Onde estão as falas femininas nos reality shows da Globo?
A Globo tem se esforçado para marcar datas emblemáticas para ampliar a pluralidade de gêneros, cores e culturas. Produziu Falas Negras no Dia da Consciência Negra, Falas Femininas no Dia Internacional da Mulher e agora fará Falas Indígenas no Dia do Índio, 19 de abril, que, como canta Baby ex-Consuelo, é só um dia. Antigamente, todo dia era dia d’Índio, atesta a canção.
Na aplicação das homenagens ao elenco da casa, tem sido exemplar a tentativa de equilibrar homens, mulheres, brancos e negros em seus elencos e na formação de novos profissionais de roteiros e direção, embora as mulheres ainda sejam muito excepcionais nos postos de comando da Globo.
Mas não mais excepcionais do que no comando de reality shows, gênero que há de tomar o calendário quase completo da emissora, sem que uma única representante do sexo feminino ocupe o posto de apresentação.
A Record, nesse quesito, conseguiu avançar mais que a Globo, mesmo sem produzir um programa em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Lá estão Adriane Galisteu, pronta para apresentar o “Power Couple”, e Sabrina Sato, que pilotará “A Ilha”, novo reality show da emissora, previsto para julho.
A Band tem Ana Paula Padrão no comando do bem-sucedido “Masterchef”. Na Globo, até o reality de culinária é apresentado por homem, no caso, Claude Troisgros, com apoio de Batista, seu fiel escudeiro.
No SBT, Nadja Haddad comanda o “Bake Off” e Chris Flores, o “Fábrica de Casamentos”, no momento suspenso pela pandemia.
Nada contra eles, todos ótimos. De Troisgros e Batista, que eu amo, a Tiago Leifert, passando por André Marques e Márcio Garcia, todos são de exemplar competência. Mas jura que não há uma única mulher à altura de apresentar “The Voice”, “BBB”, “No Limite” ou “Mestre do Sabor”?
Ok, elas estão presentes nos júris, no caso de “The Voice” e “Mestre”, mas são coadjuvantes dos apresentadores machos, todos menininhos.
Esse é um avanço que falta ao gênero, sem falar na cor, que já é outra aberração e vale para todos os canais, observando que o “The Voice” esteja se empenhando para equilibrar essa questão em seus times de técnicos e que a Globo esteja investindo em Manoel Soares no É de Casa (que não é reality).
Já nos programas de auditório, andamos para trás. Se houve um tempo em que tínhamos Hebe Camargo, Xuxa, Eliana, Angélica e até Mara, ficamos hoje apenas com Eliana e Fátima Bernardes. Fernanda Gentil, uma aposta única na Globo, está no impasse entre a redução das plateias imposta pela pandemia e a redução de seu próprio programa, que passou de diário a semanal.
É só uma dica: falta à maior produtora de conteúdos do país apostar nas mulheres, sobretudo em reality shows, onde há uma incômoda coincidência de homens héteros e brancos em postos de comando. E quanto maior o número de reality show, maior o número de representantes de Adão.
Na Globo, os realities são comandados por Boninho. Na Record, a área está sob a batuta de Rodrigo Carelli. Mas convém notar como há mulheres nos postos de comando das produtoras responsáveis por alguns dos formatos mais bem-sucedidos de reality show, caso de Daniela Busolli, da Formata (“Fábrica de Casamentos”), Elisabetta Zenatti (“De Férias com o Ex”, na MTV), e Juliana Algañaraz, CEO da Endemol Shine, responsável por vários formatos produzidos no Brasil, inclusive o “BBB” e o “Masterchef”.
Será que as pesquisas apontam que elas sofrem algum tipo de rejeição do público? Será que faltam talentos femininos para tal função? Ou falta treinar e investir nelas na mesma medida em que isso é feito entre eles? A ver.
É preciso transformar efemérides em dia-a-dia.
P.S. Após a publicação do texto, leitores me alertaram de que me esqueci de Taís Araújo, apresentadora do PopStar, mas o caso é que não temos ainda uma previsão de PopStar para este ano. De todo modo, esse passado recente nos dá alguma esperança de futuro próximo com ao menos uma mulher no comando do gênero reality/talent show.