Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Direção de ‘O Sétimo Guardião’ entregou os pontos no final

Cena de patologia coletiva, todos com revólveres em punho, em 'O Sétimo Guardião'/Reprodução

Não aconteceu com todos os atores, mas boa parte do elenco de “O Sétimo Guardião” levou com dignidade seu trabalho até o fim, mesmo sabendo que a novela não bombou nem seduziu a audiência. Marina Ruy Barbosa e José Loreto, em meio a todo o turbilhão de fofocas sobre a separação dele e a despeito de pertencerem a uma geração com fama de mimada, deram conta do fingimento exigido pelo ofício.

Outros, como Elizabeth Savalla, Dan Stulbach, Ailton Graça, Ana Beatriz Nogueira, Zezé Polessa, Marcelo Serrado, Carolina Dieckmann e Milhem Cortaz foram além disso, ajudando inclusive a salvar um tiquinho de interesse do espectador pela história.

O mesmo empenho, no entanto, não se notou no trabalho de direção, chefiado por Rogério Gomes, o Papinha. O resultado final por vezes ficou aquém do possível e muito aquém do que a Globo nos acostumou a receber em casa. O último capítulo, levado ao ar há pouco, momento que em tese merece tanta atenção da direção quanto o primeiro episódio, foi feito de momentos risíveis, patéticos, toscos mesmo.

A sequência em que Olavo (Tony Ramos) tenta derrubar o casarão, resultando em um bando de gente armada na frente do local, parecia cena de psicopatia coletiva. Se tivessem de apertar o gatilho, naquela configuração de gente aglomerada empunhando cada um o seu revólver, teriam atirado uns nos outros, sem distinção de aliados ou inimigos.

Corta.

Gabriel (Bruno Gagliasso) se põe na frente da amada Luz (Marina Ruy Barbosa) para que Laura (Yana Lavigne), a menos convincente das personagens desde o começo da história, não atire na ruiva. Ele balbucia (verbo que normalmente ninguém usa, mas sempre cabe nessas ocasiões de último suspiro) umas poucas palavras e morre nos braços dela. Ainda nesse último suspiro, dobrando a esquina, vêm, correndo para a cena, Lilia Cabral e Du Moscovis, ambos num passo acelerado que parece só ter se iniciado na esquina do ângulo da câmera. Alguém diz: “agora!” e eles entram numa corridinha besta, como se viessem de lugar nenhum para lugar algum.

Timing zero.

O tempo de chegada dos dois à cena do crime é digno de jogral, que privilegia não a verossimilhança da situação, mas a necessidade de todos os atores terem o seu destaque na ocasião. Patético. Ambos já chegam sofrendo horrores pela morte do rapaz, que nem para o telespectador, àquela altura, estava necessariamente consumada. Sempre há uma esperança de que o galã sobreviva, mas Valentina já chega chorando a morte do filho, que coisa ruim (do tipo “já li o texto e já sei o que vai acontecer” = surpresa zero).

É a segunda vez que Aguinaldo mata o cara bacana, protagonista, no fim – lembrando do comendador de “Império”, claro, muito mais bem sucedida que “O Sétimo Guardião”. O comendador, sim, era personagem de fazer o público chorar. Gabriel pouco comoveu a plateia.

Se faltou tempero para a trama, faltou também entusiasmo para colocar o enredo de pé, faltou convicção sobre a realização no set. Se a própria equipe demonstrava desânimo com o comando em cena, como fazer o público embarcar no seu conto? Nem combina com o histórico do diretor artístico, que não costuma errar a mão.

A coisa começou a desandar já na segunda semana, com o esvaziamento dos elementos de terror que prometiam uma narrativa fora da casinha, no que seria alguma ousadia para o segmento de folhetim. Mas, ao primeiro sinal de resistência, e nem sei se a isso pode-se chamar de rejeição, a direção foi  primeira a recuar, inspirando todo o resto do barco.

Evidentemente, numa obra coletiva, não há meritocracia nem fracasso de um só. A conspiração pelo resultado, para o bem e para o mal, envolve sempre meia-dúzia, no mínimo. Mas que a canastrice desse último capítulo partiu, em boa parte da nítida falta de empenho em encerrar o trabalho com dignidade, isso partiu. E explica, em parte, a decepção de ver bons ingredientes usados em uma receita que desandou.

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Cristina Padiglione

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