‘Senna’ entrega à plateia o valor mais cobiçado pela indústria do entretenimento: emoção
Maior produção já realizada pela indústria do audiovisual no Brasil, a minissérie “Senna” chega à Netflix nesta sexta-feira (30) e, antes mesmo da estreia, já despertou incontáveis comentários e publicações em tom de debate. Muito se discute sobre verossimilhança entre dramaturgia e vida real, obra de uma inevitável idealização do personagem central.
Esse potencial de engajamento provocado pelo assunto só endossa a força mítica da figura de Ayrton Senna e a capacidade da produção em despertar aquilo que é mais caro à indústria do entretenimento. A principal pergunta que se faz diante de um enredo dramatúrgico, principalmente quando há altas cifras de investimento envolvidas no negócio, como é o caso da vez, é: a cena emociona a plateia?
Sim, minha gente, emociona muito.
Por isso, não importa tanto se Senna foi o heroi resenhado pela megaprodução da Gullane para a Netflix. Mais relevante é a capacidade de manter o espectador fascinado diante da tela, sem respirar. A julgar pela première promovida na terça-feira (26) no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, quando foram exibidos os dois primeiros dos seis episódios da minissérie, “Senna” cumpre com louvor esse critério.
Eu, que nada entendo de F-1, vi a sessão especial ao lado da amiga Alessanda Alves, comentarista da BandNews FM sobre a categoria e grande especialista no tema, tendo inclusive conhecido o Ayrton da vida real. Concordamos que a produção romanceia o personagem, mas saímos da sala extasiadas, querendo mais.
É claro que, como toda história que se baseia em fatos reais, “Senna” se apega a um fio condutor de verdade para recontar a história do tricampeão mundial morto há 30 anos, na inesquecível batida da Curva Tamburello, no circuito de San Marino, na Itália. Compete a roteiros baseados na realidade que os fatos mais públicos da trajetória retratada não esbarrem em distorções grotescas. Mas muito do que o público não testemunhou e do que os holofotes não iluminaram está sujeito à inventividade dos roteiristas.
Embora a Netflix não tenha anunciado o valor gasto na produção, circula entre profissionais do mercado audiovisual que o investimento beira os US$ 250 milhões. Certo é que esta seja a produção mais cara da gigante do streaming até hoje já realizada no Brasil.
A reprodução das corridas é algo fora da curva – desculpe, leitor, não resisti ao trocadilho infame.
Por mais que as câmeras possam ser posicionadas em condições e espaços que são inviáveis na transmissão de uma corrida de verdade, a perfeição de ângulos, fotografia, sonorização e edição é algo impressionante.
Em determinada sequência, a câmera mira uma singela tarturaninha atravessando a pista, enquanto o ronco dos motores se aproxima, prenunciando o atropelamento. É um plano que bem pode ser tratado como exemplo de ostentação, no melhor sentido, da megaprodução.
O envelopamento dos carros traz de volta a exposição de grandes marcas da época, algumas já extintas e outras que resgatam um mundo nem tão distante assim regido sob regras completamente diferentes para a propaganda de cigarros.
A caracterização de Gabriel Leone, o protagonista, alcança um nível de excelência igualmente raro nas produções nacionais. E a performance como ator honra com êxito o make up.
O roteiro, assinado por Álvaro Campos, Álvaro Mamute, Gustavo Bragança, Rafael Spínola, Thais Falcão, com texto final de Bragança, dá seus pulinhos didáticos para contemplar quem conheceu e quem não conheceu o tricampeão da zona norte de São Paulo. O acento do protagonista, nascido no Rio, não compromete o sotaque do personagem real, mesmo porque a presença do paulistano Marco Ricca, que interpreta seu Milton, o pai do piloto, não o deixa esquecer dos erres e esses ditos na Pauliceia.
A direção é de Vicente Amorim e Julia Rezende, com direção-geral de Amorim, e produção dos irmãos Gullane – Fabiano e Caio -, todos orgulhosos, com razão, por levar ao mundo uma realização que nada deixa a dever às melhores séries internacionais.
A Netflix informa que “Senna” consumiu mais de uma década da concepção até a finalização, tendo sido filmada ao longo de seis meses entre Brasil, Argentina, Uruguai, Reino Unido e Mônaco. Envolveu uma equipe de mais de 3 mil pessoas de 8 países e um elenco que somou um total de 231 atores e atrizes de 9 países, representando 18 nacionalidades, além de mais de 14 mil figurantes. Foram 325 diárias de filmagens.
A série contou com apoio da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), que cedeu imagens de arquivo e autorizou a reconstituição das corridas, pódios, logos da F1, uniformes e a decoração de cada autódromo.
Quem é quem na série
- AYRTON SENNA, tricampeão mundial de Fórmula 1 (Gabriel Leone/19-34 anos), (João Bravo/13 anos), (Antônio Menqui/4 anos)
- MILTÃO, pai deSenna (MarcoRicca)
- ZAZA SENNA, mãe de Senna (SusanaRibeiro)
- VIVIANE SENNA, irmã de Senna (CamilaMárdila)
- LILIAN, ex-mulher de Senna (Alice Wegmann)
- GALVÃO BUENO, (GabrielLouchard)
- XUXA (PâmelaTomé)
- MAURINHO, amigode Ayrton (Christian Malheiros)
- TCHÊ, preparador de motores de kart (Hernan Lopez)
- REGINALDO LEME (Miguel Roncato)
- ADRIANE GALISTEU (JuliaFoti)
- LAURA HARRISON (Kaya Scodelario)- repórter fictícia
- ALAIN PROST (Matt Mella)
- RONDENNIS,chefe da McLaren (Patrick Kennedy)
- JEAN-MARIE BALESTRE, dirigenteda FIA e FISA (ArnaudViard)
- FRANK WILLIAMS, fundador da Williams (Steven Mackintosh)
- OSAMU GOTO, engenheiro e ex-diretor da Honda (KeisukeHoashi)
- PETER WARR, ex-chefe da Lotus (RichardClothier)
- SID WATKINS, Médico-chefe da Fórmula 1, que socorreu Senna no acidente que vitimou o brasileiro (Tom Mannion)
- KEITH SUTTON, fotógrafo de Fórmula-1 queacompanhou Senna (JoeHurst)
- TERRY FULLERTON, companheiro da equipe de Kart de Ayrton Senna (RobCompton)