Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

TV Globo anuncia vantagens de ‘Supermax’ na GloboPlay, em intervalo da mesma ‘Supermax’

supermax

Enquanto exibia o 1º capítulo de ‘Supermax’, na noite desta terça, a TV Globo aproveitou um intervalo comercial para avisar que o público poderia ver 11 dos 12 episódios daquele mesmo produto antecipadamente, já disponíveis em seu serviço sob demanda, o Globo Play. É uma situação inédita, deparar-se com uma tela que anuncia um título seu em outra tela. Vá lá. É preciso pagar R$ 12,90 por mês e alguém há de lembrar que, no fim da soma, os dividendos continuam nos cofres do Grupo Globo. Mas o cálculo, mesmo para eles, nunca foi tão óbvio assim. Até bem pouco tempo atrás, havia quem tratasse os braços das ainda chamadas Organizações Globo como concorrentes da TV aberta, soberana no faturamento e financiamento do resto do grupo, e mais soberana ainda na seara da TV sob demanda. Temia-se que a própria Globo estimulasse a mudança de hábitos de um público viciado em ver televisão linear.

Pois não é que veio uma tal de Netflix e já chegou arrastando quarteirão? Vieram serviços de streaming de programadoras internacionais e nacionais, gente perdendo rapidinho a mania de não sair de casa para ver determinado programa, e a Globo se rendeu. Rendeu-se tarde, mas em tempo de tentar salvar esse barco. O alcance do serviço por demanda pode parecer enorme entre alguns círculos. Também não é para tanto, dirão os institutos de pesquisa, que mensuram em menos de 10% o consumo da TV sob demanda via internet. Contribui, para este quadro, o péssimo serviço de banda larga vigente no Brasil e, claro, um poder aquisitivo que permita a muita gente pagar alto pelo melhor streaming.

De todo modo, a mudança desse comportamento tem acontecido em velocidade maior que a média dos serviços de banda larga e não há mais como esperar para botar o show à disposição da plateia. É preciso que toda uma geração que vem perdendo o hábito de sintonizar um canal já esteja conscientizado de que a Globo também pode ser Netflix ou HBO GO, cobrando por isso um preço, como fazem os demais serviços do gênero.

‘Supermax’ é um título mais que adequado para levantar a bandeira que mira o público jovem ou gente que só vê o que quer na hora que quer, onde quer. Com atores pouco conhecidos no elenco e um Pedro Bial na apresentação do que parece ser um genérico hard de BBB, parte do público demorou a entender, e alguns nem entenderam ainda, se aquilo é ficção ou reality. Aí se perguntam: o que a Cleo Pires e a Mariana Ximenes estão fazendo ali? Mas elas não estão gravando a novela das 7, ‘Haja Coração’? Particularmente, é uma coincidência que me incomoda. Vá lá que o público prioritariamente cobiçado pela Globo em ‘Supermax’ dispense essa ilusão de ver um ator fazendo um único personagem por vez num mesmo canal, mas não é por isso que se deve abusar da imaginação da plateia. Gravada antes mesmo que as meninas começassem a fazer o folhetim das sete, colocando as duas em personas completamente distintas apenas quatro horas antes, ‘Supermax’ não tinha data certa para estrear e não poderia esperar pelo fim da trama, por questões estratégicas na grade da Globo. Além disso, há exibição prevista lá fora de uma outra versão do formato, dirigida pelo cineasta argentino Daniel Burman, no mesmo cenário da versão original, construído nos Estúdios Globo, no Rio. O ‘Supermax’ hispânico já tem parcerias com a TVP, na Argentina, e também com México (TV Azteca), Espanha (Mediaset Espanã) e Uruguai (Teledoce).

Noves fora, a confusão feita entre reality e ficção é até proposital. Pior que o equívoco de escalar duas atrizes que estão no ar em outros papéis é a falta de planejamento para uma 2ª temporada de um produto desse naipe. A cobiça pelo público que vê TV sob demanda pede que a Globo pense mais longe, como qualquer Netflix e HBO, planejando os tais arcos dramáticos que permitam o  desdobramento daquele enredo em três, quatro ou até mais temporadas. Diretor artístico e um dos criadores de ‘Supermax’, José Alvarenga Jr. relatou a um grupo de jornalistas que visitaram o set, ainda em julho, que não há 2ª temporada prevista. Disse que, se vier uma outra safra, talvez seja feita por outra turma, já que ele e a dupla de escritores, Fernando Bonassi e Marçal Aquino, cocriadores do título, já estão envolvidos em outros projetos.

É um desperdício imaginar que uma produção capaz de mobilizar parcerias internacionais e uma respeitável sala de roteiristas (a writing room, como nas séries americanas) se encerre em uma única temporada.

 

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Cristina Padiglione

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