Fernando Meirelles produz filme sobre fake news
Além de estar dirigindo um novo filme para a Netflix, agora sobre a crise do clima, o cineasta Fernando Meirelles contou ao blog que assumiu também o papel de produtor em um longa-metragem de ficção sobre fake news. “Ressentidos” é uma ideia de Fernando Fraiha e Daniel Furlan, que estão desenvolvendo o roteiro.
“Eu estou com um projeto agora muito legal com o Fernando Fraiha, que provavelmente vai dirigir, e o Daniel Furlan, chamado ‘Os Ressentidos’. É uma história que começa em 2012, sobre a construção da fake news, de como essa indústria chegou no mundo inteiro, mas a nossa história é centrada no Brasil. O cara que acaba criando isso, por acaso, se torna o centro de um negócio que cresce, cresce, até ele perder o controle”, explica.
“É uma história muito legal. O roteiro é do Fernando e do Daniel, e eu acho muito importante. É meio que um drama comédia, mais drama do que comédia, tipo um ‘Coringa’, mas é muito interessante porque hoje, se eu não leio na Folha, não vejo na Globo ou num órgão de imprensa que eu confio, eu já não acredito em mais nada. E é um estado tão maluco que o Fernando falou: ‘vamos fazer um filme pra saber como é que a gente chegou a esse ponto’. É um filme sobre isso, é bem legal, esse eu sou produtor.
A revelação sobre o novo projeto foi feita em encontro promovido pela Sky para uma masterclass que ele ministrará nesta quinta (22). Foi quando lhe perguntei sobre o que no Brasil hoje renderia um bom roteiro, da Lava-Jato a Bolsonaro, passando pelo cancelamento do julgamento de Lula. A vida real, afinal, tem vencido qualquer critério de ficção.
Antes de nos falar sobre “Ressentidos”, o cineasta confessou que tem evitado ler qualquer coisa sobre o presidente Jair Bolsonaro, que vem “roubando” seu tempo.
“Nossa, tudo no Brasil dá roteiro hoje, com alto drama misturado com comédia do absurdo, é difícil escolher”, disse ele. “Mas eu estou fazendo uma experiência, agora vai fazer 20 dias, que eu estou me recusando a ler qualquer notícia onde menciona… Eu vejo ‘Bolsonaro’, vejo foto dele, pulo. Não abro e-mail, não abro vídeo falando mal, não abro, porque há um mês eu percebi que, como a maior parte das pessoas, eu ficava diariamente lendo aquilo, alimentando uma certa raiva, angústia, e eu percebi que ele estava me roubando diariamente três, quatro horas, roubando minha psique, ele estava fazendo set up do meu estado mental. Eu falei: ‘quer saber? Esse cara tá me roubando, tá roubando minha cabeça, não quero’. Cortei.”
“Então”, continua, “eu leio umas matérias, acompanho, mas se é matéria sobre Bolsonaro, de como ele é um psicopata, eu pulo. Já sabemos que ele é um psicopata. Não faz sentido a imprensa ficar fazendo diariamente várias matérias dizendo que ele é um psicopata, temos que trata-lo como um louco, não como uma pessoa que é razoável. Ele faz uma loucura? Esquece, é uma loucura de um louco falando. Eu pus isso na minha cabeça. Não me interessa ouvir porque não me interessa ouvir um psicopata. Não leio mais, não ouço mais e assim eu resumi.”