Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

‘Lei do Amor’ aposta no trivial

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Romance interrompido por artimanhas alheias é ponto certo em toda novela, com raras exceções. Em ‘A Regra do Jogo’, por exemplo, de João Emanuel Carneiro, essa não era a tônica. Em ‘Babilônia’, de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, tampouco. Já em ‘Velho Chico’, o par Teresa e Santo foi pretexto para nortear todo o fio do enredo e as reflexões dali sugeridas.

Em ‘A Lei do Amor’, primeira novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, que entra no ar nesta segunda, 3 de outubro, o romance interrompido entre Helô e Pedro, papéis de Cláudia Abreu e Reynaldo Giannechini a partir da metade do  quarto capítulo, honra à risca o clichê mais indispensável da telenovela. A questão social – ela é pobre, ele rico – aparece como fator determinante para o início do romance. O par se reencontra mais velho, ela casada com um cara rico, mas do mal, e há de enfrentar outros obstáculos para buscar o Happy End.

Com um elenco repleto de grifes e elementos clássicos, a Globo espera inflar a audiência do horário, que vem perdendo espaço desde que a Record passou a produzir tramas bíblicas. Tarcísio Meira, que esteve de corpo presente no 1º capítulo de ‘Velho Chico’, mas foi lembrado pelo retrato, como o patriarca dos Saruês, coronel Jacinto, até o último capítulo da novela anterior, agora se apresenta fisicamente essencial à história. Ele é o pai de Pedro, empresário que já se envolveu em política até o teto e que agora, arrependido (assim como aconteceu com Afrânio no final de ‘Velho Chico’), quer passar a vida a limpo e também vai partir para a delação premiada. Oxalá a arte inspire a vida real. Não vimos nada parecido com esses dois exemplos noveleiros. Na Lava Jato, só aparece para dedurar os antigos comparsas quem está já com a corda no pescoço. Não há redenção moral em jogo, longe disso.

Temos aqui o filho de sindicalista (Ricardo Tozzi), que será suspeito de um atentado, e um contexto bem ABC, só para ficar na esfera Lula da vida real. São Dimas, a cidade fictícia da trama, é uma espécie de Santo André ou São Bernardo.

O elenco tem Tarcísio, tem Vera Holtz, tem José Mayer, tem Cláudia Raia, mas o que promete se apresentar como respiro que atrai os exaustos telespectadores para a frente da TV, a essa altura da noite, é o par formado por Otávio Augusto, o senador da vez, e Grazi Massafera, no papel de uma bonitona interesseira. E tem humor, item que pouco frequentou o folhetim anterior.

Pelo histórico de Maria Adelaide, pode-se esperar por movimentação capaz de instigar o pensamento do telespectador, não tanto como aconteceu em ‘Velho Chico’, de um engajamento muito acima da média, mas há a perspectiva de elementos pra alguma reflexão. O formato, no entanto, é o mais tradicional possível, e o enquadramento na direção artística de Denise Saraceni foge de pretensões inovadoras. A vida segue seu rumo de novela das oito. Ainda que atualmente seu horário seja das nove, a receita vem daqueles tempos em que o programa ia ao ar mais cedo.

 

 

(foto: Reinaldo Marques/Divulgação)

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