Globo busca geração perdida para outras telas
A iniciativa da Globo em antecipar suas estreias pela internet, via Globo Play, é algo que parece irreversível nas estratégias traçadas pela empresa. Depois de promover o lançamento de grandes apostas por sua plataforma na web, como as séries “Justiça” e “Supermax” (que teve os 11 episódios liberados de uma só vez para assinantes), vem aí “Aldo”, minissérie editada a partir do filme “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”, e “Dois Irmãos”, grande produção em 10 episódios, baseada na obra homônima de Milton Hatoum, com direção de Luiz Fernando Carvalho. Todas terão estreias exibidas antecipadamente pela Globo Play, a começar por “Aldo”, que chega à TV no dia 3, segunda-feira próxima, com previsão de desembarcar na Globo Play na véspera.
Ao longo do ano, já sabemos que o mesmo acontecerá com “Brasil à Bordo”, novo seriado de Miguel Falabella, e “Filhos da Pátria”, série de Bruno Mazzeo, com direção de Maurício Farias, protagonizada por Alexandre Nero e Fernanda Torres.
A estratégia faz parte de uma série de ações que têm como propósito resgatar um público cada vez maior perdido para outras telas, público este que inclui significativa parcela de jovens. Pela primeira vez, em mais de quatro décadas de liderança, a Globo se vê forçada a anunciar sua existência a novas gerações, gente que cresceu sem saber muito bem se o “Fantástico” é na Globo, no SBT ou na Record, gente sem noção da soberania da marca Globo. Em resumo, gente que não ligou a Globo desde criancinha porque já não havia nada para criancinhas naquele canal.
“É uma reconquista que a Globo tem que fazer”, admitiu Maurício Farias ao TelePadi. Após testemunhar jovens gritando em níveis histéricos por criaturas exóticas de séries estrangeiras, youtubers e super heróis, durante a ComicCon, nicho onde a Globo tem todo o interesse em penetrar, questionei o diretor do “Tá no Ar” e da série “Filhos da Pátria” como atrair aquela gente para a frente da tela da Globo. “A Globo sempre teve uma audiência de largo espectro, do público jovem até pessoas mais velhas, e continua, mas acho que a Globo, ao longo desses anos, apesar de ainda ter muita audiência jovem, ela deixou de cultivar esse público porque deixou de produzir para esse público. O jovem se interessa pelas coisas da Globo porque acha interessantes as coisas mais adultas que passam lá, mas muito pouca coisa é feita pra ele”.
Citei a ausência de programação infantil na Globo, gênero que desapareceu da emissora há quatro anos, o que muitos atribuem ao rigor de uma legislação que cerca com restrições cada vez maiores a publicidade relacionada à criança. “Essa carência da programação infantil é um dilema”, concorda Farias. “É uma questão muito séria: a Globo é uma empresa privada, que visa o lucro, que visa o negócio, não vive do Estado, e ela tem que fazer o que o mercado pede e torna possível fazer. Quando a legislação retirou a possibilidade de ter anúncio para criança em televisão, matou a programação infantil, e a Globo foi muito criteriosa em obedecer e obedece rigorosamente a legislação. Com a falta de anunciantes, não pode produzir. A internet veio dar um outro pontapé nisso, virou definitivamente uma opção para quem não tinha o que ver. A Globo está tendo que se reaproximar desse público.”
O diretor, que esteve na ComicCon, aliás, no início de dezembro, se disse entusiasmado com a reação daquele público aos anúncios lá feitos para a nova temporada do “Tá no Ar”, que estreia no fim de janeiro, e à chegada de novas séries, como “Zózimo” e “Filhos da Pátria”, ambas dirigidas por Farias.