Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Alan Severiano dá uma aula de perseverança no Jornal Nacional

Alan Severiano no boletim diário sobre Covid no Jornal Nacional. Foto: Reprodução

Por Sérgio Ribas

 

Alan Severiano é a imagem da resiliência e da perseverança no Jornal Nacional. Há mais de dois anos no time de reservas para apresentar telejornais na Globo, o jornalista agora se destaca, em dois minutos, como titular absoluto na equipe do noticiário mais importante do país.

Na atualização diária dos dados da vacinação e da pandemia desde janeiro, Severiano consagra, a cada aparição, a adequação de um estilo –de postura mais discreta e contida– sob medida para o momento.

Meio repórter, meio apresentador, o jornalista aprimora e atualiza, de um jeito pessoal, o padrão da emissora. Pela constância da pauta e regularidade da presença, tira proveito da repetição-treino como recurso para melhorar.

Na perspectiva histórica, ele é o porta-voz de maior visibilidade da iniciativa inédita do Consórcio de Veículos de Imprensa –formado pela Folha de S.Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, O Globo, G1 e Extra, que surgiu como resposta à incapacidade e má vontade do estado na produção e divulgação de informações confiáveis.

Ao tratar de doença-vacina durante longo período, Severiano ainda injeta, em rede nacional, um antídoto regular, de uso contínuo, contra a peste das fake news, o mal de uma época. “São mentiras”, costuma dizer calmamente.

Com DNA de jornalista old school e zero saudosismo, ele consegue, por pior que sejam o mapa e as notícias –perdas aos milhares e imunizantes a conta-gotas–, seguir adiante. Disponibiliza a informação, se não como cura, pelo menos como “remédio”. Amargo, mas necessário.

O apresentador-repórter passa longe do exibicionismo de carisma à revelia, da simulação de casualidade ou do vozeirão-empáfia, hipervalorizados em um passado recente e distante. Firme e maleável, indica trilha mais austera, única cabível na quantificação da tragédia.

O jornalista estava em uma fase estratégica e ascendente da carreira quando, como o resto do mundo, deu de cara com a pandemia. Escalado para cobertura da Covid, fez a clássica adaptação em que “obstáculo” vira oportunidade. Resiliente e comedido, renovou disposição, determinação e empenho.

Há vinte anos na Globo, data que comemorou em maio (veja abaixo), Severiano materializa com maestria, no JN, a primeira lição de qualquer boa aula de telejornalismo.

Ao olhar para a câmera, imagine-se numa janela que se abre para contar um caso para o seu vizinho. É a descrição clássica e definitiva da naturalidade necessária na televisão.

O detalhe é que o “caso” que Severiano tem para contar no momento é duro, duro de ouvir. E, tecnicamente, também não é nada simples verbalizar textos que são números, percentuais e estatísticas. Todo dia. Entre a vida e a morte.

Com uma “cola” de papel no bolso do terno bem cortado, Severiano já viu o equipamento em que lê as informações não funcionar e ainda assim conseguiu controlar-disfarçar a pane-nervosismo para terminar sua tarefa sem perder o rumo. Sabe que os percalços, às vezes, são o próprio caminho. No caso dele (confira abaixo), percorrido com honra e mérito.

ORIGEM E MOVIMENTO

A trajetória de Alan Severiano é um deslocamento bem-sucedido sob o pretexto da realização profissional. De Natal, ele se mudou para São Paulo meses depois de concluir o curso de jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte no fim da década de 1990 e sempre foi motivo de orgulho local. Em 2013, quando estreou como correspondente internacional em Nova York, cumprindo o protocolo-plano de carreira na emissora, ganhou manchete no noticiário regional, no Novo Jornal, com uma reportagem de Jalmir Oliveira. “Alan, nosso homem na Big Apple”.

O COMEÇO DE TUDO

Em maio de 2021, Severiano fez um registro público, nas redes sociais, para comemorar duas décadas de trabalho na Globo. Uma história com muitas histórias, nas palavras dele, no despertar do novo milênio. “(…) Os celulares-tijolões viviam ‘fora de área’ e a redação avisava pelo rádio quando surgia uma nova missão urgente. Era ouvir o ‘bip-bip’ que o coração disparava. E 2001 foi quente de notícias. Eu fazia reportagens para o SPTV e revezava as madrugadas com o Bom dia SP. (…) a caminho de Osasco, chegou a notícia do ataque às torres gêmeas. Adrenalina a mil, mudança de rota para o consulado americano. Entramos ao vivo sobre a repercussão e o reforço na segurança. Um pequena mas orgulhosa participação na cobertura daquele 11 de setembro histórico”, escreveu.

A VIDA PELA NOTÍCIA

O jornalista tem vivido intensamente cada detalhe da experiência de sobreviver a uma pandemia. Já precisou, no trabalho, adequar-se às imposições da realidade. No combate de notícias falsas para estimular a população a se vacinar, foi a voz escalada, no jornalismo, para ecoar o slogan da campanha Vacina sim. Não funcionou porque, na hora H, não tinha vacina para todo mundo e o ponto não era querer ou não querer. Era não ter. Também compartilhou ansiedades e expectativas quando, quietinho na fila, chegou a hora de receber sua dose, feito comemorado publicamente, claro, inclusive ao vivo.

OUTRAS PERSPECTIVAS

Se a semeadura é livre, a colheita, obrigatória. Em momento de reconhecimento, Severiano foi recentemente convocado para apresentar, pela primeira vez, um telejornal nacional, o Jornal Hoje. Isso depois de substituir Carlos Tramontina à frente do regional SPTV2. Tão logo apareceu na bancada, o jornalista virou sujeito de notícias nos moldes de “Fulano é promovido na Globo”. Degrau por degrau, porque ninguém vira âncora da noite para o dia, fez questão de documentar as circunstâncias com uma citação elogiosa para a titular Maju Coutinho. Comportamento idêntico teve ao devolver o bancada para Tramontina, evidenciando a alegria e o simbolismo de ter o companheiro de volta depois da longa ausência para se proteger na pandemia.

AOS MESTRES COM CARINHO

A mesma reverência com que trata os titulares dos espaços que ocupa ocasionalmente, Severiano parece cultivar no corre-corre do dia-a-dia. Na pausa para um café, ganhou um presente. Encontrou, juntos, “três grandes mestres da reportagem, todos vacinados”, como fez questão de escrever: “Bubu (como carinhosamente chamamos o José Roberto Burnier), Caco (Barcellos) e Grazi (Graziela Avevedo)”. “Um privilégio conviver com esses três! Ensinam fazendo”, acrescentou, no texto que acompanha a selfie-tietagem.

O ALICERCE DO TEXTO

Leitor perspicaz e sensível, Severiano sabe que a boa performance na TV depende necessariamente do texto bem escrito, tal qual ele faz. Para esse fim, a leitura é meio eterno. Sintonizado em palavras e causas da atualidade, ele cita eventualmente, nas redes, autores como Conceição Evaristo. Dela, destacou, do livro “Poemas da recordação e outros movimentos”, versos de “Inquisição”: “Enquanto a inquisição/interroga/a minha existência,/e nega o negrume/do meu corpo-letra,/na semântica/da minha escrita, prossigo.”

REGISTRO EM VERSOS

Reflexivo, o jornalista cria “interlocuções” na comunicação online para compartilhar observações criativas e sensíveis do cotidiano, quase como um refúgio da estridência do noticiário. Com a imagem de uma lua crescente, deixou escapar melancolia com poesia na legenda: “Pedaço da última lua do primeiro verão completo/ pandemia inacabada que tira pedaço e completa um ano/de-s-per…diç//a-do/#d es-p e\\da…çad-o.”.

A DEVOÇÃO AO JORNALISMO

Em outra publicação, ilustrada com manchetes sobre a pandemia, a testagem e as vacinas, Severiano comemorou o 7 de abril, data que ninguém lembra, mas é, na agenda de efemérides, o Dia do Jornalista. “Tenho orgulho da profissão que abracei e que me abraçou, e isso fica mais claro nesse momento difícil que o mundo enfrenta. O jornalismo não produz notícias – boas ou ruins. O jornalismo apenas informa à sociedade o que as pessoas, individual ou coletivamente, fazem e que afeta a vida de outras pessoas: fatos que têm interesse público. Parabéns pelo Dia do Jornalista aos colegas que, sem querer, na rua ou nas redações, ensinam apurando, ouvindo, entrevistando, escrevendo, falando, contextualizando. Que tenhamos uma sociedade mais consciente e, consequentemente, notícias melhores para dar.”

 

*Os trechos atribuídos a Alan Severiano (acima) foram publicados pelo jornalista ao longo dos últimos meses em uma rede social (@aseveriano) em que ele tinha 37,3 mil seguidores em 27 de agosto de 2021, cerca de 10 mil a mais que em janeiro de 2021, quando estreou como titular do boletim diário sobre a pandemia no Jornal Nacional.

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