Gregório Duvivier estreia dia 5 na HBO e promete que ninguém será poupado
Ao apresentar detalhes de seu novo programa na HBO, o “Greg News”, Gregório Duvivier foi questionado se o seu posicionamento de esquerda poderia comprometer o humor ali apresentado.
“Tá muito comprometido”, admitiu, rindo. E explicou: “Acho que um dos motivos da decadência daquele jornalismo tradicional é a decadência da imparcialidade. Acho que o jovem já não acredita na imparcialidade. A gente tem uma dificuldade enorme de parecer imparcial. Não existe fato sem interpretação. O programa é uma interpretação dos fatos muito enviesada porque parte de mim e de toda essa equipe, comprometida com um pensamento, com a forma de pensar de cada um, mas a gente não vai poupar ninguém por afinidades ideológicas. É muito fácil não poupar ninguém porque as pessoas não estão se poupando. Eu enfrento isso volta e meia. Para alguns movimentos sociais eu sou extremamente direita, trabalho na ‘Folha’, num canal gringo, e ser acusado pelos dois lados é excelente para o humor.”
“No Brasil”, continua Gregório, “a gente tem muito medo de tomar partido, de política. Eu não sinto na pele as consequências disso, sinto na internet, mas internet é uma terra de ninguém. Faz cinco anos que não entro na seara de comentários, e mesmo que sentisse, a gente não tem que fazer as coisas pra ser gostado ou não. Será que John Oliver é neutro? Ou Jon Stewart é neutro?”
O programa é uma versão brasileira do “Last Week Tonight”, que John Oliver apresenta na HBO americana, sempre com base no noticiário da semana. Os produtores da HBO Latin America no Brasil, Maria Angela de Jesus e Roberto Rios, assim como Gregório, apontaram a ausência de algo parecido por aqui. Será o primeiro programa da HBO aqui com periodicidade semanal. O pacote acertado com Gregório inclui 20 episódios. Uma nova temporada, ou a continuação do programa, vai depender do resultado dessa primeira safra.
“Humor é o contrário da isenção, o humor serve contra o medo. Serve pra gente se expor.”
“Então, o programa parte da premissa da parcialidade, não vamos tentar enganar ninguém.”
“Greg News” será gravado dois dias antes de ir ao ar, vasculhando lacunas mal exploradas pelo noticiário, com leitura bem humorada sobre isso. “Homofobia não está em pauta, racismo não está em pauta. Dá pra discutir PT X PSDB, assuntos que não estão tirando o direito de ninguém. Quando atravessa essa fronteira do humano, já não dá pra discutir. Nosso objetivo é muito correr atrás do que não está sendo dito. O objetivo do programa é trazer um pouco de dúvida. E vai me transformar numa pessoa menos ignorante, eu não vou deixar de ser ignorante, se eu conseguir passar isso nesse programa, o quão ignorante a gente é, eu terei ganhado uma batalha.”
Para quem não tem HBO, uma degustação de dez minutos do “Greg News” estará sempre disponível no YouTube no sábado, dia seguinte à sua exibição na HBO, e na HBO Go, só para assinantes, inteiro logo após ir ao ar.
A equipe de redatores é comandada pela economista Alessandra Orofino e conta com Antonio Engelke, Arnaldo Branco, Bruno Torturra (do Mídia Ninja), Carol Pires, Denis Russo Burgierman, Gustavo Suzuki e Renata Corrêa. Advogados também fazem parte da equipe, segundo Roberto Rios, mais por questões de direitos de imagem envolvidos na produção do que por receio de processos. Maria Angela ressalta que o objetivo é fazer um humor crítico, mas não ofensivo. “Estamos experimentando na prática essa linha, às vezes tênue, mas muito possível de ser alcançada”, diz. Quando comparamos o nível de desprendimento dos americanos com o dos brasileiros no campo do humor, encontramos vários processos judiciais aqui motivados por gente ofendida com piadas e imitações, o que não se dá nos Estados Unidos. Para Roberto, a “livre expressão é um músculo a ser exercitado”: quanto maior a prática, mais solidez ele ganha. Oxalá todos os produtores de TV pensassem assim.
Gregório estende a verve política, assunto que lhe interessa desde os 2,5 anos de idade, quando compôs uma musiquinha falando de Sarney. “A gente tem que parar de acreditar que a política é algo que acontece em Brasília, em São Paulo, nos palácios, e acreditar que acontece na rua, tudo é política, acredito muito nas micropolíticas e como a política vai se dar nas escolhas políticas. É o que você consome, o que você diz. O modelo de representatividade está falido, e isso tem a ver com Trump e Le Pen. Achar que já fiz minha tarefa política porque fui lá e votei não dá certo. Você não pode achar que entregou o trabalho pra outra pessoa e a ela vai te representar maravilhosamente. Tem que fazer política com as próprias mãos.”
“No meio dessa reflexão a gente precisa de um pouco de humor, rir é uma forma de pensar, por trás do objeto do riso sempre se ri de alguém e a escolha do riso é uma escolha política.”