Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Em momentos trágicos, ‘Jornal Nacional’ sabe como chacoalhar a plateia

Redação do 'Jornal Nacional' aplaude êxitos do Chapecoense

Uma demorada e comovida salva de palmas encerrou o “Jornal Nacinal” desta terça-feira, 29 de novembro, dia em que um acidente aéreo matou 71 pessoas, incluindo o time e a delegação do Chapecoense, de Santa Catarina, que pela primeira vez disputaria a final da Copa Sul América. São momentos como este que fazem a fidelidade de audiência a um programa. A cena, explícita demonstração de que a notícia é capaz de sair da casinha, me pegou.

Quero aqui dizer que meus olhos não marejaram durante o dia todo, desde que li a notícia pelo Facebook,às 6h23 da manhã, nem durante os incansáveis boletins pragmáticos da Bandnews FM, em trânsito entre um compromisso e outro ao longo do dia.

Então peguei o fim do “JN”, com as palavras pausadas de Galvão Bueno e o interminável aplauso da redação, cuja equipe ocupou todo o solo do cenário do noticiário. Só então me rendi. Não que o fato, em si, não fosse suficientemente emotivo. Mas, na pressa entre os afazeres de lá e de cá, muitas vezes somos anestesiados pela sucessão de compromissos na agenda, simultaneamente honrados com as tragédias do dia a dia. Lembrei-me da narração do William Bonner para o funeral do Ayrton Senna, corpo desfilando em carro aberto pelas ruas de São Paulo, ainda em 1994. Eu olhava e dizia: “não vou chorar, Bonner”. Mas, que diacho, acabei chorando. E lembrei que às vezes é preciso ser cutucado pela emoção do noticiário para se render e pedir trégua.

A capacidade de humanizar uma história que parece suficientemente humanizada, mas muitas vezes se perde na urgência das informações a serem anunciadas, é o diferencial de um noticiário diante de um acontecimento como o de hoje. É o diferencial de um noticiário que se impõe ao fim do dia, após sucessivas informações pela internet, e é o que há de reter o espectador no desenfreado zapear de canais. A transmissão da notícia em tempo real, em casos de acidentes, gera uma colcha de retalhos que só a edição do fim do dia ou o impresso do dia seguinte são capazes de empacotar e consolidar para a nossa compreensão.

Quando a repórter Lívia Laranjeiras, do SporTV, abre-se diante de um texto que fala sobre as peças pregadas ao Jornalismo – “viemos aqui para cobrir um momento histórico, e acabamos com essa tragédia”, o público é capaz de entender minimante o sentimento de um jornalista nessas circunstâncias. O que era pecado há 20 e poucos anos, quando comecei no Jornalismo, hoje é essencial: mostre ao espectador que você não é indiferente ao que houve, mostre que você tem uma história sobre aquele assunto, e pense no churrasco da família, quando alguém vai lhe perguntar o que você sentiu naquela ocasião. É isso. Fingir que não há envolvimento com a notícia, em ocasiões como esta, equivale a perder a empatia do público.

Quando Galvão Bueno conta que estava jantando com o comentarista da Globo e colegas, no momento em que soube do caso, e narra que dali só haveria um caminho – botar o casaco e a gravata para entrar ao vivo a qualquer momento-, sim, isso afeta o sujeito da dita poltrona, nem sempre na poltrona.

Eis aí um jornalismo capaz de contar histórias, de se envolver quando necessário e de se comover.

Some a isso a profusão de imagens que geramos a cada minuto, munidos, quase todos, de uma câmera na mão e de uma conexão para imediata publicação. Cenas anteriores ao embarque, imagens dos jogadores no avião, temos hoje um farto acervo pessoal renovado constantemente. A era do smartphone traça uma diferença gigantesca entre as tragédias de ontem e de hoje, quando todo mundo pode ser gravado e filmado, sem exclusividade: as redes sociais dão cabo da democratização da imagem, amém.

 

Cristina Padiglione

Curta nossa página no Facebook e siga-nos no Twitter

Cristina Padiglione

Cristina Padiglione