Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Gafe com Lilia Cabral acusa desinformação de ordem machista

Lilia Cabral e o marido, Iwan Figueiredo / Foto:@liliacabral no Instagram

“E me fala uma coisa: não vai namorar, casar, como é que tá isso tudo, vai ficar como?”
“Eu? Eu sou casadíssima!” (rindo)
“Você tá casadíssima?”
“Há 25 anos!”
“Mentira! Olha que ótimo!”

O diálogo acima aconteceu com Lilia Cabral, sim, pessoa pública, que há duas décadas e meia circula livremente com o marido, o economista Iwan Figueiredo, em uma live (essa epidemia desses tempos de epidemia) com Felipeh Campos.

Muito já se falou sobre a gafe da desinformação, mas surpreende ainda mais o tom de cobrança com que a questão é feita à atriz, algo inusual em entrevistas com homens e ultrapassado, é bom avisar, quando se conversa ou entrevista uma mulher.

Como algumas poucas produções de dramaturgia já conseguem mostrar, uma mulher pode ter final feliz sem ficar com ninguém. Que venha para o nosso repertório, com louvor, muito mais que o “antes só do que mal acompanhada”. Que venha o “que bom estar só!”, por que não?

Foi assim com Marina Ruy Barbosa em “O Sétimo Guardião” e com Patrícia Pillar em “Onde Nascem os Fortes”. Na vida real, isso tem sido muito mais comum do que nas novelas, ainda pautadas por algum conservadorismo cravado no machismo estrutural que rege o mundo. Até beijo gay aconteceu antes de final feliz com mulher sozinha, mas, enfim, as mulheres já podem exibir a felicidade independentemente do casamento.

Só não é o caso de Lilia Cabral, maravilha, e cada um que encontre seu eixo como, onde e com quem  achar melhor. Mas, na arte da entrevista, é preciso atualizar o repertório. E, de preferência, informar-se sobre o básico. Não deveria causar estranheza que alguém não saiba o quanto parece indelicado, para os dias atuais, questionar uma mulher sobre namoro ou casamento, se não sabe sequer que sua entrevistada tem um parceiro fixo (e público, já que eles não namoram às escondidas) há 25 anos.

Não deveria. Mas causa espanto aos ouvidos, especialmente os femininos.

 

Nota da Redação

Felipeh Campos me telefonou após a publicação deste post, exigindo direito de resposta e garantindo ser jornalista. Ok, concordei em suprimir do texto o trecho em que o apresento como alguém que se apresenta como jornalista. “Vou jogar meu MTB (registro profissional) na sua mesa”, prometeu. 

Aguardei pelo texto de direito de resposta.

Nada recebi até agora, 16 horas após o telefonema. Campos gravou um vídeo e o publicou em seu perfil no Instagram, alegando que as normas do bom jornalismo pediriam que ele ao menos tivesse sido procurado para se defender. Sendo este texto uma crítica, no entanto, não me caberia questioná-lo sobre o contexto aqui analisado. Mas é dado ao lado criticado todo o direito de defesa, evidentemente.

No vídeo, Campos justifica que é gay, e como tal, não pode ser machista. Disse que não pode ser racista (o que em momento algum foi aqui mencionado) porque sua religião é o candomblé, e que o sucesso de suas lives certamente estão incomodando alguns.

Aberto espaço para suas alegações, confesso que me sinto no quadro O Grande Debate, não o da CNN Brasil, mas de sua paródia, pelo Porta dos Fundos, em que um dos lados desiste de ter de explicar o básico. Machismo estrutural nada tem a ver com gênero. Há inclusive um machismo milenar impregnado em mulheres, de modo que ser homossexual não exime ninguém de cometer deslizes nesse campo.

Sobre o sucesso das lives de Campos, desejo ainda mais sucesso e sorte a ele. Abaixo, a íntegra do vídeo em sua defesa.

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