Por Cristina Padiglione | Saiba mais
Cristina Padiglione, ou Padi, é paga para ver TV desde 1990, da Folha da Tarde ao Estadão, passando por Jornal da Tarde e Folha de S.Paulo

Falta entusiasmo à nova novela das 9

 

Chay Suede e Isabelle Drummond

Chay Suede e Isabelle Drummond

Antes de mais nada, prefiro votar sempre pela pluralidade – de ideias, estilos, plataformas e o que mais for bom para engrossar o caldo e temperar o espírito.

Mas, depois de nos habituar à cena documental com uma série como ‘Justiça’ e nos carregar ao imaginário de um quase realismo fantástico, na Macondo de ‘Velho Chico’, a Globo nos põe diante de um painel muito cenográfico, no mau sentido, com o primeiro capítulo de ‘A Lei do Amor’. A nova novela das nove surge no atual contexto como um anticlímax, e a gente só tem certeza que o controle remoto não saltou de canal porque lá está Tarcísio Meira, no seu melhor momento Tarcísio Meira, a nos lembrar que aquilo não é nem realismo fantástico nem cena documental. É novela mesmo. É como se pudéssemos ver, do lado de cá da tela, toda a parafernália que cerca aquela imagem, em estúdio ou set, seus refletores, cabos, contrarregras e maquiadores, em um ambiente falsamente produzido para tanto. Os atores ditam suas falas sem tropeços, sem engasgos, com uma certeza que a vida real não nos permite. Falta aquela surpresa de quem não sabe o que outro vai dizer, todo mundo rebate o diálogo na ponta da língua, certo do que o interlocutor vai falar. Falta a pausa, a respiração, um titubear, um mínimo de surpresa.

A casa da mocinha Helô (Isabelle Drummond), um barracão à beira do lago que se avizinha da mansão dos ricos malvados, é mais pobrinha que o casebre dos avózinhos do pequeno Charlie da ‘Fábrica de Chocolate’ – faça-se a ressalva de que o filme é uma fábula.

É de se esperar que a história de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari nos surpreenda, nas cenas dos próximos capítulos, mas o acabamento do script não empolga. Não se espera que a produção seja comparável a ‘Velho Chico’ ou ‘Justiça’, de estilos absolutamente distintos, isso não. Só que falta aqui a visceralidade que transbordava nas outras duas, e até na novela das sete, ‘Haja Coração’, uma comédia rasgada.

Indício de que o texto pode salvar a narrativa foi o diálogo entre Fausto (Tarcísio) e os filhos sobre política, e a informação de que ele, até então um empresário, vai se candidatar à prefeitura local, o município de São Dimas. É claro que qualquer semelhança com o perfil do novo prefeito de São Paulo, empresário que se elegeu na véspera da estreia, é só coincidência, e uma coincidência feliz – ao menos para a ficção. Essa ficção já estava gravada e sacramentada antes do voto real. Convém notar é que Fausto foge do tom Fla-Flu para compreender a opção à esquerda que se manifesta nos jovens, instigando nos filhos algum idealismo que os motive. “Até eu era de esquerda, na minha juventude”, diz Tarcisão.

Na contramão dessa embalagem que se pretende muito direta e sem rodeios para a massa, a abertura é nobre, empacotada em muito bom gosto, mas, de novo, sem apelo, sem clamor, sem visceralidade, sem tempero. Falta amor à lei.

 

 

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