Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Em 1989, PT também entrou na Justiça contra entrevista de adversário na Record

Lula, na campanha de 89, com Plínio de Arruda Sampaio / Arquivo

A História não se repetiu.

Em 1989, a exemplo do que ocorreu nesta quinta-feira, o PT também entrou na Justiça contra a Record por uma entrevista com um adversário eleitoral. A diferença é que na época, o Partido dos Trabalhadores saiu vitorioso – não nas urnas, onde foi derrotado por Fernando Collor de Mello, mas na reivindicação por um direito de resposta da Record.

Naquelas que eram as primeiras eleições diretas para presidente da República no Brasil após um jejum de 29 anos, a democracia ainda estava sendo posta à prova, após uma temporada de transição entre o governo militar e o civil, com José Sarney. Era, portanto, prudente, que a Justiça se mostrasse ciosa do caso e tomasse as devidas providências para atender à solicitação do PT.

Fernando Collor, então do PRN, deu uma longa entrevista ao jornalista Ferreira Netto, que depois seria candidato ao Senado pelo mesmo partido do futuro presidente eleito. O PT reivindicou espaço similar na Justiça eleitoral e o teve. Na época, o advogado Plínio de Arruda Sampaio, deputado pelo PT, representou o candidato do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, na entrevista que Ferreira Netto foi obrigado a fazer para dar ao partido o mesmo espaço dado ao seu adversário.

O episódio remonta ao último ano da família Machado de Carvalho à frente da Record, que agora comemora seus 65 anos e tem resgatado várias cenas do passado para celebrar a data. Esse é um caso que mereceria ser lembrado.

O jornalista Ferreira Netto comandava um debate diário nos fins de noite da Record, ainda na era Machado de Carvalho

Dessa vez, a Record saiu ilesa – pelo menos até aqui – da rasteira dada na Globo. A emissora gravou entrevista na casa de Bolsonaro, ainda ontem, para exibir o material bem no horário do último debate presidencial, promovido pela Globo, inimiga maior da rede de Edir Macedo.

Embora a audiência da conversa com Bolsonaro na Record tenha sido inferior à metade do bolo representado pelo debate da Globo, a TV de Macedo, que declara apoio ao candidato do PSL, ganhou público, ficando à frente do SBT em 1 ponto, como não costuma ocorrer nesse horário. Faz mais de um ano que o SBT bate o “Jornal da Record”, espaço aberto ao candidato em questão.

Independentemente do teor da entrevista, que esteve mais para uma conversa, com nenhuma contestação ao que o candidato disse, ou de seu horário de exibição, a lei da radiodifusão – segmento no qual se encontram estações de rádio e TV, todas empresas erguidas a partir de concessões públicas – é bastante rigorosa no que diz respeito à equidade dada a todos os candidatos. Nesse ponto, o PT teria que ter se manifestado também contra as entrevistas feitas com Bolsonaro por José Luiz Datena, na Band, e Boris Casoy, para a RedeTV!

Advogados de Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) chegaram também a entrar com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que o bate-papo com Bolsonaro não fosse ao ar durante o debate, mas depois desistiram, com medo do desgaste eleitoral que o veto poderia lhes causar.

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Cristina Padiglione

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