Muito além da Ancine: fundo internacional vira parceiro de instituto brasileiro
Em meio à nulidade em que se transformou a Ancine (Agência Nacional de Cinema, órgão que concentra os fomentos e incentivos para financiar a produção de cinema e TV no país), as iniciativas do setor privado, por meio de instituições nacionais e internacionais, soam como água no deserto para a indústria brasileira.
Essa verba só será utilizada para produções brasileiras.
Em contrapartida, os roteiristas participam do Paradiso Multiplica, uma iniciativa de difusão de conhecimento dos profissionais apoiados pelo Projeto Paradiso, ou seja, uma rede de troca de experiências em que talentos, ideias e formação profissional abastecem novatos.
“Os beneficiados pelo projeto são depois solicitados para ajudar a distribuir o conhecimento que adquiriram aos próximos beneficiados, às vezes por meio de uma palestra ou de algo em que ele possa ser útil”, explica a gerente de programas do Paradiso, Rachel do Valle.
“Considerando a situação atual de fomento público no Brasil, entendemos que é mais importante do que nunca estreitar essa relação e firmar a presença do Fundo ao lado dos diretores brasileiros. Ao lado desse importante fundo internacional, vamos fortalecer o lugar do cinema nacional no mundo”, explica Josephine Bourgois, diretora executiva do Projeto Paradiso.
O Hubert Bals Fund tem mais de 30 anos de atuação e uma longa história de apoio ao cinema brasileiro. Desde a sua criação, já apoiou 66 filmes nacionais, e o Brasil hoje representa quase 10% dos candidatos ao seu financiamento.
Assim batizado em referência ao amor ao cinema expresso no filme de Giuseppe Tornatore, “Cinema Paradiso”, o Projeto Paradiso, uma iniciativa filantrópica do Instituto Olga Rabinovich, investe em formação profissional e geração de conhecimento com programas de bolsas e mentorias, além de cursos, seminários e estudos. Focado na internacionalização da indústria brasileira, o Paradiso atua por meio de parcerias com instituições de referência no Brasil e no mundo, criando oportunidades para profissionais em diferentes fases da carreira.
Em quase dois anos de existência, são 51 profissionais brasileiros do audiovisual beneficiados, nove projetos selecionados pela Incubadora Paradiso, 34 bolsas de estudo internacionais, 44 instituições parceiras, além de 10 cursos e masterclasses oferecidos.
Já o Hubert Bals Fund é um fundo curatorial voltado ao apoio de cineastas vindos de África, Ásia, América Latina, Oriente Médio e partes da Europa oriental, em todas as etapas de produção de longas-metragens – do desenvolvimento de roteiro à pós-produção.
Em mais 30 anos de existência, o fundo apoiou 66 projetos de longas brasileiros.
Sim, temos luz, e nem é no fim do túnel, mas sim ao alcance da nossa esperança.
Em 2020, por causa da pandemia, o Paradiso inaugurou até um Drive In, algo que não fazia parte de seus planos, para encontrar um meio de sanar a sede do público por uma boa telona. “O Paradiso não tem, evidentemente, o fôlego de investimento de uma Ancine, mas estamos procurando ajudar a fazer alguma coisa”, completa Rachel, profissional com anos de experiência na BRAVI, ex-ABPI-TV, a Associação Brasileira de Produtoras Independentes.
A indústria do audiovisual brasileiro vinha movimentando, até 2019, R$ 25 bilhões por ano, sendo responsável por cerca de 330 mil empregos. E mesmo antes da pandemia, ainda em agosto do primeiro ano do governo Bolsonaro, o setor já se manifestava contra o desmanche vigente na área.