Adeus a Paulo José e Tarcísio Meira traz ‘O Tempo e o Vento’ de volta
A morte de Tarcísio Meira e Paulo José motivou o lançamento da minissérie “O Tempo e o Vento” (1985), baseada na série de livros de Erico Verissimo, no GloboPlay. O ritmo da produção, que teve direção de Paulo José e eternizou o Capitão Rodrigo Cambará como Tarcísio Meira, é a antítese do frenesi que norteia a teledramaturgia atual, passando longe de cenas clipadas e picotadas.
Como a trilha de Tom Jobim, “Passarim”, feita sob encomenda para a produção da Globo, as pausas são absolutamente respeitadas em longos compassos e planos capazes de contemplar a amplitude da planície gaúcha em belas imagens.
Digo que Capitão Rodrigo foi eternizado como Tarcísio, e não o contrário, porque Tarcísio há de ser lembrado também por outros papéis, mas nunca mais será possível pensar no Capitão Rodrigo com outro rosto que não seja o de Tarcísio. Que me perdoe o Tiago Lacerda, que reviveu o personagem quase 30 anos depois, para a versão da obra de Verissimo em filme de Jayme Monjardim, mas Capitão Rodrigo foi e para sempre será Tarcísio.
Como fiz a besteira de só começar a ler “O Tempo e O Vento” após o lançamento da minissérie, lá nos meus 15 anos, não tive a chance de criar um rosto para Rodrigo Cambará no meu imaginário de leitora. Por mais que eu tentasse, quando lia as linhas sobre o personagem no livro, só me vinha à mente a cara e a voz de Tarcísio Meira.
Na tela, são 26 capítulos de uma obra-prima, onde Glória Pires vive Ana Terra e Lélia Abramo, Lilian Lemmertz e Louise Cardoso dão voz à matriarca Bibiana nas quatro etapas da trama, ao lado de um elenco com 79 atores, algo impensável para os dias atuais, como convém a um épico.
O texto de adaptação é de Doc Comparato. O próprio Paulo José, gaúcho de Lavras, além de diretor, assume um dos personagens da 4ª fase da saga, Alvarino Amaral.
A produção se ocupa apenas das histórias de “O Continente 1”, primeiro dos sete livros da série de Verissimo, que engloba ainda “O Continente 2”, “O Retrato 1”, “O Retrato 2”, “O Arquipélago 1”, “O Arquipélago 2” e “O Arquipélago 3”.
Embora ficcional, a obra espelha personagens que fizeram a história real do Rio Grande do Sul por meio de várias gerações das famílias Terra, Cambará, Caré e Amaral, narrando a formação do estado gaúcho ao longo dos tantos conflitos que forjaram a identidade de seu povo.
Vale a pena ler e reler, ver e rever. E que Rodrigo Cambará nos proteja de todo o mal deste país.