Diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel vê como ‘injusta’ crítica ao JN
Diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel reagiu ao texto “Poupado pelo Jornal Nacional, Moro vira paródia no Zorra”. O artigo em questão analisa as diferenças de abordagem entre o humorístico e o noticiário no caso do vazamento dos diálogos entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, durante o processo que resultou na condenação do ex-presidente Lula no caso do triplex do Guarujá.
Leia o texto aqui.
Em resposta assinada por ele, Kamel rechaça a comparação de tempo feita entre os ministros do Supremo Tribunal Federal, STF, na edição de terça, quando o parecer de Luiz Roberto Barroso minimizando o impacto dos grampos sobre as sentenças resultadas da Operação Lava-Jato toma bem mais tempo que a soma do tempo consumido pelas declarações de Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, igualmente membros do Supremo, no sentido contrário. Para Kamel, o texto comete uma injustiça ao não considerar a fala do advogado de Lula, Cristiano Zanin, na mesma reportagem.
A autora do texto, no caso, apenas argumenta que a fala de Zanin deve ser comparada às falas de defesa consumidas pelo próprio Moro e por Dallagnol, o que não foi considerado na conta que trata dos ministros do Supremo. Mesmo assim, o diretor discorda e acredita que o JN não poupou Moro, pois, se somadas as defesas de associações de juízes, OAB e procuradores, mais ministros do STF, “o contra daria de cem a zero no a favor”.
De todo modo, como cabe a um espaço democrático, fica aqui o seu registro:
“O texto ‘Poupado pelo Jornal Nacional, Moro vira paródia no Zorra’ é, ao mesmo tempo, contraditório, injusto e faz confusão com regras básicas do jornalismo e do humor. Se, como admite o texto, ‘A Globo deu amplo espaço ao assunto desde domingo, no ‘Fantástico’, quando o vazamento começou a ser divulgado pelo site The Intercept Brasil”, como pode ter poupado Moro? Os diálogos publicados pelo Intercept foram exibidos em longas reportagens no Jornal Nacional (elas estão à disposição de todos no Globoplay para comprovação). A colunista alega, então, que o JN deu ênfase ao noticiário sobre as investigações da PF sobre o hackeamento de autoridades. Não é verdade, o JN noticiou a apuração da PF como era o seu dever. A Folha de S.Paulo, em cujo site a autora publica o seu artigo, fez o mesmo. No dia 11, o jornal deu meia página ao assunto, no dia 12, também, e, no dia 13, dedicou 2/3 de página. Cumpriu com a sua obrigação como o JN. A coluna é injusta com o Jornal Nacional porque compara os tempos dedicados, na edição de terça-feira, aos ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio, do STF, contrários a Moro (ao todo 51 segundos), com os 100 segundos que o JN dedicou ao ministro Luiz Roberto Barroso com uma declaração mais positiva ao então juiz. Mas a autora omite que, na mesma reportagem, o JN trouxe uma declaração de 54 segundos do advogado de Lula, contra Moro. Ora, somada essa fala de Cristiano Zanin às dos ministros Gilmar e Marco Aurelio, temos 105 segundos de declarações negativas a Moro e 100 segundos de positivas. Onde está o desequilíbrio? No JN de sábado, dia do esquete do Zorra mostrado na coluna, o JN dedicou três minutos e quarenta e cinco segundo a novos diálogos divulgados pelo Intercept e mais quarenta e cinco segundos de uma nota da defesa de Lula contra o ministro Moro. Sem nada esconder, sem poupar ninguém. Por fim, espanta que a autora compare humor e jornalismo, como que a sugerir que fosse possível o humor tratar os fatos com a responsabilidade e acuidade do jornalismo e o jornalismo tratar os fatos com a leveza e ironia do humor. O JN não é imune a críticas, mas não pode deixar sem resposta tentativa de estabelecer narrativas tão injustas.”
Assina: Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo.
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