SBT nega relação entre fim do ‘Poder em Foco’ e governo Temer
Desde que estreou, em maio, o “Poder em Foco” tinha data certa para acabar, conforme informação recebida, já na ocasião da estreia, pelo TelePadi, primeiro noticiário a informar sobre o novo programa. Havia, no entanto, a esperança de que a aceitação, a audiência ou algum prestígio possivelmente trazido pelo programa pudesse alterar esse cenário, que estaria diretamente relacionado ao fim do governo Temer, já que o patrocinador principal é a Caixa Econômica Federal e o banco público fatalmente sofreria uma revisão de contratos de publicidade na troca de presidentes.
O “Poder em Foco” teria sido criado para contemplar uma aliança entre o SBT e o governo Temer, iniciada com uma campanha para ganhar a simpatia popular pela reforma da Previdência, ensaiada pelo presidente em exercício.
Temer chegou a ir aos programas de Silvio Santos e do Ratinho. Fizeram até “SBT Repórter” sobre o tema e o assunto ganhou filminhos nos intervalos comerciais.
Com a suspensão do plano em votar a reforma da Previdência, determinada pela intervenção federal no Rio de Janeiro (a Constituição veda reformas em períodos de intervenção federal), o governo teria incentivado a criação de um programa de entrevistas para patrocinar, cumprindo, assim, a promessa de um apoio mais longevo à rede de Silvio Santos.
O SBT, por meio de sua assessoria de imprensa, nega qualquer relação entre uma coisa e outra. “A existência do ‘Poder em Foco’ nada tem a ver com agradecimentos do presidente da República. Os programas começam e terminam, ou seja, entram e saem da grade, um processo natural”, informou o departamento, após consultar o Jornalismo e o Comercial da casa.
Embora o SBT tenha determinado o fim do programa na última sexta, a equipe ainda tem esperanças de que “o Silvio mude de ideia”. Nesse caso, no entanto, não depende apenas do patrão. Visita ilustre na casa do empresário na última semana, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, já sinalizou que pretende enxugar os gastos com publicidade e citou nominalmente a Caixa Econômica Federal, patrocinadora do “Poder em Foco”.
Desde a estreia, o “Poder Em Foco” entrevistou Temer duas vezes – na estreia e nesta que pode ter sido a última edição do programa, no último domingo, 16. Entre as duas entrevistas do presidente, o programa teve como convidados alguns ministros e membros de órgãos ligados ao governo Temer, como Vinicius Lummertz (Turismo), Décio Oddone (ANP, Agência Nacional do Petróleo), Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Aloísio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e o general Richard Fernandes Nunes, secretário de Segurança Pública do Rio, chefe da intervenção federal no Estado.
O programa recebeu ainda a agora deputada eleita Janaína Paschoal, que se tornou famosa pelo empenho ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, o atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas, o General Augusto Heleno, conselheiro do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e Eduardo Bolsonaro, já em novembro, como o deputado mais votado do Brasil.
Ex-governador do Ceará, o agora eleito senador Cid Gomes talvez tenha sido a figura mais crítica ao governo Temer que passou pela cadeira de entrevistado do programa, que é apresentado pela jornalista Débora Bergamasco, sempre ao lado de mais três jornalistas convidados. Também estiveram lá o oncologista Paulo Hoff, o economista Delfim Netto, a ex-ministra de FHC Cláudia Costim, o diretor do Instituto Data Folha, Mauro Paulino, o jurista Ives Gandra Martins, o cartunista Mauricio de Sousa, o padre Reginaldo Manzotti, o psiquiatra Augusto Cury e o apresentador Ratinho, do qual fui uma das entrevistadoras, ao lado de Mauricio Stycer e Leão Lobo.
Em tempo: o SBT ainda prepara um “SBT Repórter” sobre o legado do governo Temer.