Ao reprisar ‘Por Amor’, Globo terá novela mais antiga que canal Viva
Ao anunciar que exibirá “Por Amor”, de 1997, no “Vale a Pena Ver de Novo”, a Globo conseguirá ter uma novela mais antiga na sua programação em tese inédita do que as novelas escolhidas para a temporada atual do canal Viva, emissora paga do grupo Globo criada para alimentar a nostalgia do público.
Falta lógica às escolhas da empresa.
Além de “Por Amor” ter sido exibida há apenas dois anos pelo Viva, o que já esvazia parte de sua relevância para a Globo, neste momento, noveleiros de plantão têm se manifestado aqui desde que anunciamos a exibição de “Terra Nostra” (1999/2000), “O Cravo e a Rosa” (2000) e “Porto dos Milagres” (2001) como trinca da vez no Canal Viva. São unânimes em reclamar que as produções são muito recentes para o que se propõe o canal.
Com razão.
Não faz muito tempo, difundiu-se a ideia de que o Viva só teria novelas do milênio passado, a fim de reservar à Globo as reprises das produções mais recentes no “Vale a Pena Ver de Novo”. As escolhas da vez não endossam essa teoria.
De Manoel Carlos, a ótima “Por Amor” substituirá a excelente “Cordel Encantado”, de Thelma Guedes e Duca Rachid, que tem arrebatado bons índices de audiência.
Mas a análise combinatória dos fatores que definem as escolhas do Viva e da Globo, no momento, já não sustenta a razão da existência deste canal pago.
Isso sem falar em outro princípio traído ao longo dos nove anos de vida do Viva: a exibição na íntegra das novelas escolhidas. Depois de “Bebê a Bordo”, decepada, dizem, por falta de audiência quantitativa (*), o canal lançou a “Terra Nostra” que aí está, com número de capítulos bem abaixo do original exibido no Brasil e a marca da Globo Internacional no final, endossando que este é um produto reeditado em quase metade de seu tamanho.
“Por Amor” já foi vista no “Vale a Pena Ver de Novo”, em 2002, e passou pelo Viva em duas ocasiões: 2010, no nascimento do canal, e mais recentemente, em 2017, tornando-se a primeira produção a ter repeteco na tela do canal.
A reincidência de escolhas revela ainda uma inexplicável falta de ofertas para preencher tanto espaço. Considerando pelo menos o período de 1979 para cá, com mais de três novelas por ano (na verdade, atualmente são seis, mas já houve períodos de novelas mais longas), não deveria faltar material para abastecer Globo e Viva.
É claro que há outras questões a considerar, como direitos autorais, direitos musicais e preservação de imagens. Ainda assim, isso não justifica a repetição de folhetins como “O Cravo e a Rosa”, “Alma Gêmea” e a própria “Por Amor”. Vamos deixar “Vale Tudo” e “Roque Santeiro” como exceções, pela genialidade da obra, mas nem os fenômenos deveriam ser esgotados com repetecos frequentes, até para deixar no público a saudade que justifique a nostalgia de valer a pena ver de novo uma história, seja na TV aberta ou fechada.