Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Atacada por ‘minoria barulhenta’, Globo não fará concessões, avisa Bonner

William Bonner no JN que registrou a marca de 500 mil mortes por Covid / Reprodução

No dia em que o Brasil ultrapassou 500 mil mortes pela Covid-19, o Jornal Nacional se estendeu em reportagens sobre a emoção da vacinação e a dor de tantas mortes que poderiam ter sido evitadas. Ao final de uma edição que destacou as manifestações por todo o país contra o presidente Jair Bolsonaro, reivindicando vacinas e auxílio, William Bonner e Renata Vasconcellos leram um editorial da emissora em relação ao posicionamento assumido pelo jornalismo da Globo desde o início da pandemia.

Em seu discurso, o editor-chefe do JN afirmou que “tudo tem vários ângulos e todos devem ser sempre acolhidos para discussão, mas há exceções, quando estão em perigo coisas tão importantes como a saúde, por exemplo, ou o direito de viver em uma democracia: em casos assim, não há dois lados, e esse é o norte que o jornalismo da Globo continuará a seguir.”

“Nós, do jornalismo da Globo”, afirmou Bonner, “estamos há um ano e meio com base na ciência cumprindo o nosso dever de informar, sem meias palavras”.

E não se esquivou de lembrar que a emissora é alvo de ataques em razão desta postura: “Muitas vezes, nós pagamos um preço por isso, com incompreensões de grupos que são minoritários, mas barulhentos. Não importa. Nós seguimos em frente, sem concessões, e seguiremos em frente, sem concessões”, avisou.

Pouco antes, Renata Vasconcellos disse que a maioria de nós haverá de ter motivos para se orgulhar de ter feito algo em favor da vida. Os dois também lembraram que o JN cobrara responsabilidades em outro editorial, quando o país ainda estava nos 100 mil mortos e aquele montante já parecia inadmissível.

Confira o texto completo do editorial lido pelos dois apresentadores ao final da edição deste sábado (19):

“Em agosto do ano passado, quando o Brasil ultrapassou o registro escandaloso de 100 mil mortes pela Covid, o Jornal Nacional se manifestou sobre essa tragédia em um editorial. Parecia que o país tinha superado um limite inalcançável, 100 mil mortos. Hoje são 500 mil, meio milhão de vidas brasileiras perdidas. O sentimento é de horror, e de uma solidariedade incondicional às famílias dessas vítimas. São milhões de cidadãos enlutados.

Hoje, é evidente que foram muitos e muito graves os erros cometidos, e eles estão documentados, por entrevistas, declarações, atitudes, manifestações. A aposta insistente e teimosa em remédios sem eficácia, o estímulo frequente a aglomerações, a postura negacionista e inconsequente de não usar máscaras, e o pior, a recusa em assinar contratos para a compra de vacinas a tempo de evitar ainda mais vítimas fatais.

No editorial que marcou as 100 mil mortes, nós dissemos que era preciso apurar de quem é a culpa. Dissemos textualmente que este momento chegaria. Desde o início de maio, o Senado está investigando responsabilidades. Haverá consequências. E a mais básica será a de ter levado ao povo brasileiro o conhecimento doe como e por que se chegou até aqui.

Quando todos nós olharmos para trás e quando perguntarem o que fizemos para ajudar a evitar essa tragédia, cada um de nós terá a sua resposta A esmagadora maioria vai poder dizer, com honestidade e com orgulho, que fez de tudo, fez a sua parte e mais um pouco.

Nós, do jornalismo da Globo, estamos há um ano e meio com base na ciência cumprindo o nosso dever de informar, sem meias palavras. Muitas vezes, nós pagamos um preço por isso, com incompreensões de grupos que são minoritários, mas barulhentos. Não importa. Nós seguimos em frente, sem concessões, e seguiremos em frente, sem concessões.

Porque tudo tem vários ângulos e todos devem ser sempre acolhidos para discussão, mas há exceções, quando estão em perigo coisas tão importantes como a saúde, por exemplo, ou o direito de viver em uma democracia: em casos assim, não há dois lados, e esse é o norte que o jornalismo da Globo continuará a seguir.”

 

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