GloboNews alcança nível de excelência em debates
Embora a CNN Brasil tenha proposto uma seção intitulada O Grande Debate, a presença de alguém obrigado a desfilar argumentos contrários a outro participante nem sempre produz ideias úteis ao repertório de quem procura entender as razões alheias. Mas, como aqui já foi dito antes, o fato de a CNN Brasil alertar para a utilidade das divergências como avanço no pensar de cada um foi uma grande inspiração à GloboNews.
Não faz muito tempo, o Casseta & Planeta zombava do canal de notícias do Grupo Globo ao mostrar debates em que os três convidados de um programa concordavam entre si, algo improdutivo para fomentar ideias e argumentos contraditórios, sem falar no tédio que aquela cena gerava.
Todo esse nariz de cêra aqui foi desenhado para aplaudir o GloboNews Debate, com os civilizados e bem informados Júlia Duailibi e Octávio Guedes. A edição de domingo (12) trouxe à tona uma sucessão de posicionamentos contra ou a favor da Lava-Jato, e por conseguinte, de méritos x acertos de Sergio Moro, potencial candidato à presidência da República.
A proposta de de valorizar divergências não se cumpre apenas com a presença de convidados que pensem de modo distinto, de preferência, antagônico. É preciso que os condutores da conversa saibam pontuar as contradições e fragilidades no discurso de cada convidado, o que Duailibi e Guedes fazem com louvor.
A ocasião reuniu Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado criminalista, supercrítico da Lava-Jato, Carlos Feranando, ex-procurador, defensor da operação, e a juíza Renata Gil, presidente dos magistrados brasileiros. O GloboNews Debate já teve edição sobre as direitas e outra de economia com Nelson Barbosa e Hélio Beltrão, igualmente bem abastecidas de argumentos e provocações controversas.
É preciso que o contraditório se apresente de modo civilizado, sob argumentos, longe dos xingamentos que represam grandes discussões e inibem a chegada do raciocínio a um pensamento defensável, por quem que seja.
Que bom que a GloboNews vem demonstrando meios interessantes de promover o que se possa chamar de “debate” na faixa comandada por Duailibi e Guedes, o que nem sempre acontece no canal.
CACOETES A CORRIGIR
Na contramão de toda a boa percepção trazida pelos debates comandados por Duailibi e Guedes, circula em redes sociais um trecho do GloboNews Em Pauta em que o cientista político Luiz Fernando Abrúcio foi bruscamente interrompido pelo apresentador Marcelo Cosme quando desfilava as vantagens do governo Lula na percepção do bolso da população. Abrúcio tentava explicar a Mônica Waldvogel, que havia lhe feito uma pergunta, o alto nível de intenções de votos para o ex-presidente nas pesquisas, lançando em cena os méritos da ascensão social promovida nos governos do petista.
“A piora no Brasil nos últimos cinco, seis anos, foi muito grande”, disse Abrúcio. “Um pouco mais de 50% dos eleitores brasileiros são das classes D e E. Essas pessoas têm a memória do governo Lula. Acabou aquela discussão de antipetismo, esquece. Elas colocaram filhos na faculdade, tinham emprego, tinham estabilidade de vida, é isso que favorece o Lula. Uma segunda coisa é que ele conseguiu entender o discurso que a população mais pobre quer.”
Cosme então interrompeu Abrúcio: “Professor, muito obrigado, eu vou ter que interromper porque eu tenho que correr pra Brasília pra uma informação que acaba de chegar, mas eu agradeço muito a sua ajuda, um grande abraço e boa noite pro senhor.”
A seguir, o âncora ameaçou dar uma informação sobre Jair Renan Bolsonaro, mas titubeou. “Só um pouquinho, gente… O que é pra eu chamar aqui?”, questionou, tropeçando na alegada urgência. “Ah, o Senado acaba de decidir o nome que vai para o Tribunal de Contas da União”, completou ele.
Nem tudo é perfeito, mas pode melhorar. Nesses dias em que as redes sociais replicam cortes como este, convém ter mais cuidado para despachar um entrevistado.