TV paga perdeu mais de 1 milhão de assinantes em 2020, e não só para o streaming
A base de assinantes de TV paga recuou a patamares inferiores a 15 milhões de assinantes, nível que não se via desde 2012, como relata o maior expert nesse assunto, o jornalista Samuel Possebon, em reportagem da publicação Tela Viva. Os dados se referem ao balanço de novembro consolidado pela Anatel.
Naquele mês, o setor registrou 14,918 milhões de pagantes, com uma perda de 105 mil no mês e de 1 milhão no balanço dos 12 meses anteriores.
Possebon analisa ainda que a queda foi mais acentuada em novembro.
A indústria atingiu seu ápice em novembro de 2014, com quase 20 milhões de assinantes. Desde então, segue em queda, tendo perdido 5 milhões de pagantes no período.
Seria irresponsável, da minha parte, associar diretamente a queda de consumidores da TV paga com os serviços de streaming. Não há um levantamento que mensure o tamanho dessa migração. Mas é inevitável lembrar que novembro também marcou a chegada de um novo serviço de streaming ao Brasil, a Disney+, com conteúdos de grandes bilheterias.
Ao mesmo tempo em que as programadoras e operadoras perdem receita pelo número de assinantes, procuram estender seus conteúdos e pacotes a outros modelos, distribuindo programas por plataformas de streaming e ensaiando pacotes por meio desta outra tecnologia. A maioria das operadoras também tratou de incorporar aos seus menus de opções o acesso à Netflix e à Disney, mantendo o telespectador no seu quintal.
No final do ano, a DirecTV também chegou ao país com serviço de streaming e pacotes que incluem canais da TV paga.
Em dezembro, a Viacom, dona da MTV, Comedy Central e Nickelodeon, inaugurou no país um serviço de streaming robusto, com acesso gratuito e custeado pro publicidade, como o YouTube, mas tendo o cuidado de não canibalizar a receita que vem dos canais pagos. A Pluto, portanto, não oferece as mesmas atrações que estão na TV paga.
De olho nos novos hábitos, o grupo Discovery, que frequenta o topo do ranking na TV paga no Brasil, acaba de lançar seu serviço de streaming nos Estados Unidos, com uma flexibilização de pacotes que as operadoras aqui resistiram em oferecer ao consumidor. Ainda não há previsão para o lançamento da Discovery + no país.
Mas, para muito além da migração de consumidores de TV paga para serviços de streaming, há a crise econômica que acompanha esse mesmo período, de 2014 para cá, com ênfase para a pane causada pela pandemia em 2020. Muita gente preferiu trocar pacotes de R$ 100 a R$ 200 por taxas que vão de R$ 9,90 (Amazon) a cerca de R$ 20 (Netflix, GloboPlay e Disney), mas esse custo não engloba o serviço de banda larga, algo que as operadoras de TV paga ainda oferecem como vantagem em seus pacotes.
É previsível que boa parte dessas 5 milhões de assinaturas da TV paga tenha sofrido um apagão de conteúdo audiovisual ou navega apenas por serviços de conteúdo gratuito, desde que a sua banda larga suporte. A necessidade do ensino a distância expôs um drama que a nossa bolha de conectados desconhecia, ou ao menos ignorava em suas reais proporções.