Apoiar uma mulher é apoiar o futuro: contrastes do audiovisual
Por Bárbara Sturm *)
As mulheres ainda estão atrás dos homens no audiovisual. Nos filmes lançados anualmente todo ano no mundo, apenas 19% são de diretoras.
Em (única) pesquisa realizada pela Ancine – agência do cinema brasileiro – em 2018, 34% dos filmes brasileiros lançados nos cinemas naquele ano tinham alguma mulher na produção, 18% no roteiro e 12% na direção de fotografia. Números muito baixos que refletem nas histórias a que assistimos e nos inspiram, ou inspiram alguns.
Em 2010 pela primeira vez uma diretora, Kathryn Bigelow, ganhou o Oscar de Melhor Direção. Foram 82 anos até isso acontecer. Não por acaso, o mesmo filme, “Guerra ao Terror”, venceu também o prêmio de Melhor Filme. Parece que para ser reconhecida como uma grande diretora, a mulher tem que ganhar o prêmio máximo do evento e provar que tem capacidade total, aí pode ser considerada na brincadeira.
Essa conquista foi fundamental e se refletiu diretamente na sociedade. Movimentos, festivais, produtoras e muitos projetos no mundo todo jogam luz na direção feminina desde 2010 e na importância das mulheres também se verem representadas nas histórias.
As mulheres se empoderaram dentro da sociedade na última década como pessoas, como capazes, como consumidoras e como donas de suas escolhas. Meninas, mulheres e senhoras querem se ver na tela e na vida como protagonistas.
Foi pensando nesse pequeno espaço que ocupam os filmes realizados por mulheres no Brasil, mas grande talento e capacidade, e no empoderamento da mulher como capaz, como diretora, como dona da história, dona das decisões, e líder de equipe, que foi criado o Selo ELAS – projeto desenvolvido e coordenado por mim dentro da distribuidora Elo Company para fomentar filmes brasileiros dirigidos por mulheres.
Com um grupo forte e experiente de 23 grandes profissionais do mercado audiovisual, formado por homens e mulheres de todas as áreas do cinema (roteiro, direção, produção, montagem, pós-produção, trilha sonora, marketing, distribuição, exibição) que fomentam juntos essa mudança através de consultorias para as diretoras selecionadas buscando potencializar os seus projetos e suas carreiras. E tem dado muito certo.
Em quatro anos de Selo ELAS foram 37 projetos e diretoras atendidas. Cinco filmes lançados – que passaram por grandes festivais pelo mundo e já estão disponíveis no Brasil, outros cinco que serão lançados nos próximos meses, e quatro longas em pós-produção. Cada filme com sua história, sua identidade e seu público.
Todo ano pelo menos metade das diretoras são de fora do eixo Rio-São Paulo, estimulando também um cinema com paisagens e sotaques que representam a variedade do nosso Brasil. Tem filme das cinco regiões do Brasil, com muito orgulho! Entendemos que só assim há realmente um impulso real na cadeia que possa acelerar o mercado nacionalmente.
E a união de forças é essencial para termos resultados maiores e a longo prazo.
O Prêmio Cabíria é hoje um dos principais laboratórios de roteiro do país, com foco em roteiristas e protagonistas, e virou referência de mercado e fonte de onde despontam novos talentos e projetos originais.
O Telecine é um dos maiores apoiadores do cinema nacional na divulgação e promoção de talentos brasileiros, debates e eventos.
Pensando em fomentar o mercado também para as roteiristas mulheres, foi criado em parceria do Selo ELAS com o Festival Cabíria e o Telecine, o Prêmio Selo ELAS Cabíria Telecine 2021 que premiará um argumento de comédia escrito por uma mulher, com o desenvolvimento do roteiro e fomento a carreira de uma roteirista brasileira.
A comédia é um gênero popular e comercial, com menos abertura ainda para roteiristas mulheres no Brasil. Além disso, entendemos que hoje todos nós precisamos rir, afinal “rir é um ato de resistência” e nos ajuda a superar dificuldades e seguir em frente mais leves.
Estamos falando da mulher participar do mercado, das histórias, dos filmes, do protagonismo, de forma igualitária e representativa como a sociedade é composta. E não dominarmos um setor apenas com mulheres, como são os homens em maioria.
Juntos somos mais, para sermos melhores. E seremos.
(*) Barbara Sturm é diretora de Conteúdo na Elo Company e criadora do Selo ELA e assina este artigo especialmente para o TelePadi. Atua no mercado de comercialização de filmes desde 2007. Formada em cinema, participou dos programas internacionais de distribuição CICAE Training e Berlinale Talent Campus. Atuou como programadora no Cine Belas Artes, curadora do Festival Cineramabc (SC), diretora de aquisições na Pandora Filmes, passou pela agência de marketing Pipoca Digital, e em 2017 assumiu como diretora de conteúdo na Elo Company, onde é responsável pela curadoria e negociação de projetos e filmes, e pela criação e coordenação do Selo ELAS – consultorias para fomento a longas-metragens brasileiros dirigidos por mulheres. É professora do curso O Mercado da Distribuição de Filmes, que já teve mais de 15 turmas e 100 alunos, e faz parte do coletivo Asas.br.com.