Crianças dão pito nos pais em nova campanha contra pirataria
Nova campanha da ABTA –Associação Brasileira de Televisão por Assinatura– coloca as crianças como protagonistas do recado, mais uma vez. Os pequenos apontam que os pais que pirateiam sinal de TV não fazem o que pregam aos filhos, ensinados a não mentir e a não roubar.
Não é a primeira vez que os menores mandam esse recado. Nos tempos em que a gente via DVD e o streaming de filmes não era toda essa fartura, já assistíamos àquele enredo em que um menino cola a prova toda do coleguinha e, ao ser repreendido pelo pai, aponta que a prova dele é tão pirata quanto o filme que ele comprou.
Em um cenário de tamanhas necessidades prementes, a começar pelo prato de comida, é inglório o esforço da indústria de TV para frear a falta de pagamento pelo serviço, e por mais que a gente saiba que isso afeta toda uma cadeia de produtividade, com empregos e dinheiro em circulação, o individualismo vigente no momento, apesar de tantos movimentos solidários, torna a missão bastante difícil.
Em um país onde tantas pessoas não se apropriam de suas florestas, não se solidarizam com seus conterrâneos, furam fila de vacina e continuam vendo o poder público levar tantas vantagens sobre o cidadão comum, é complexo explicar que o dinheirinho delas afeta o progresso da nação.
O impacto estimado dos acessos ilegais à TV por assinatura é de R$ 15,5 bilhões por ano, dos quais R$ 2 bilhões são de impostos que deixam de ser arrecadados. O sujeito que pirateia sinal, no entanto, está calculando só o ganho próprio, um problema visceral de educação contra as pequenas corrupções do dia a dia, as mesmas que nos levam depois a protestar contra os nossos políticos.
Como digo sempre, os representantes eleitos pelo povo não vieram de Marte. Não adianta culpar Brasília pelos males do Brasil e achar normal o consumo gratuito de serviços que tiveram custo para chegarem até suas telas.
Um estudo aponta que 27,2% dos internautas com mais de 16 anos consomem conteúdo de TV por assinatura por um ou mais meios piratas. O levantamento foi feito pela Mobile Time/Opinion Box, em março deste ano.
Somente nos portos do Rio de Janeiro foram apreendidas, desde 2020, cerca de 1 milhão de TV Box piratas – decodificadores que desbloqueiam ilegalmente o acesso a canais pagos. Segundo a polícia, essas apreensões geraram um prejuízo de mais de R$ 470 milhões ao crime organizado.
Os responsáveis pelas cargas ilegais podem responder por violações de direitos autorais (art. 184, §3º do Código Penal) e contrabando (art. 334-A do Código Penal).
Também em 2020, a Secretaria de Operações Integradas (SEOPI), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, coordenou a segunda fase da Operação 404, com ações da Polícia Civil em 10 estados. Foi a maior ação de combate à pirataria de conteúdo audiovisual já realizada na América Latina.
Foram cumpridos 25 mandados judiciais de busca e apreensão e bloqueados ou suspensos 252 sites e 65 aplicativos de streaming ilegal. A estimativa é que mais de 26 milhões de usuários tenham sido impactados.
A nova campanha antipirataria soma oito filmes e tem criação da Globo, que tem na TV aberta e gratuita o seu maior fôlego, mas também é dona de vários canais pagos, além do streaming GloboPlay. A produção é da Mixer.
Os vídeos, de 30 segundos cada, mereceram lançamento no Fantástico neste domingo (23) e serão exibidos nos próximos meses nos intervalos de canais abertos e fechados.
“Nossa campanha traz um alerta das crianças para esta falta de integridade, entre discurso e prática de muitos adultos”, diz Oscar Simões, presidente da ABTA. “As crianças entendem que um desenho animado, um filme ou um jogo é resultado do trabalho de muitas pessoas e que isso precisa ser respeitado. Entendem também que mesmo um conteúdo disponível na internet não deve ser acessado se for ilegal. Elas sabem que isso é crime, assim como nós também sabemos”, conclui.
Junto aos governos estaduais, a ABTA pretende martelar todo o prejuízo causado pela pirataria, a fim de obter mais colaboração na fiscalização de sinais piratas.
O setor de TV por assinatura vem perdendo consumidores desde 2014, quando o setor atingiu o ápice de assinantes no Brasil, com quase 20 milhões de clientes. Hoje, são pouco mais de 14 milhões.
Só em março deste ano, foram 198,5 mil perdas. No mesmo mês de 2020, segundo dados publicados pela Teletime com base nos números da Anatel, o mercado perdeu pouco menos de 90 mil assinantes.
Só entre pagantes, a perda superou 2 milhões de clientes nos últimos dois anos. É verdade que muita gente tem migrado para serviços mais em conta no streaming, mas a crise econômica está no topo dos diagnósticos que explicam a baixa de consumidores na TV por assinatura. Afinal, quem pode pagar por mais de um serviço, assim tem feito.