Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Liga ou desliga: o que vale a pena ver?

Almir Sater, o chalaneiro Eugênio de 'Pantanal', ao lado de Erom Cordeiro: fala pouco e fala tudo / Reprodução GloboPlay

Felizmente, temos bons motivos para sintonizar a TV ou conteúdos de TV de plataformas diversas, e sempre tendo a escrever sobre o que vale a pena. Mas como me propus a dizer o que nos motiva a ligar ou a desligar a tela, devo consumir algunas linhas com meu espanto por ‘Reis”, atual produção bíblica da Record, e meu deslumbramento com “Pantanal” e outras cenas.

 

LIGA

  • A entrevista de Lázaro Ramos ao Roda Viva é uma aula sobre a necessidade de termos negros na frente e por trás das câmeras, como acontece agora com “Medida Provisória”, um dos bons filmes que entram em cartaz no cinema nesta quinta (14). Está disponível no YouTube. Basicamente, o ator e diretor explica por que os negros são uma demanda de mercado, não apenas social.
  • Também disponível no streaming, essa, via GloboPlay, ainda é tempo de se debruçar sobre os takes, os diálogos e a sensibilidade exposta na nova versão de “Pantanal”, que tem texto final de Bruno Luperi, com base no original do avô dele Benedito Ruy Barbosa. O elenco é primoroso, sob direção de Rogério Gomes, o Papinha, mas ainda me apego a Enrique Diaz naquele retrato doloroso do  brasileiro injustiçado, o Gil; às pílulas filosóficas placidamente proferidas por Almir Sater a bordo da chalana de Eugênio, seu persongem, e à atuação de Irandhir Santos como velho Joventino.
  • Falei em “Medida Provisória”, uma das boas estreias da semana nos cinemas, e recomendo também “O Traidor”, coprodução brasileira com a Itália de Marco Bellocchio, o diretor, além de França e Alemanha. O enredo focaliza o calvário do mafioso Tommaso Buscetta na delação de seus ex-parceiros na Cosa Nostra, organização siciliana, e do juiz Giovanni Falcone, cuja trajetória absolutamente em nada poderia, jamais, ter servido como qualquer paralelo à atuação de Sergio Moro na Lavajato, é importante que se diga. Maria Fernanda Cândido vive Cristina, terceira mulher de Buscetta, que viveu e foi preso no Brasil em duas épocas distintas, sendo extraditado para a Itália.

DESLIGA

  • Ainda que novelas bíblicas não sejam o meu forte, confesso, era possível notar algum valor dramatúrgico em produções como “Gênesis”, “Apocalipse”, “Jesus” e “Os Dez Mandamentos”, a melhor de todas –não por acaso, de maior audiência na Record. “Reis”, a atual produção do gênero na rede de Edir Macedo, sofre com a falta de nomes competentes no elenco. É muito inglória a missão de três ou quatro bons atores para carregar o restante nas costas, principalmente diante de um texto tão raso, de diálogos primários e personagens estereotipados.
    Ainda que o público consuma facilmente o maniqueísmo e se permita enganar com a esperança de que as pessoas se dividem entre mocinhos e vilões, “Reis” ultrapassa todos os limites de uma narrativa crível: a prostituta é a própria demônia, pronta para tirar do eixo o bom marido. Socorro.

 

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