Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘A Guiana Sumiu’, curta-metragem do Porta dos Fundos, debocha da supremacia

Fábio Porchat como presidente dos Estados Unidos em 'A Guiana Sumiu...' /Reprodução

“Foda-se o que não falar inglês, foda-se o que é feio e diferente de vocês”
Foda-se onde não pega 3 G, foda-se essa gente que não dá pra entender”

Os versos acima compõem um refrão cantado pelo presidente dos Estados Unidos em “A Guiana Sumiu…”, primeiro curta-metragem do Porta dos Fundos, disponível desde sábado (17) no YouTube. O filme tem 22 minutos e 30 segundos de duração, somando os créditos finais. Como acontece nos musicais, do cinema ao palco, o personagem, aqui vivido por Fábio Porchat, começa a cantar do nada, no meio de uma crise mundial, arrastando atrás de si um significativo número de figurantes que você até então sequer havia visto em cena.

O mais recente enredo sobre Casa Branca é uma analogia clara ao desprezo que os poderosos nutrem pelos andares abaixo do seu, não importa em que nível da pirâmide estejam: sempre será possível defecar na cabeça de alguém.

A história parte do comando dos Estados Unidos, mas poderia valer para qualquer outro ambiente em que alguém humilha e alguém é humilhado, ou seja, em qualquer lugar a qualquer tempo.

Como no momento estamos nos especializando em lidar com comandos sem o mínimo conhecimento cultural, geográfico ou humano, o presidente de Porchat esbanja aquele orgulho da ignorância que anda tão em alta entre nós. Por isso é tão atual. Pesa, nesse contexto, o respaldo dos americanos, evidentemente, chefiados pela sabedoria de Donald Trump, ídolo do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Mas, ainda que estivéssemos em outros tempos, a representatividade do Tio Sam teria prazo de validade infinito, pois se na média geral, eles mal sabem que Buenos Aires não fica no Brasil, o que dirá conhecer um país de nome Guiana?

O curta, no entanto, enaltece a ignorância do presidente, já que seus assistentes (o civil, vivido por Estevam Nabote, e o militar, personagem de Antonio Tabet) tratam de corrigir suas abobrinhas, com a sutileza que cabe aos súditos.

É bem provável que a grande maioria dos brasileiros tampouco tenha noção do mapa, ainda que a Guiana faça fronteira com nosso território, lá no norte de Roraima e do Pará. O assistente do presidente avisa que a Guiana fica na América do Sul e nem faz fronteira com a Guiana Francesa, pois há o Suriname no meio. “Vocês estão de sacanagem comigo”, responde o presidente, que ainda confunde Gana com Guiana, quando é alertado para o fato de Gana estar no continente africano.

Não, não é tudo a mesma coisa, embora para os americanos assim pareça.

Não vale contar mais porque spoiler não é o objetivo deste texto, mas vale a pena notar como é colossal o menosprezo do dito primeiro mundo pelos demais habitantes do planeta.

De quebra, “A Guiana Sumiu…” pode despertar o interesse por algum domínio geográfico, e não só entre estudantes ou crianças, e aqui já anexo um mapinha da Guiana, só para a gente também se lembrar que ela existe. De toda forma, a Guiana, como já foi dito aqui, é só a ponta de um iceberg.

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