Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Tributo a Silvio Santos reúne depoimentos, histórias e cenas preciosas

Reprodução

Silvio Santos demorou cinco anos para concordar em exibir o tributo que Leonor Corrêa dirigiu  para homenageá-lo em seus 85 anos. Sorte a nossa. A edição, com apresentação de Marília Gabriela, reúne depoimentos preciosos, cenas memoráveis e relatos capazes de esclarecer várias passagens históricas controversas, como a aquisição de 50% da TV Record por meio de um testa de ferro.

O número de profissionais e personalidades reunidos na edição faz da produção um material rico, com extensão à montagem. É muito feliz a costura entre relatos, cenas antológicas e as tantas histórias que fazem do Homem do Baú uma figura folclórica, com a vantagem de ele ser real.

O material humano de quem construiu uma vida de grandes conquistas a partir do trabalho como camelô, sempre disposto a divertir a plateia, não poderia render pouca coisa, mas Senor Abravanel, como disseram algumas das personalidades ouvidas, é gênio e sedutor, no sentido de sempre persuadir seu interlocutor.

Morto em 2019, Gugu Liberato conta em detalhes como Silvio convenceu Roberto Marinho a desistir de contratá-lo, apesar da pressão de Boni, então todo-poderoso da Globo na época, que confirma os detalhes na edição. O próprio Boni lembra como Silvio o contratou e, no mesmo dia, resolveu romper o trato.

Boni relata também que foi Roberto Marinho quem impediu que Silvio deixasse a TV Paulista antes dos anos 1970. Por ele e Walter Clark, então diretor-geral da Globo, Silvio teria sido despejado mais cedo, já que seu departamento comercial funcionava à parte do comercial da Globo.

Serginho Groisman lembra que mal conseguia prestar atenção ao que ele dizia, quando foi chamado a ir ao seu encontro pela primeira vez, a ponto de Silvio pedir que ele puxasse os seus cabelos para sair do devaneio. Maisa Silva também puxou os cabelos do patrão, mas foi diante das câmeras, e rememora o ótimo episódio de quando ainda era pirralhinha.

Boris Casoy atesta que criticou, à frente do TJ Brasil, a candidatura repentina do dono da emissora à presidência da República em 1989, sem ser censurado internamente por isso.

E Nilton Travesso lembra como o dono da estação, como Silvio gosta de se referir à sua condição de proprietário, um dia baixou de surpresa na cidade cenográfica de “Éramos Seis”, com Íris e as filhas, para andar de bondinho.

O filme ouve os dois reis do Brasil, Pelé, que avisa que Silvio não entende nada de futebol, e Roberto Carlos, figura raríssima em produções fora da Globo, que o mantém preso sob contrato. O cantor não foi nada econômico nas declarações de admiração a Senor Abravanel.

Fausto Silva, que nunca foi visto em cena fora da Globo nos últimos 32 anos, também fala sobre o homenageado, e ainda que digam que o depoimento dele pode ter sido facilitado pela diretora, que é sua irmã, convenhamos: Faustão tem mais é que engrossar o coro de homenagens a Silvio, a quem, de certa forma, deve todo o seu império. Foi para sanar a liderança de Silvio, afinal, que a Globo contratou Faustão em 1988 e fez dele o apresentador mais bem pago da TV brasileira.

É interessante ver Geraldo Alckmin lembrando como resistiu e por que decidiu finalmente ir à casa de Silvio Santos naquele fatídico dia em que o sequestrador de Patrícia Abravanel fez o empresário refém em sua própria casa, no Morumbi, em 2001.

Sérgio Mallandro conta que quando tentou combinar uma piada com o patrão, Silvio o inibiu: “Faz o seu que eu faço o meu, e assim dá certo”. E Sônia Lima fala que ele nunca se apertou para substituir alguém que faltasse: “Bota a telemoça!”, “Chama o Roque”.

O programa ouve ainda outros donos de rede de TV, como Edir Macedo, Amílcare Dallevo e Marcello Carvalho. Registra o relato de Jô Soares sobre como nasceu seu talk show.

Lá estão também Eliana, Celso Portiolli, Rodrigo Faro, Fábio Porchat, Adriane Galisteu, Roberto Cabrini, Ana Paula Padrão, Carlos Nascimento, Mara Maravilha, Décio Picinini, Danilo Gentili e a própria Marília Gabriela, que circula pelos cenários para apresentar a edição.

Gravado em 2015, o filme teve sua íntegra original preservada, sinal de respeito à diretora. Até Dilma Rousseff é apresentada como presidente do país. Lula e Fernando Henrique também se proncunciam sobre o homenageado, em especial, sobre o episódio da candidatura que fracassou.

Companheiro desde os primeiros auditórios, ainda na TV Paulista, antes da chegada da Globo por ali, Luciano Callegari conta, às gargalhadas, como era o processo de criação de Silvio Santos.

Outro grande momento da produção é ouvir Alexandre Frota, Supla e Bárbara Paz sobre a histórica “Casa dos Artistas”. Em vez de exibir vídeos da casa só para o público, como nos habituamos a ver no “BBB”, Silvio dava aos confinados acesso àquelas imagens, aumentando o clima de rivalidade entre os participantes.

Frota chegou a sair da casa e voltou, gerando prostestos do público quanto às regras do programa. “Não, quem faz a regra sou eu”, disse o animador. Supla e Bárbara também lembram o sucesso da ocasião, que irritou sobremaneira a Globo, que havia acabado de comprar os direitos de exibição do Big Brother, fonte de referênica para “A Casa dos Artistas”

Em resumo, o documentário-homenagem de Leonor Corrêa é uma aula sobre Silvio Santos, mas, em especial, uma aula sobre comunicação. O SBT disponibilizou a edição no YouTube, no Canal do Programa Silvio Santos, mas com vários cortes de imagens não autorizadas a serem vistas pelo portal.

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