Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Manuela Dias escreve minissérie com ‘contraponto’ sobre Canudos

A dramaturga Manuela Dias, nascida na Bahia, busca outro olhar para narrar o conflito de Canudos / Divulgação

Nem bem descansou da longa jornada de “Amor de Mãe”, Manuela Dias engata mais uma minissérie para a Globo. Além da 2ª temporada de “Justiça”, a autora vem criando um enredo sobre a guerra de Canudos como um “contraponto histórico” da narrativa de Euclides da Cunha.

“O Conselheiro e a Menina Azul” retrata uma garota naquele contexto do conflito armado que envolveu o Exército Brasileiro e membros da comunidade sócio-religiosa liderada por Antônio Conselheiro, em Canudos, no interior do estado da Bahia, no final dos anos 1800.

Manu falou sobre o assunto ao podcast Calcinha Larga, com Tati Bernardi, Camila Fremder e Helen Ramos, confessando que tem certa “birra” de Euclides da Cunha, mesmo reconhecendo o valor de seu “Os Sertões”.

Para ela, Cunha passou muito pouco tempo naquele cenário para concluir sua narrativa. “A meta é fazer um contraponto histórico”, disse ela, que é baiana.

“É uma minissérie que se passa em dois tempos, os dois tempos em Canudos, que conta a história da guerra pelo olhar de uma menina que vive em Canudos. Eu tenho uma implicância horrível de Euclides da Cunha, euzinha, pequenininha, com meu tamanho de grão, acho que Euclides da Cunha foi um preconceituoso terrível”, falou.

“A forma como ele se aproxima… Os conselheiristas, quando são corajosos, são fanáticos. Os soldados, quando são corajosos, são bravos, incríveis. Essa narrativa dos ‘Sertões’ é uma obra muito estrutural na narrativa do que é o nordeste. [Digo] Como baiana, como nordestina, existe toda essa narrativa do nordeste como cotiadinho, do nordeste que precisa de ajuda, do nordeste que não sabe se virar sozinho, ela também é uma narrativa construída, e o Euclides é uma voz central nessa construção.”

“Então”, segue Manu, “eu tenho muito birra do Euclides, acho que ele foi muito desrespeitoso, ele inclusive passou pouquíssimo tempo em Canudos, até como jornalista, que é a minha formação primeira, ele foi falho. Existem outros jornalistas, enfim, Manoel Benício, outros que passaram muito mais tempo lá, mas, claro, ele fez ‘Os Sertões’, que tem obviamente um valor imenso, mas é a outra história. Minha meta é o contraplano histórico. Então, a gente está o tempo todo colado em Canudos e o exército é o nosso figurante. E é uma história maravilhosa porque a primeira coisa que o governo fez por aquela região foi construir duas estradas pra destruir Canudos. E Canudos, quando foi destruída, tinha 125 mil pessoas, era São Paulo do sertão. A segunda maior cidade tinha 8 mil pessoas, para se ter uma ideia.”

A produção deve ser exibida inicialmente pelo GloboPlay, mas não há previsão para as gravações, que certamente vão aguardar o fim do isolamento social, e menos ainda sobre exibição.

 

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Cristina Padiglione

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