Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Porchat mantém temperatura de histórias com o cenário mais criativo da pandemia

Cenário mantém dinâmica do programa: Hassum e Hilbert diante de Porchat em programa que contará também com Fafá de Belém / Reprodução

Após um período de reprises, o Que História é Essa, Porchat volta ao ar em versão inédita logo mais, nesta terça-feira (4), a partir das 22h30, com Fafá de Belém, Rodrigo Hilbert e Leandro Hassum.

Demorou mais de dois meses para que a produção encontrasse um meio de retomar as gravações sem tropeçar na segurança de profissionais e convidados em tempos de tantas restrições impostas pela Covid-19. E após assistir ao primeiro episódio, posso dizer que valeu a pena esperar. As soluções cenográficas para fugir da manjada tela dividida ao modo Zoom são dignas de serem tratadas como a engenharia mais bem resolvida para uma conversa em grupo vista até aqui.

Fábio Porchat fica sozinho no cenário, assim como vem fazendo no Papo de Segunda, do mesmo GNT, mas os convidados não apenas surgem naquelas molduras com cada um no seu quadrado. Por melhores que sejam os cuidados com áudio e imagem das tradicionais telas divididas ao modo Zoom, a percepção de que a gente poder fazer o mesmo em casa, entre amigos, dá àquele visual um aspecto inevitavelmente doméstico.

Aqui, a coisa é nitidamente obra de profissional. No Que História é Essa gravado de modo remoto, os convidados, assim como os representantes de uma plateia virtual, surgem em círculos que se abrem em um paredão de meia curvatura, iluminado por adereços que de alguma forma parecem conectar uns aos outros. É um videowall com outro conceito, cheio de circunferências no lugar de quadrados. É esse telão, alternando imagens, com cada um na sua bola, que se ergue bem à frente de Porchat, ocupante do palco redondo, vermelho, cuja geometria orna com o entorno.

Cenário remoto mais original criado nesta temporada de pandemia, a obra é assinada pelo estúdio SuperUber, que trabalhou em parceria com a equipe de tecnologia da TV Globo, o Porta dos Fundos, o GNT e a diretora de arte Daniela Thomaz.

O propósito de manter a dinâmica original foi plenamente cumprido. A sintonia entre convidados e apresentador não foi abalada pela distância -aliás, ao contrário. Quem conhece o programa original sabe o quanto teríamos a perder se isso ocorresse. Na edição do dia, a temperatura das boas histórias se impõe de modo absolutamente orgânico.

Hassum aproveita para provar, mais uma vez, que ser engraçado nada tem a ver com peso. O ator, que já respondeu a inúmeras vezes se não tem receio de perder a graça por ter emagrecido, narra um episódio pessoal que é de fazer doer o maxilar do espectador. Fala sobre a primeira vez em que foi confundido com Otávio Muller, e como a situação lhe convinha, ele reconhece: “Não hesitei um milímetro”.

Mais eu não conto, para não dar spoiler e não estragar a narrativa de quem sabe contar uma história como o humorista. Melhor assistir.

Fafá de Belém lembra o dia em que se vestiu exuberante em figurino de noiva para ocupar lugar de convidada em um casamento de alguém que a destratava. E Hilbert revela a verdadeira origem de seu dedo torto, o que faz Hassum concluir, enfim, o que Fernanda Lima viu nele.

Como tem acontecido nas reuniões virtuais transformadas em programas de TV ou internet, o formato remoto tem propiciado um relaxamento que os famosos normalmente economizam nos encontros presenciais em estúdio, principalmente diante de plateias físicas. É como se desaparecesse aquele filtro de não dizer coisas impróprias em público, já que o sujeito está na casa dele, apenas diante de uma câmera e um ring light, anel de luz que virou hit das conversas virtuais.

Premiado em 2019 como o melhor programa de TV do ano pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), Que História É Essa? parece ainda melhor. A nova temporada na TV paga já tem gravados programas com Antonio Fagundes, Marcelo Médici, Sandra Annenberg,  Monique Alfradique, Sheron Menezes, Luis Miranda, Grazi Massafera, Wagner Santiesteban, Leilane Neubarth, George Sauma, Andreia Horta, Tom Cavalcanti, Nelson Motta, Armando Babaioff e Alexandre Nero, entre outros.

E o formato mostrou efeito tão divertido que as conversas já têm previsão para chegar à TV aberta: o programa estreia em outubro na Globo.

 

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Cristina Padiglione

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