Só a Globo chegou ao esconderijo de Queiroz em tempo de filmar a prisão
Só o Globocop chegou à casa do advogado Frederick Wassef em Atibaia (SP) em tempo de filmar a saída de Fabrício Queiroz, ex-assessor dos Bolsonaros, preso pela polícia na manhã desta quinta-feira (18). O helicóptero da emissora se deslocou até Atibaia assim que a reportagem da emissora soube da operação, demorando cerca de 15 minutos para chegar até lá.
Por telefone, o repórter Bruno Tavares deu as primeiras informações sobre a prisão, ainda pelos telejornais regionais e pelo Em Ponto, da GloboNews, entrando no ar depois com link ao vivo diretamente da Polícia Civil de São Paulo, onde mais tarde chegariam jornalistas, repórteres fotográficos e cinegrafistas de outros veículos de imprensa.
A imagem exclusiva é resultado de uma conjunção de fatores, antes de mais nada pelo mérito dos profissionais da emissora, que dispõe de plantonistas em exercício exclusivamente focados em operações policias. Digo isso como alguém que acompanha esse trabalho a distância, por meio de colegas e marido, jornalistas que há pelo menos 30 anos testemunham o permanente olhar desses setoristas da Globo, um investimento que tem perdido fôlego em redações de modo geral, e não só de televisão.
Mas a ausência de outros helicópteros no local não significa incompetência alheia, ou não necessariamente. Nem todas as emissoras e veículos estão bem abastecidos de profissionais, equipamentos e infra-estrutura para competir com a Globo numa hora dessas, mas há canais que ainda bancam bons investimentos em jornalismo, com bons profissionais, e teriam todas as condições de estar ao lado do Globocop na notícia do dia.
Nesse caso, no entanto, é preciso reforçar a importância do exercício do jornalismo com a liberdade de quem não tem contas a prestar aos aliados do patrão, lembrando que Record, SBT e RedeTV!, só para ficar nos casos mais explícitos, têm atendido com presteza a um noticiário que não desagrade a Jair Bolsonaro, por determinação dos donos das emissoras.
A notícia desta quinta-feira, naturalmente, está longe de encontrar algum meio de ser relatada sem aborrecer o presidente da República. É notório como as três redes pisam em ovos para informar sobre as controvérsias que alimentam as crises sanitária, política e econômica.
Todas chegaram com atraso à prisão do Queiroz e só iam informando aquilo que Globo e GloboNews já haviam dito. A Band, que sofre pelo desfalque de estrutura e profissionais, nem isso conseguiu fazer. Mais de meia hora depois de Tavares contar que o ex-motorista estava na casa do advogado dos Bolsonaros, o repórter Pedro Campos, da Rádio Bandeirantes, entrou no ar durante o Bora São Paulo, pela TV, para contar que Fabrício estava na “casa de um caseiro em Atibaia”. Apresentador do noticiário, Joel Datena ainda perguntou ao repórter por que “ele estava na casa desse caseiro”, o que Campos naturalmente não soube responder.
Datena se despediu do repórter e ainda emendou, em seguida, que a informação estava ali “em primeira mão para você”. É evidente que ele, no estúdio, não pode acompanhar tudo o que está acontecendo em Atibaia, na Polícia Civil ou em outros canais, de modo que falta, no caso da Band, apoio das redações integradas para evitar micos como este.
Mais tarde, outras imagens da prisão, feitas pelos agentes policiais que invadiram a casa, circularam por telejornais e redes sociais.
PONTO ALTO
O Em Ponto, da GloboNews, nadou de braçada na prisão do dia, ultrapassando 1 ponto de audiência, feito raro na TV paga, ainda mais antes das 7h da manhã. Ao noticiar a prisão às 6h35, com informações de Bruno Tavares, o canal pago de notícias da Globo superou até a audiência da maioria dos canais abertos, deixando os concorrentes CNN Brasil, Band News e Record News muito aquém de sua cobertura.
Para acender mais um fósforo no material do dia, a GloboNews dispunha de uma entrevista da repórter Andréa Sadi com Wassef, o advogado que abrigou Queiroz, em que ela lhe pergunta onde estava Queiroz, ao que ele responde: “Não sei”. Segundo o caseiro de Atibaia, o hóspede estava por lá havia um ano.
A CNN, hoje concorrente mais próxima da GloboNews, entrou com a notícia às 6h48. Mais tarde, ao conversar com o canal, o caseiro Orlando Novaes disse que Queiroz estava ali havia poucos dias, em versão diferente do que foi informado nas primeiras horas do dia pela apuração da Globo.
Na TV aberta, o Bom Dia São Paulo e o Bom Dia Rio entraram no caso ainda sem imagens, com informações de Tavares, por telefone. Antes que Queiroz desembarcasse na sede da Polícia Civil, em São Paulo, o repórter foi atualizando a cobertura com detalhes de bastidores ocorridos em Atibaia.
Queiroz é apontado como operador da Rachadinha em nome do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente, na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Desde janeiro de 2018, Flávio é investigado sob a suspeita de recolher parte do salário de seus subordinados como deputado, entre 2007 a 2018. Os crimes em apuração são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.