Vídeo de Gentili contém misoginia, avalia coordenador de Direitos Humanos da OAB-SP
Ao rasgar uma notificação extra-judicial, documento recebido da deputada Maria do Rosário (PT-RS), o apresentador Danilo Gentili não cometeu qualquer crime. Na avaliação do advogado Martim Sampaio, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, rasgar a notificação em si não é nenhum problema: “o problema são as considerações que ele faz acerca da pessoa, a forma misógina, vulgar que ele enfrenta isso”, afirma. Em vídeo distribuído por seus perfis nas redes sociais, o apresentador do SBT focaliza um envelope que recebeu do advogado da deputada, mostra parte do texto da notificação (uma reação a uma série de comentários seus no Twitter), rasga os papéis em pedacinhos e depois os coloca dentro da cueca, junto à genitália, para então envelopar os papéis rasgados e reenviar o envelope de volta à deputada.
Martim Sampaio é doutor em Direito pela PUC-SP e mestre em Direito Internacional pela PUC-SP. “A deputada disse que iria processá-lo, quem vai dar a última palavra é a justiça, ela vai dizer se foi ou não crime”, completa Sampaio. Mas, continua, “na minha opinião, foi uma atitude misógina, desrespeitosa”. “Misógina por quê? Porque quando ele focaliza a palavra ‘deputada’, ele suprime algumas sílabas e reduz (a palavra) a uma outra condição (‘puta’).” Além disso, lembra o advogado, há vários homens nas mesmas condições de Maria do Rosário, no poder, que não sofrem esse tipo de ataque.
Em seu perfil no Twitter, a deputada reagiu: “Sofri outro ataque daquele que se diz comediante. Comprova viés machista e autoritário. Criminoso vai responder à Justiça. E assim será.” Gentili a provocou: “Vossa excelência Maria do Rosário: já chegou aí a correspondência? E o cheirinho? Tava do agrado?” Gentili é endossado por Alexandre Frota, que aproveita o caso para debochar de “Jean Willys a putinha de Brasília” (sem vírgulas, contrariando seu interesse em Educação), pedindo que Danilo envie também a ele uma correspondência, mas com “o saco dentro”.
Martim Sampaio enfatiza que se Danilo “tem alguma crítica ao partido da deputada, se ele tem alguma crítica a ela, é um direito dele se manifestar”. “Agora, o que a gente não pode é rebaixar o nível da política, da discussão política à discussão de botequim, isso não., Eu acho que ele tem todo o direito, como qualquer cidadão brasileiro, de manifestar seu desagrado em relação a esse ou àquele deputado, se você acha que o deputado é corrupto, ok, isso é um direito de qualquer um de nós. Até aí, não vejo nada demais, mas a coisa extrapola quando ele diz o que diz e posta em mídia social.”
“Ele vai se ver num problema bastante embaraçoso”, acredita o advogado, “sem emitir juízo de valor, mas vejo que ele extrapolou na crítica que ele dirigiu à deputada. Ela é uma mulher, é um ser humano e merece respeito como qualquer um, mesmo que ela seja culpada de algum delito relacionado a dinheiro ou corrupção, mesmo isso, ela merece o nosso respeito. Na minha modesta e humilde opinião, a gente deve combater no campo das ideias, não ofendendo ou chamando de prostituta, disso ou daquilo, isso é terrível.”
Ao final, Gentili convoca o espectador a jamais fazer o que um parlamentar quer. “Pra Maria do Rosário ou pra qualquer outro deputado de qualquer outro partido. Eu pago o seu salário, então eu decido se você cala ou não a boca. Nunca o contrário. Você que está assistindo isso, nunca admita que qualquer deputado, prefeito ou governador diga se você pode ou não falar alguma coisa. Eles são funcionários de vocês, não vocês deles. Sendo assim, Maria do Rosário, chegando a minha cartinha, abre elas (sic), quando receber a minha cartinha, veja o conteúdo, sinta o cheirinho do meu saco, abra a bunda e enfie no meio dela tudo aquilo que eu tô enviando pra você.”
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP acredita que Danilo, como pessoa pública e grande influenciador dos jovens, deveria ter mais consciência de seu papel. “Infelizmente, a discussão sobre política no Brasil está alcançando o nível mais baixo que já se viu. Ele, como pessoa pública, deveria ter consciência do papel dele, como cidadão, ele tem influência social, a juventude o imita, isso pediria um pouco mais de comedimento.”
A deputada Maria do Rosário já foi alvo de misoginia por parte do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), com uma frase que se tornou emblemática para a causa: “conseguiu colecionar detratores e ela é uma vítima preferencial desse tipo de ataque, principalmente pelo fato de ela ser mulher, porque há vários homens que também estão no poder, como ela, e não sofrem esse tipo de ataque.”Só não te estupro porque você não merece”.