Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Provocado por Marcelo Tas, Jô Soares fala de política, sexualidade, teatro e TV, além do filho

Marcelo Tas e Jô Soares em ritmo de provocações. Foto: Cristina Padiglione/Telepadi

Frente a frente com Jô Soares para gravar a edição de abertura da nova temporada do Provocações, na TV Cultura, agora rebatizado apenas como #Provoca, Marcelo Tas quer saber quando é que o seu entrevistado não confiou no próprio taco?

“Nunca”, ele responde. “Sempre fui pretensioso”, emenda, arrancando um sorriso do entrevistador.

Não é todo dia, afinal, que se tem alguém sentado a sua frente com tanta história para contar e disposto a ser transparente. Se bem que ao fim da gravação, após submeter a Jô uma lista de seus personagens famosos e tentar saber quais deles não teriam espaço no contexto atual, Tas concluiu que Jô estava “muito bonzinho”. Para o diretor, escritor, humorista e apresentador, nenhum de seus tipos deixaria de encontrar eco no mundo de hoje.

“Não seria hora de trazer o Capitão Gay de volta?”, pergunta Tas, sobre a necessidade de um super herói homossexual nesses dias de tamanho repúdio republicano à sigla LGBT.

“O Capitão Gay está aposentado”, brinca Jô.

Os dois, aliás, falam abertamente sobre as dúvidas de que são alvo, desde sempre, a respeito de suas orientações sexuais. Desde Ituverava, interior de São Paulo, sua terra natal, Tas já ouvia a gente do pedaço questionar se ele, então neto do prefeito, não era “viadinho”.

Da mesma forma, Jô atiçou a sanha dos curiosos sobre sua sexualidade em várias ocasiões. “Dizem assim: ‘ah, ele namorou a Cláudia Raia’, ‘mas é viado’, rebatiam”, diverte-se o gordo, agora menos gordo. Jô já pesou 80 Kg a mais, pouco menos do que pesa seu entrevistador. “Perdi um Marcelo Tas inteiro”, disse.

“O fascínio sobre o rótulo é incrível”, diz Jô. “Você vai na farmácia sabendo que o genérico é igual ao outro, mas você quer o outro por causa do rótulo. O cara poder dizer que nós somos dois viados velhos lhe dá uma alegria enorme”, ri. “A mim também dá alegria”, reage Tas.

E como não vou aqui dar spoilers, adianto aos curiosos que os dois falam claramente sobre o assunto e satisfazem as dúvidas de tantos, respondendo se já tiveram ou não experiências homossexuais.

Tas e Jô durante a gravação. Foto: Nathalie Bohm/Divulgaçãoo

Vamos ao que interessa:

Jô comenta sobre o próximo projeto teatral, “Gaslight”, do filme homônimo com Ingrid Bergman, que se tornou uma expressão relacionada à sexualidade tóxica masculina em estudos psicológicos sobre o assunto.

Fala que tem mais um livro em mente, mas nada autobiográfico, como os dois volumes do ótimo “O Livro de Jô”, lançado pela Cia. das Letras em parceria com Matinas Suzuki Jr..

E como raras vezes o fez diante de uma câmera, fala com detalhes sobre a convivência com o filho Rafinha, que era autista e morreu aos 50 anos, em 2014.

Tas quis saber se Jô não sente falta de seu expediente na TV. Mas nem remotamente, responde o entrevistado. O apresentador acredita que saiu da programação no momento certo, de certa forma quando a TV linear entrava em um processo irreversível de decadência (de consumo, não de qualidade), em razão da expansão de outros hábitos, especialmente no streaming,

A abordagem política permeia vários momentos do programa, cuja gravação tive o privilégio de acompanhar com exclusividade. Tas provoca Jô sobre as ameaças de censura que tem pipocado em várias ocasiões, mas Jô afirma e reafirma que estamos protegidos pela Constituição. “Podem tentar, mas não há como”.

Jô se diz assustado com pessoas que admitem ter votado em Jair Bolsonaro só para fugir do PT, algo “doente”. Tão “doente” quanto o próprio PT, fala, que precisa fazer uma grande autocrítica para seguir em frente.

Sem poupar A ou B, Jô se define como “um anarquista”.

A conversa vai ao ar no dia 10 de março, às 22h15, na TV Cultura, inaugurando cenário e a temporada 2020 do programa criado por Antonio Abujamra, repaginado por Tas desde o ano passado.

É um horário bem mais cedo do que a faixa ocupada por Jô ao longo de seus 28 anos à frente de talk show, entre SBT e Globo. Vale a pena não ir para a cama sem essa.

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Cristina Padiglione

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