Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Autoridades caem em descrédito ao atacar jornalistas com fake news

Como relatamos em matéria  de capa da Ilustrada, na Folha de S.Paulo desta sexta-feira (20), em um momento em que a população busca informações sobre um mal que afeta a todos nós e coloca milhares de vidas em risco no mundo todo, a busca pela notícia crível, apurada e checada por profissionais e veículos de tradição e credibilidade coloca as redes sociais, e em especial o WhatsApp, em planos duvidosos.

Nesse contexto, é ainda maior o estrago que parlamentares, endossados pelo mau comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, causam ao espalhar notícias falsas no Twitter, como volta a acontecer agora com a jornalista Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura, e colunista do jornal O Estado de São Paulo.

Em reação às críticas crescentes, e necessárias, do governador João Doria (PSDB-SP) à péssima condução que o presidente Jair Bolsonaro vem dando à crise de saúde, apesar de a situação ser até aqui muito bem gerida por Luiz Henrique Mandetta, que se mostra o melhor ministro deste governo, os deputados Douglas Garcia (PSL) e Gil Diniz (PSL) resolveram atacar a jornalista Vera Magalhães, que tem apontado os equívocos e a descompostura de Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus, “uma gripezinha”, segundo sua mais recente declaração sobre as pandemia.

Os parlamentares saíram pelo Twitter a dizer que ela recebe R$ 500 mil de salário da TV Cultura, emissora que pertence à Fundação Padre Anchieta, gerida com recursos do governo do estado e com outros vencimentos, fruto de publicidade e prestação de serviços a terceiros.

Acontece que o patamar de R$ 500 mil é o montante válido para dois anos de contrato. Vera recebe R$ 22 mil mensais, valor abaixo do mercado para um apresentador de TV (bem abaixo), e abaixo dos R$ 37 mil e todos aqueles gastos de viagens, refeições e afins que custeaim um deputado aos cofres púbicos, sem qualquer ajuda externa que não seja do nosso bolso.

Deram um tiro no pé.

Vera expôs seu contrato e autorizou a Cultura a fazê-lo.

Os bolsonaristas atacam todo e qualquer foco da imprensa que resolve questioná-los, não com argumentos, mas, invariavelmente, com notícias falsas. Da mamadeira de piroka e kit gay das eleições para cá, verifica-se a reincidência da prática de mentir e de serem desmentidos em seguida, produzindo um acervo de notícias falsas que vão se acumulando na memória do público. Aconteceu com Patrícia Campos Mello, que denunciou o esquema de disparo em massa pago via WhatsApp durante as eleições, e acontece agora com Vera Magalhães.

A Cultura produziu um editorial nesta sexta, lido pela apresentadora Ana Paula Couto, rechaçando as acusações sobre Vera, que só se fortalece com episódios como este. Os milicianos virtuais que apoiam as notícias falsas cada vez menos se impõem sobre tantos desmentidos, desacreditando os defensores de um presidente que dia a dia é ridicularizado aos olhos do mundo, por atitudes e frases que não honram o cargo que ocupa.

A jornalista promete entrar com “ações cível e penal contra todos os responsáveis” por espalhar a falsa notícia. Eis o editorial da Cultura, aqui descrito em texto e, logo abaixo, com cópia da edição exibida na TV:

“A TV Cultura atendeu aos pedidos insistentes de dois deputados federais paulistas, que pediram os valores do contrato da jornalista em nome da transparência”, disse a Cultura. “Diante dos números compatíveis com a prática de mercado, Douglas Garcia (PSL) e Gil Diniz (PSL) distorceram as cifras e divulgaram o valor total do contrato, um total de dois anos de salário.

Ao produzir um número que fosse um escândalo, fizeram o que parece ser a sua única razão de viver: espalharam hashtags difamatórias com seus robôs”, acrescentou. A TV Cultura ainda salientou que o salário de Vera não é pago com o salário público — a fake news também dava conta que a Fundação Padre Anchieta recebe R$ R$ 100 milhões do governador João Doria —, mas, sim, com a “receita obtida pela emissora com a venda de anúncios.

Em tempos de crise de saúde, os dois usaram a sede do Legislativo e tempo de seus mandatos, estes sim pagos com o dinheiro dos contribuintes, para caluniar e difamar. E, como sempre, preferencialmente jornalistas mulheres. A TV Cultura se solidariza com a sua companheira e lamenta que as milícias do presidente Bolsonaro sigam dando mostras de descolamento da realidade que a cercam. Enquanto o Brasil se preocupa com a maior epidemia dos últimos 102 anos, eles se ocupam em abusar da paciência do país.”

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Cristina Padiglione

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