Um brinde ao ‘dentista de estrelas’ que usa a fama para levar sorrisos a quem não tem
Dentista de formação e profissão exercida, Fábio Bibancos é aquele sujeito com competências extras que são de valor inestimável para qualquer atividade. É excelente Relações Públicas, por exemplo, dominando como poucos a arte de contar histórias e de promover grandes encontros, talento que, aliado a sua eficiência técnica, explica o sucesso do time de pacientes que conseguiu reunir.
Faz uma festa como ninguém. E hoje é dia. A celebração começa quase no fim da tarde e invade a segunda-feira, 22 de maio, quando ele completa 60 anos com corpinho de 30 e um sorriso largo, perfeito, cativante, cercado de gente de todo tipo: ator, procurador de Justiça, advogado, atleta, cantor, dramaturgo, arquiteto, médico, jornalista, enfim, gente que cruzou até o Atlântico para cantar parabéns ao presidente da Turma do Bem, Ong que é hoje o maior programa social de Odontologia do mundo.
É isso. Paulistano do Ipiranga, Bibancos se tornou o maestro de uma rede de voluntariado que espalha sorrisos por dezenas de países da América Latina e chega até Portugal.
Dono de uma clientela estelar em sua clínica no bairro paulistano da Vila Mariana, endereço que nasceu com uma portinha e hoje ocupa metade de um quarteirão, o ortodontista se viu incentivado a abrir até uma sucursal na Barra da Tijuca, a fim de facilitar a ponte aérea do pessoal que dá expediente regular ali em Curicica, nos Estúdios Globo.
Entre Rio e São Paulo, atende grifes como Marco Ricca, Fábio Assunção, Tarcisinho, Adriana Esteves, João Vitti, Valéria Alencar, Guilherme Arantes, Marisa Orth, Marcelo Adnet, Rodrigo Lombardi, Renato Góes, Lázaro Ramos, Marina Sena, Luciana Braga, Lu Curtiz, Adriana Birolli e Preta Gil, sem falar nos nomes que já passaram um período da vida naquelas cadeiras.
De repente você entra na clínica e dá de cara com Guilherme Arantes tocando piano, cercado por profissionais de jaleco entoando que “amanhã será um lindo dia” e tal. Acontece.
Mas, aqui pra nós, o doutor achava meio cafona esse negócio de “dentista das estrelas”, título estampado invariaveolmente por publicações de saúde ou de celebridades para atrair os cliques do algoritmo ou, como se dava antigamente, para vender revistas.
O negócio foi usar esse cartão de visitas para difundir a ideia que sempre lhe interessou mais: levar dentes a quem não tem.
A Turma do Bem nasceu oficialmente em 2001, mas suas primeiras ideias vêm da década de 1990. A proposta inicial era convocar dentistas a se voluntariar para cuidar gratuitamente do tratamento odontológico de jovens entre 11 e 17 anos de idade sem recursos. A proposta foi ganhando adesão incentivada por premiações e planejamentos organizados pelo maestro dessa orquestra, no caso, o aniversariante do dia, e se estendeu a mulheres e transexuais que são vítimas de violência doméstica.
Em 2006, Bibancos venceu o prêmio Empreendedor Social, iniciativa concedida pela Folha e pela Fundação Schwab, em cerimônia no Museu de Arte de São Paulo. Hoje, a Turma do Bem já contabiliza mais de 84 mil pessoas atendidas, por meio de uma rede que soma mais de 18 mil dentistas voluntários. Interessados em participar da triagem podem procurar o site da Ong.
Como diz a letra de Marcelo Fromer e Nando Reis, Jesus não tem dentes no país dos banguelas, e todo o trabalho da Ong se concentra em sanar a falta que um sorriso faz na vida das pessoas. Tive a oportunidade de acompanhar algumas edições de premiações do Melhor Dentista do Mundo, evento promovido pela organização da Turma do Bem, e de participar do júri de uma das seleções de finalistas.
Os profissionais são avaliados não só pelo número de pacientes que atendem, mas principalmente pela capacidade de angariar outros voluntários e de operar transformações nos ambientes onde atuam, considerando também o nível de recursos oferecidos por seus municípios. Trabalhar em grandes centros urbanos costuma ser menos complexo do que em lugares afastados, sem água ou saneamento.
Há todo um contexto com critérios precisos a serem observados.
Nos cuidados com menores, é latente o estrago causado por dentes podres ou tortos a adolescentes que sofrem bullying ou têm vergonha de beijar na boca em razão do mau hálito. Já no trabalho feito com vítimas de violência doméstica, impressiona observar como os dentes são o primeiro alvo do agressor.
O sorriso é a primeira coisa que se quer matar para sufocar a autoestima de alguém, e só quem não tem acesso a um tratamento odontológico sabe calcular o que isso significa. Resgatar a dentição é o primeiro passo para se retomar um estado mínimo de bem-estar.
É esse o ponto que faz de Bibancos uma figura adorada por pacientes ciosos de seus sorrisos, ponto crucial para a fama que os abastece, sem que dentista e clientes cogitem fazer dessa relação um festival de permutas, como acontece com certa frequência entre tantos famosos e seus fornecedores ou médicos.
Ao contrário. Ao ver no doutor alguém disposto a trabalhar de graça para quem não pode pagar por aquilo, o pessoal nem pensa em trocar tratamento por menção barata nos Instagrams da vida, o que só fortalece o afeto da clientela por ele.
Bibancos também fez livro para crianças, dando papo reto sobre cáries em “A Guerra dos Mutans”, obra que ganhou os palcos em peça de teatro, com narração de Iara Jamra.
O trabalho da Turma do Bem já foi pauta de uma série de programas na TV, de Clodovil a Jô Soares e Serginho Groisman, e a premiação e suas ações sempre contam com a presença de personalidades dispostas a apoiar a causa para jogar holofotes sobre o tema, como João Vitti, Rodrigo Santoro, Mel Fronckowiak, Eriberto Leão, Natália Timberg e Chico Buarque.
Oxalá doutor Fábio siga adiante e bem adiante com sua Turma do Bem, com saúde, amor e humor, que ele tem de sobra. Abaixo, fica a dica do canal que ele mantém no YouTube com prestação de serviços sobre assuntos que interessam a todos nós, que gostamos de sorrir.