”) no link do teaser oficial teve seu número acrescido de 1 mil cliques, indo de 8,1 mil para 9,1 mil. No mesmo período, o dedão do “like” se manteve em 34 mil. (Atualizando: ao fim do dia, já eram 13 mil deslikes, ante os mesmos 34 mil likes).
O TelePadi tentou ouvir a Netflix e a cantora sobre o episódio, mas não obteve retorno de nenhuma das partes.
“Vai, Anitta” é uma série biográfica sobre o fenômeno em que a artista se transformou, do morro carioca para o âmbito internacional, com acompanhamento em compromissos aqui e lá fora. A estreia é aguardada ainda para este ano.
Na última semana, desafiada a se posicionar sobre Bolsonaro, a cantora aderiu ao #EleNão, campanha contrária à eleição do candidato do PSL, acusado de ser homofóbico, machista e defensor da ditadura ocorrida no Brasil entre 1964 e 1985.
A bandeira recém-levantada por seguidores de Bolsonaro vem circulando especialmente em grupos de Whatsapp. Veja abaixo:
Mais do que nunca, artistas que se posicionam politicamente – não só em períodos de pleitos eleitorais – têm uma estimativa contável das perdas e ganhos adquiridos a partir de seus anúncios ou de sua obra.
O preço de se posicionar
O risco existe mesmo quando a coisa for só uma piada, como aconteceu com o Porta dos Fundos pouco antes do impeachment de Dilma, com o esquete “Reunião de Emergência 3 – Delação 2”, um grande deboche daquele contexto, quando uma leva de antipetistas instigou um boicote ao canal de humor, gerando uma guerra virtual entre quem gostou e quem não gostou do vídeo. O canal perdeu muitos seguidores, mas ganhou um número ainda maior do que os que foram embora.
Em 1989, durante a campanha para a primeira eleição direta para presidente da República no Brasil, após 29 anos, 90% dos artistas mais famosos da TV, todos da Globo, engrossavam o coro de “Lula Lá” em um videoclipe histórico. A manifestação era praticamente um painel de contratados X contratante, já que a Globo apoiava, ainda que não declaradamente, o adversário de Lula, Fernando Collor de Mello, que venceu aquele pleito.
De lá para cá, a emissora sempre procura sugerir aos seus contratados que não se manifestem em época de eleição, mas muitos deles continuam a fazê-lo, sem que isso signifique qualquer represália por parte da emissora àqueles a quem a casa considera essenciais em seu elenco como Osmar Prado, Regina Duarte, Paulo Betti e José de Abreu, entre outros.
Mas com o crescimento das redes sociais e o uso delas como arma entre representantes de correntes adversárias, uma onda de campanhas virtuais vem promovendo o ódio, em vez de ideias e debates proveitosos para um cenário melhor.
Seguidores de Bolsonaro também criaram um vídeo desprezando a campanha #EleNão, à qual a cantora Madonna acaba de aderir. Na peça, desprezam a opinião de Cláudia Raia, Deborah Secco, Mônica Iozzi e outras atrizes que endossaram o #EleNão, argumentando que elas não sabem o que é ficar sem emprego nem o que é transporte público.
E ainda faltam nove dias para o primeiro turno.
Como bem disseram Marcius Melhem e Marcelo Adnet no início da temporada do “Tá no Ar” deste ano, ainda em janeiro, há momentos em que é melhor se posicionar do que ficar em cima do muro. O humorístico evidentemente não tomou partido de A ou B, mas soube expressar as ideias que defende, contra a misoginia, o fascismo, o racismo e a intolerância religiosa.