Globoplay cria pacote com canais pagos e abertos, esvaziando TV por assinatura
A Globo cria a partir desta terça-feira, 1º de setembro, uma espécie de HBO GO com todos os seus canais: 21 pagos, Globo aberta, Futura e o conteúdo do Globoplay, com transmissão digital que permitirá acesso a todo o seu conteúdo em tempo real ou sob demanda, sem precisar mais do intermédio de uma operadora de TV paga para transmitir emissoras como GloboNews, Viva e SporTV, três dos mais bem colocados canais no ranking de TV por assinatura.
Às vésperas da chegada da plataforma sob demanda da Disney+ ao país, esse é um passo que certamente esvaziará ainda mais o mercado de TV paga tradicional, em que o assinante tem de pagar a uma operadora de TV para receber um grande volume de conteúdo. Uma velha queixa do consumidor é ter de engolir nos pacotes das operadoras canais de leilão de tapete ou de segmentos que não lhe interessam. É chegada a hora de as operadoras flexibilizarem as escolhas do consumidor, sob risco de perder ainda mais mercado.
Hoje, um assinante do Globoplay paga R$ 22,90 para ter acesso a todas as atrações da Globo aberta, inclusive ao vivo, os títulos originais da plataforma (aqueles que ainda não chegaram à TV aberta) ou atrações compradas de outras empresas, como “The Good Doctor” e “The Handmaid’s Tale” e até produções nacionais da FOX, como temporadas antigas de “Um Contra Todos”, “#MeChamaDeBruna” e “Impuros”. Como a Globo não tem programação infantil, boa parte do conteúdo do Gloob também já está lá.
Quem quiser ver GNT, Multishow, GloboNews, Viva, SporTV, Bis, Universal TV, Scy-Fi, Canal Brasil, etc., atualmente, tem de pagar a uma operadora de TV paga (Claro NET, Vivo, Oi, Sky e outras) para receber as emissoras nascidas sob o selo da Globosat por meio de uma mensalidade que não fica abaixo de R$ 80.
Agora, quem quiser assistir a todos os canais Globo, incluindo os pagos, ao vivo ou por não, mais o menu do Globoplay, pagará R$ 49,90. Os canais contratados por pacotes à parte, como Combate, Telecine e Première estarão disponíveis para um empacotamento à parte. A desvantagem em relação a um consumidor que hoje paga a uma operadora para acessar os canais pagos da Globo é que o pacotão do Globoplay não disponibilizará seus conteúdos sob demanda. O assinante poderá resgatar conteúdo de até quatro horas antes nos canais pagos ou esperar seis meses para ver o que perdeu.
“A TV paga tem um portfólio bem mais completo, são propostas complementares”, diz Paulo Marinho, diretor dos canais Globo, a um grupo de jornalistas em entrevista online, refutando a tese de que as operadoras serão canibalizadas pela nova oferta do GloboPlay. Os canais Globo formam a maior programadora dos pacotes de TV por assinatura.
Marinho e Erick Brêtas, diretor do Globoplay, negam ainda que o novo modelo tenha sido lançado neste momento em razão da chegada da Disney+, plataforma de streaming da Disney ao país. Não que haja pretensão de concorrer com a gigante internacional, mas convém estar preparado para ser escolhido por um consumidor que tem cada vez mais opções de escolher os cardápios que lhe interessam, sem depender das operadoras.
“Tem um público importante também que são os jovens que nunca desenvolveram uma relação com a TV por assinatura”, completa Brêtas.
“Nós estamos mirando essa relação direta com nossos consumidores”, segue Marinho, “combinando todos os ativos da Globo numa só oferta”.
Além da Disney+, a Viacom também prepara a chegada do Pluto, serviço sob demanda que dará acesso a canais como MTV, Comedy Central e Nickelodeon e Paramount.
Brêtas ressalva que no cenário de transformações da TV paga, “nós temos a informação de que as operadoras estão preparando sua entrada no streaming também, elas já começam a trabalhar a distribuição desse serviço”. “Esse mundo do streaming está aberto a todos para empacotar como quiserem.”
A oferta do pacote completo só estará disponível, neste primeiro mês, a quem já é assinante do Globoplay. Novos clientes só poderão aderir ao novo modelo dentro de um mês, até para dar à empresa um prazo de fazer ajustes que, segundo Brêtas, inevitavelmente são necessários em grandes lançamentos.
Segundo ele, 1,2 bilhão de pessoas no mundo consumiram streaming em 2020. “Nós tivemos 145% de aumento na base de assinantes desde janeiro”, contou.
A empresa está ainda antenada com o crescimento das Smart TVs, modelo que vem respondendo por crescimento relevante no consumo de horas do Globoplay.
“Eu só me pergunto onde isso vai parar”, reconhece Brêtas, quando cita que até 2021, algo entre oito e dez plataformas de streaming estarão disputando o bolso e a atenção do consumidor no Brasil. Para ele, o mercado não terá condições de abarcar todos e só os grandes sobreviverão, apostando que ninguém tem mais conteúdo nacional que o Globoplay.
Lembrei a Marinho e Brêtas que três anos atrás, quando a HBO lançou a HBO GO para dar ao consumidor a opção de compra dos canais HBO sem mais obrigá-lo a pagar por um pacote muito mais caro às operadoras, o custo da assinatura pela versão do streaming independente era o mesmo que o adicional dos pacotes pagos à TV por assinatura. Na ocasião, a HBO procurou não ferir seu principal distribuidor.
Agora, o preço oferecido pelo Globoplay para dar ao espectador todos os seus canais ao vivo é abertamente mais baixo que qualquer pacote com todos eles nas operadoras. Sinal dos tempos e de que logo logo, como prenunciou Brêtas, as operadoras estarão oferecendo pacotes também via streaming, como já ocorre nos Estados Unidos, segundo ele, com sucesso.
“Não vou aqui anunciar as novidades das operadoras, mas elas logo terão novidades para vocês”, prenunciou o diretor.
Por fim, não custa lembrar, streaming é muito bom e mais em conta, mas prescinde de um bom pacote de internet, um outro custo, para dar ao espectador a mesma sensação proporcionada pela imagem transportada pelo cabo.